Segundo turno na Colômbia: por que Duque triunfou?

Dirigentes analisam em dois breves textos as condições que possibilitaram a vitória do candidato direitista no pleito presidencial.

Israel Dutra e Pedro Fuentes 19 jun 2018, 15:11

Comentário sobre o segundo turno na Colômbia

Por Israel Dutra

Os colombianos decidiram, em segundo turno, seu futuro presidente. As últimas pesquisas foram confirmadas pelas urnas. Com a menor taxa de abstenção das últimas décadas (47%), o candidato conservador Ivan Duque resultou vencedor, obtendo mais de 10,3 milhões de votos (54%) contra cerca de 8 milhões de votos (42%) de seu oponente Gustavo Petro. Para fins de análise, resgato o artigo que escrevi quando escrutinado o resultado do primeiro turno: Petro no segundo turno: uma batalha inédita para a esquerda colombiana.

Nesses últimos quinze dias, se aprofundou a tendência a “jogar sujo” por parte da grande burguesia, a imprensa e o comando do aparelho estatal. Em um reino de “fake news”, o objetivo era impedir qualquer crescimento de Petro com base em dois argumentos: o terrorismo midiático sobre os supostos crimes da guerrilha e extrair dividendos eleitorais da crise humanitária na Venezuela, associando Gustavo Petro com regime de Caracas.

Apesar do bombardeio de calúnias, a campanha Petro galvanizou importantes setores progressistas, ganhando apoios importantes de políticos da Aliança Verde como como Clara Lopez(que foi candidata a vice presidenta na fórmula do terceiro colocado, Sergio Fajardo) e o popular Antanas Mockus. Outro apoio chave foi da líder dos direitos humanos e ex-refém das FARC, Ingrid Betancourt. A frente política por direitos, pela mudança na matriz econômica e por um processo de paz participativo e inclusivo ganhou posições na batalha da hegemonia da sociedade colombiana.

A vitória de Duque não pode distorcer o avanço histórico de uma esquerda, mesmo moderada, capaz de provocar uma ampliação do debate entre o social e político. A Colômbia transformada num enclave do DEA, porta-aviões sul-americano dos Estados Unidos encontra-se em vias de ser questionada. Um novo governo conservador será obrigado a implantar um plano de guerra contra o povo, ressoando uma maior polarização. Novas lutas sociais se avizinham. Se não hoje, amanhã. Os tempos estão mudando. Em todo continente.

O que explica a vitória de Duque e a derrota de Petro?

Por Pedro Fuentes

Como destacou o artigo de Israel Dutra pela primeira vez na história colombiana uma eleição transcende os marcos dos partidos tradicionais. O candidato da direita uribista, Iván Duque, enfrentou Gustavo Petro, candidato alinhado com a nova onda de processos políticos que está ocorrendo na América Latina, como a Frente Ampla do Chile ou o MNP do Peru.

A derrota de Gustavo Petro pode ser explicada pelo fato que a classe média – que no primeiro turno seguiu o Sergio Fajardo (centro) e Humberto de la Calle (Partido Liberal) – deu um certo giro e inclinou o pêndulo para Duque. Apesar de fazer 65% de votos a mais em relação ao primeiro turno, Petro ficou a 2,3 milhões de distância do novo presidente colombiano.

A decisão da maior parte da classe média colombiana em apoio a Duque tem muito a ver com a Venezuela. O país, hoje governado por Nicolás Maduro (PSUV), está em uma grave crise e sob um regime bonapartista. Ao contrário dos governos de Hugo Chávez, seu modelo já não inspira confiança às massas. A proximidade entre Venezuela e Colômbia é notável não só geograficamente como também politicamente. Cerca de 600 mil venezuelanos residem hoje na Colômbia, fenômeno migratória ocasionado em grande medida pela crise humanitária que atravessa a Venezuela. Neste contexto, enquanto Duque adota um discurso de endurecimento contra a Venezuela, Petro corretamente defendeu a abertura de uma linha de diálogo com seus vizinhos. Esta proposta, distorcida pela grande mídia, assustou a classe média.

Além disso, vale notar que sempre extremamente improvável a esquerda vencer contra a força do aparelho do Estado. Nestas circunstâncias, só se pode ganhar da direita quando há uma enorme mobilização de massas. Infelizmente, não foi o caso das eleições colombianas de 2018. A direita triunfa outra vez na Colômbia, mas dificilmente terá capacidade para frear o processo antineoliberal que se desenvolve em outros países do continente. Agora, o próximo desafio é o México (leia mais sobre as eleições mexicanas em: Por un frente social y polpitico para detener el contrataque de la oligarquía neoliberal y la derecha.

Artigo originalmente publicado no Portal da Esquerda em Movimento.


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