Sobre as manifestações do 30 de junho

Apesar da disposição de luta demonstrada por setores de vanguarda da classe trabalhadora, a sexta-feira esteve distante de uma efetiva greve geral.

Secretariado Nacional do MES 30 jun 2017, 21:44

As manifestações dessa sexta-feira (30/06) contra o governo e as reformas foram desiguais no país. Apesar da disposição de luta demonstrada por setores de vanguarda da classe trabalhadora, a data esteve distante de uma efetiva greve geral. O desmonte por parte de algumas centrais sindicais foi responsável por uma manifestação de qualidade inferior às jornadas anteriores. Vínhamos de uma escalada crescente, iniciada com o 8 de março — Dia Internacional das Mulheres –, que teve um impulso em 15 de março, chegou ao ápice na maior greve da história recente do país, em 28 de abril, e na ocupação de Brasília. A desidratação foi nítida em comparação com a potencialidade e, mais ainda, com a necessidade de uma greve superior que pudesse colocar a derrubada do governo e a paralisação do trâmite das reformas no Parlamento.

Isso se deve à falta de preparação por parte das direções majoritárias do movimento sindical para a convocatória do dia 30. Depois de quase um mês de trégua, o “esquenta” que deveria ser um dia de lutas em 20/06 não ocorreu em nenhuma grande cidade. Também pesou a hesitação, sem confirmar a data uma semana antes do 30, onde desfiguraram a greve como tal para passar para um dia indeterminado de lutas, deixando as categorias sob o risco de perderem dias de trabalho, confundindo setores da vanguarda e, na prática, enterrando a hipótese de uma greve próxima ao que tinha sido a anterior.

A Força Sindical e a UGT desconvocaram diretamente a greve através de notas e comunicados, por conta de sua postura de negociar o imposto sindical com Nogueira e Temer. Contudo, a razão fundamental foi política, expressa na linha do PT e da CUT Nacional – ainda que existam setores da CUT que atuaram e não respondem diretamente a essa orientação.

Existe um esforço por uma negociação ampla em curso, com os interlocutores tratando de mostrar suas intenções num acordo nacional para liquidar a Lava Jato, salvar o regime e os corruptos e negociar as reformas. Isso esteve evidente na defesa dos advogados do PT e do PMDB contra a cassação de Temer pelo TSE. A principal referência política das direções sindicais majoritárias do país, Lula, teve como estratégia desmontar a greve, não chamando protestos de rua pelo fora Temer.

Isso fica evidente pelas últimas decisões de setores do Judiciário, que querem caminhar para uma repactuação com os principais partidos do país (PMDB, PT, PSDB). Não é coincidência que na mesma semana que tenham absolvido a Vaccari, Temer ataca Janot e nomeia uma procuradora-geral da República afinada. Também nessa semana Aécio ganha o direito de ser reconduzido ao Senado e Rocha Loures acaba de ser liberado da prisão.

A declaração de Lula defendendo Temer e atacando Janot em entrevista à Radio Jovem Pan coroa essa sinalização: “Se o procurador-geral da República tem uma denúncia contra o presidente da República, ele primeiro precisa provar. Tem que ter provas materiais”.

Uma forte greve geral não ajudaria a estabilizar o país num quadro onde se busca esse tipo de negociação. Felizmente ainda não há unidade de toda a burguesia nem de todas as instituições do regime para terminar a Lava Jato. E fundamentalmente, há no Brasil uma luta em curso dos trabalhadores, dos setores populares e juvenis que não deu sua última palavra

Mesmo com o desmonte prévio, houve paralisação em algumas cidades importantes como Salvador, DF e Belém — onde o transporte cumpriu um papel determinante –, mas o geral foi um dia de lutas sem que o conjunto das funções não fosse interrompida no setor de serviços, indústria e circulação.

Tal condição foi chave para a intervenção das forças policiais, que desfizeram os piquetes na maior parte das rodovias e garagens do país. Tivemos dezenas de detidos, presos e feridos. A justiça também apertou seu garrote, como no caso do Rio Grande do Sul, onde um interdito proibitório intimava PSOL e sindicatos para não atuarem nos piquetes, sob pena de multas e outras ameaças.

Apesar de falta de uma ação nacional unificada, houve disposição de luta e ações em muitos pontos. Cortes de avenidas e rodovias aconteceram em diversas regiões do país. Em São Paulo, o MTST organizou um forte ato no aeroporto de Congonhas, ocupando o terminal e expressando o repúdio contra as reformas de Temer. Houve marchas, animadas em parte por servidores públicos e juventude nas capitais e cidades médias.

Do ponto de vista político, apesar da simpatia popular à luta contra a reforma, a falta de um contorno mais categórico contra a corrupção e em defesa da punição para os corruptos nas bandeiras dos atos também afasta um setor da massa de uma luta mais geral para tirar Temer.

A disposição de luta segue consumindo a opinião pública contra Temer, apesar do revés provocado pelas direções do movimento de massa. Os dados da crise social são alarmantes e a crise política está longe de ser estancada.

Devemos seguir um calendário de lutas e passeatas para derrubar Temer e suas reformas, dando centralidade para a pauta da corrupção, construindo a unidade mas também se diferenciando dos setores vinculados com a casta.

Precisamos também de outro modelo sindical, democrático que abandone a estrutura cupulista, ainda atrelada ao Estado, sustentada por um imposto indevido. É preciso uma revolução sindical que coloque com força o problema da auto-organização, da construção cotidiana e não apenas em “dias de festa”. A esquerda combativa no movimento sindical, agrupada dentro e fora da CSP Conlutas, precisa dar ênfase para o problema democrático e para a atuação dentro dos locais de trabalho. A esquerda social precisa avançar na sua capacidade de associação e enraizamento, ampliando seu alcance, ainda limitado diante das atuais necessidades.

Devemos apoiar as lutas populares em curso, construindo a ponte entre a necessidade de vitórias parciais e um projeto mais global.

Imediatamente, denunciamos a repressão policial e exigimos a imediata soltura de todos os que ainda estão presos — alguns sob a absurda alegação da lei antiterrorista.


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