19-J: Um parlamento resiliente e resistente

Na última crônica catalã, Alfons Bech discute a situação da região após a posse do novo Parlamento.

Alfons Bech 23 jan 2018, 17:35

Inaugura-se um novo Parlamento catalão como um Parlamento que vai resistir à aplicação do artigo 155. Novo Parlamento? Nova situação? Ou a continuidade de uma velha situação?

Na terça-feira, ocorreram manifestações em favor da Liberdade dos presos político e pelo retorno dos exilados nas capitais e na maioria dos povos e das cidades catalãs. Os Jordis, os presos mais antigos da etapa recente, estão há três meses encarcerados. O povo catalão não esquece que estamos numa situação de estado de exceção.

O Parlament acaba de eleger ao Presidente e a Mesa diretora. O jovem deputado da ERC, Roger Torrent, prefeito de um povoado em Girona, Sarrià de Ter, fez um discurso recordando os presos e exilados ao mesmo tempo que defendeu o direito de cada deputado e deputada de debater os temas que cria achem oportunos. Como a presidenta anterior Forcadell. Portanto, debater sobre a independência e a República. Mas não nomeou nem uma nem outra. Equilíbrios sob o 155.

A situação é do mais complicada. Nunca houve um Parlamento da Catalunha eleito sob as ordens de Madri. Mas o resultado das eleições do 21D foi uma vitória política do independentismo e soberanismo e uma derrota das forças unionistas, anti-independentistas, do 155. Estamos, portanto, ante um resultado que, tecnicamente, poderiam ser tábuas. O poder representativo em mãos do republicanismo, mas o poder da força do Estado nas mãos da monarquia.

Agora a batalha política se concentra no Govern que tem de eleito. Junts per Catalunya, a força do President Puigdemont, reclama sua investidura para “restabelecer” a ordem e a instituição da Generalitat prévia ao 155. É sua maneira de lutar contra o 155. ERC aceita a proposta de investidura de Puigdemont, mas não a vê viável. A CUP aceita-a em função do programa que apresente o candidato Puigdemont, ao que pede que se desmarque da corrupção de CDC e do PDCat e algumas medidas sociais. Os Comunes não apoiarão Puigdemont nem a ninguém de Junts per Catalunya, primando a agenda social por cima da legitimidade democrática. E, como era de esperar, a representante de Ciudadanos e os do bloco 155, se oporão rotundamente a que se possa investir a Puigdemont.

Porém o que conta não são os deputados e deputadas catalãs. O que conta é o Estado. Tecnicamente, não há nada escrito de que possa fazer uma investidura não-presencial, nem um Governo com Puigdemont e os Consellers no exílio. Entretanto, as ameaças de suspender o Parlament e convocar novas eleições ao amparo do 155 já estão chovendo do Governo espanhol e desde os meios de comunicação.

Então, ganharam os independentista e soberanistas, a cidadania votou (com candidatos no cárcere e no exílio) e agora… o Estado se nega a que se implemente politicamente o resultado. E a isso se chama democracia? Respeito à vontade popular? Portanto, para que convocaram as eleições se não é reconhecida a validade dos resultados?

Esta legislatura vai ser tudo menos normal. Já não estamos ante a autonomia que havia até agora. Tampouco estamos ante a República que se proclamou em 27 de Outubro… e se congelou. A brutal intervenção do Estado em 1 de outubro e posterior aplicação do artigo 155 desfez toda a trama autonômica. Já estamos num Estado (e um regime)… em transição. Catalunha segue com sua ideia de República, refletida num Parlament resiliente e resistente. O Estado necessita vencer esta resistência, ainda completamente inteira apesar de presos e exilados. E só o pode fazer pela via repressiva. O 155 e o discurso do monarca fechou a via de convencer aos catalães. Agora há mais independentistas que antes do 21D.


TV Movimento

A história das Internacionais Socialistas e o ingresso do MES na IV Internacional

Confira o debate realizado pelo Movimento Esquerda Socialista (MES/PSOL) em Porto Alegre no dia 12 de abril de 2025, com a presença de Luciana Genro, Fernanda Melchionna e Roberto Robaina

Calor e Petróleo – Debate com Monica Seixas, Luiz Marques + convidadas

Debate sobre a emergência climática com a deputada estadual Monica Seixas ao lado do professor Luiz Marques e convidadas como Sâmia Bonfim, Luana Alves, Vivi Reis, Professor Josemar, Mariana Conti e Camila Valadão

Encruzilhadas da Esquerda: Lançamento da nova Revista Movimento em SP

Ao vivo do lançamento da nova Revista Movimento "Encruzilhadas da Esquerda: desafios e perspectivas" com Douglas Barros, professor e psicanalista, Pedro Serrano, sociólogo e da Executiva Nacional do MES-PSOL, e Camila Souza, socióloga e Editora da Revista Movimento
Editorial
FEPAL e Revista Movimento | 15 maio 2025

77 anos da Nakba: leia os editoriais da Revista Movimento e da FEPAL

Tragicamente inaugurada em 1948, a Nakba completa 77 anos no curso da "solução final" levada adiante por Netanyahu e Trump
77 anos da Nakba: leia os editoriais da Revista Movimento e da FEPAL
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Sem internacionalismo, não há revolução!
Conheça a nova edição da Revista Movimento! Assine a Revista!
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Conheça a nova edição da Revista Movimento! Assine a Revista!

Autores

Camila Souza