O carnaval retratou o verdadeiro Brasil

O carnaval demonstrou, com apelo popular, que há um espaço aberto à resistência e às nossas ideias. A tarefa prioritária é derrotar a reforma da previdência, construindo dias de luta em 19 e 28 de fevereiro.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 15 fev 2018, 13:25

A maior festa popular do país não poderia ter sido diferente. Por todo o Brasil, a indignação, a criatividade e a politização de nosso povo ecoaram. Dos blocos à Sapucaí, o que se notou foi uma grande disposição de ocupar as ruas, com muita crítica social e vontade de ação coletiva. O país vibrou com a pequena Paraíso do Tuiuti, quase campeã, que em seu belo desfile denunciou as mazelas da escravidão, a exploração e a violência contra o povo negro, além de apresentar Michel Temer como um “vampiro neoliberalista” e criticar duramente a reforma trabalhista. A vencedora Beija-Flor também fez um desfile crítico, denunciando a corrupção na Petrobrás sem esquecer de Sérgio Cabral e sua “gangue dos guardanapos”.

No carnaval de rua, que a cada ano arrasta mais gente e se espalha pelo país, o ambiente dos blocos não apenas foi festivo, como também houve maior visibilidade para a luta das mulheres por igualdade e contra o assédio. Nossa maior festa revelou que, quando as vias da mobilização política estão interditadas, o povo inventa outras formas de manifestar seu sentimento. A Rede Globo tentou, mas não calou o povo, tendo que mudar a linha editorial do Jornal Nacional no dia seguinte à cobertura envergonhada que fizeram ao vivo do desfile da Tuiuti. E, claro, como já é praxe, quando os repórteres entravam ao vivo, o público atrás multiplicava o grito de “Fora Temer”. O sentimento era de vitória contra os políticos, como Crivella, que chegou a desafiar o carnaval no Rio e terminou dobrando-se ao Rei Momo e fugindo em ridícula agenda para a Agência Espacial Europeia em busca de… “soluções para a violência urbana”.

Alheia ao povo que mobilizou e brincou nas ruas, está a casta política. O “vampiro” Michel Temer levou sua família e uma suntuosa comitiva de dezenas de pessoas para a Restinga de Marambaia no Rio de Janeiro, sob forte vigilância e isolamento da Marinha. Enquanto isto, o Estado fluminense segue sua crise de violência, com a militarização de várias comunidades, saques na zona sul e com as linhas amarela e vermelha várias vezes sendo tomadas por tiroteios e enfrentamentos.

O escárnio da casta é imenso como ficou patente no vídeo em que Cristiane Brasil justifica suas dívidas trabalhistas na presença de empresários sem camisa aproveitando o verão numa iate. Seria trágico se não fosse cômico. Apesar disto, até hoje, o governo federal segue bancando que a filha de Roberto Jefferson assuma a pasta do Ministério do Trabalho, mesmo com a justiça insistindo na revogação de sua nomeação.

Estes são dois retratos do Brasil no começo de 2018: agrava-se a crise social, com os Estados falidos e a violência urbana crescente, enquanto Temer e a casta política seguem suas negociatas para sustentar um governo odiado que conta votos no Congresso para atacar os direitos do povo.

A cartada final da reforma da previdência

O governo mantém o discurso de olhar para frente. A tropa de choque insiste na aprovação da reforma ainda no primeiro semestre. Com condições cada vez mais desfavoráveis, Marun comanda a operação política em busca dos 308 votos, como forma de dar segurança aos mercados, quando o que prima é a imprevisbilidade política e econômica. Os operadores governistas no Congresso, no entanto, seguem batendo cabeça. Alguns citam 19 de fevereiro como data para votação, outros falam no dia 20. Rodrigo Maia, por sua vez, afirma trabalhar com a data de 28 de fevereiro. A base governista sabe que, mesmo com as chamadas concessões no relatório-final, a reforma é amplamente rejeitada pelo povo.

Temer aposta na aprovação da reforma enquanto segue na defensiva com a investigação de corrupção em contratos do porto de Santos. O novo diretor geral da PF, Fernando Segovia, deu declarações afirmando a inocência do presidente e ameaçando veladamente o delegado responsável pelo caso após reunir-se com Temer fora do horário de agendas oficiais. Segovia deu um tiro no pé: o STF vai buscar provas materiais de outros inquéritos anteriores sobre o envolvimento de Temer nesse caso. Inclusive, ainda está em questão se os sigilos telefônico e bancário de Temer serão quebrados.

Nas pesquisas, o cenário não é nada animador para os defensores das “reformas” de Temer, Meirelles e Maia. Sem apoio popular, a pressão dos pesos pesados do mercado e da economia, em aliança com a grande imprensa, é a única via para tentar aprovar a reforma. Trata-se de uma luta num terreno pouco definido. Por isso mesmo, o governo aposta na desmobilização, como na aprovação da reforma trabalhista, quando após um primeiro semestre “quente” as direções das maiores centrais optaram por oferecer sobrevida a Temer.

Nosso bloco tem que estar na rua

O carnaval demonstrou, com apelo popular, que há um espaço aberto à resistência e às nossas ideias. Ainda que isto não se converta em mobilização, como foi a tônica do primeiro semestre de 2017, é hora de apoiar e desenvolver as lutas. A tarefa prioritária é derrotar a reforma da previdência, construindo dias de luta no 19 e 28 de fevereiro. As centrais sindicais precisam romper com a letargia e construir um plano sério de manifestações e greves. O movimento de mulheres, por sua vez, já começa a construir em todo o Brasil as mobilizações de 8 de março que, a exemplo do que ocorreu ano passado, devem ser uma grande demonstração de força.

Ao mesmo tempo, o PSOL precisa sair de sua conferência eleitoral em março com capacidade de intervenção nessa conjuntura: precisamos de uma candidatura que combine as lutas de resistência contra o ajuste ao enfrentamento contra a casta política que “vampiriza” o país e quer impor suas reformas contra os direitos do povo. Trata-se, por isso mesmo, de uma candidatura independente do lulismo, capaz de afirmar um novo caminho para a esquerda socialista e para o povo brasileiro.


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