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Uma das características peculiares da crise em que vivemos é sua capacidade de, em seu próprio desenrolar, recolocar problemas que, já manifestados em momentos anteriores, davam a impressão de terem sido superados. Dessa forma, fenômenos que pareciam particulares a uma conjuntura específica, voltam à tona com força e, ainda que trazendo consigo características novas, acabam por provocar uma estranha sensação de déjà vu. Candidaturas competitivas de candidatos bizarros de extrema direita, catástrofes ambientais “inesperadas”, multitudinárias mobilizações feministas, paralisia e medo na busca de alternativas políticas. Eis alguns exemplos de casos que marcaram a conjuntura dos últimos anos que, identificadas suas recorrências, nos permitem questionar a respeito de seu componente estrutural.

Esta e a próxima edição da Revista Movimento propõem revisitar alguns temas recorrentes da conjuntura brasileira e mundial que foram objeto das análises nela veiculadas ao longo dos últimos oito anos desde quando foi publicada, pela primeira vez, em 2016. Para isso, apresentamos aos nossos leitores uma seleção de artigos já publicados, seja em nossas revistas mensais ou trimestrais, seja em nosso portal online que, pelas características acima descritas, e talvez infelizmente, ainda guardam enorme atualidade.

A edição deste mês de agosto, intitulada Teoria marxista: o diverso em unidade, reúne textos teóricos de alguns dos mais importantes intelectuais marxistas da atualidade que, em artigos ou entrevistas, buscaram conferir sentido e apontar saídas políticas aos acontecimentos que se desenrolaram no mundo ao longo desta quase uma década. Esperamos, com ela, poder evidenciar os aspectos comuns e a relação de fatos sociais que, vistos a olhos nu, por vezes se apresentem como confusos ou desconexos.

Os textos desta edição estão divididos em cinco grandes seções. A primeira delas, Marxismo e o feminismo para os 99%, traz uma coleção de entrevistas e discursos de algumas das mais importantes feministas marxistas contemporâneas, no Brasil e no mundo, atuantes na academia e na política institucional, a respeito da relevância, da potência, e dos desafios desse movimento. Em Marxismo e ecossocialismo, resgatamos dois textos originalmente publicados por nossa revista no início da pandemia de Covid-19 em 2020 que, levando em considerações algumas situações limite, fazem refletir sobre a relação da humanidade e do modo de produção capitalista com aquilo que se convencionou a chamar de “natureza”.

Em Marxismo e neoliberalismo, por sua vez, apresentamos aos leitores textos que, de perspectivas orientadas desde a teoria sociológica e a teoria política, analisam o mundo social e político para propor formas de enfrentamento à extrema direita. Já na seção Marxismo e crítica da ideologia damos um passo atrás para debates teóricos que, embora menos colocados à conjuntura imediata, tratam de temas de extrema importância para a compressão do universo da cultura sob o capitalismo: a arte e a religião. Finalmente, em Marxismo e política, a reflexão teórica se volta uma vez mais para a atuação política prática e fornecer subsídios para de interpretações históricas e políticas para nos auxiliar a enfrentar os desafios do presente. O leitor perceberá que, à frente, no início de cada uma das seções, apresentamos mais detidamente o conteúdo delas, seus textos e autores.

Como sempre, desejamos uma boa leitura!

Pedro Micussi é doutorando em Economia (Unicamp) e membro da equipe editorial da Revista Movimento.