Quarta greve geral da era Macri questiona o ajuste

Movimento sindical e popular avança contra as medidas neoliberais do governo argentino.

Israel Dutra 26 set 2018, 13:56

A força da greve geral argentina se notou no Brasil e na região. Com aeroportos fechados e dezenas de voos cancelados, a grande mídia se obrigou a noticiar a contundente paralisação geral no país vizinho. Contudo, não foram apenas os transportes que paralisaram, com alta adesão de trabalhadores da indústria e dos serviços. A terça-feira, dia 25, encontrou as ruas de Buenos Aires vazias. O clima nas principais cidades do pais era o mesmo. A quarta greve geral contra o governo de Mauricio Macri foi precedida de uma manifestação na Praça de Maio, na segunda-feira, com dezenas de milhares de ativistas, convocada pela CTA, por setores dissidentes da CGT e acompanhada pelo sindicalismo combativo.

A jornada de greve geral se inscreve num contexto de lutas contra o selvagem ajuste de Macri, o crescimento da bronca social e a expectativa das negociações de um novo acordo com o FMI. Enquanto os piquetes aconteciam nas grandes avenidas e pontes das concentrações urbanas, Macri estava em Nova York para negociar a nova “ajuda” prometida pelo Fundo Monetário Internacional. Justamente nesse cenário, o presidente do Banco Central, Luis Caputo, a quem Macri e a imprensa se referiam como o “Messi” das finanças, abandona o governo, renunciando após três meses e o protagonismo de ter participado do primeiro acordo com o FMI. Os mercados reagiram com perplexidade a renúncia de Caputo. O maior temor é o retorno da corrida cambial que desvalorizou sumariamente o Peso nos últimos meses, levando o dólar ao custo de 40$.

No terreno da luta social, a paralisação teve grande influência do sindicalismo combativo, que garantiu a maioria dos piquetes em todo pais. A força da esquerda social contrasta com a atitude dos dirigentes das centrais sindicais majoritárias, que atuam para descomprimir a crise, diminuindo o peso das ações da classe trabalhadora para levar o descontentamento social para o plano eleitoral. A ação de contenção dos setores da burocracia sindical não trava o ascenso das lutas. Há várias batalhas e conflitos em curso como a do estaleiro Rio Santiago, o hospital Posadas, a agencia de notícias Telam, os mineiros de Rio Turbio e os professores que seguem peleando por melhores condições de trabalho. O sindicalismo combativo, com a presença de agrupamentos como Ancla, sindicatos como Luz e Força, SUTNA (pneumático), vários regionais de professores, mineiros e um amplo acordo de parceiros, se reuniu em Cordoba para postular uma alternativa unitária e um plano de luta.
Ainda se percebe a força do movimento multitudinário de mulheres, que coloriu de verde o país em Agosto, com a campanha pela legalização do aborto. A derrota do Senado não terminou com o movimento, que deixou marcas estruturais. O movimento estudantil também levantou a cabeça e experimenta uma retomada como há muito não se via.

A luta está aberta. De um lado o governo, apoiado em setores cada vez mais reacionários ( ameaçando ativistas e dando bases para um giro repressivo), de outro a resistência “ por baixo”. A aprovação do orçamento de 2019, feito sob encomenda do FMI, é a prova dos nove. Com o congelamento de gastos, inflação e desemprego, tais medidas arruínam milhões de famílias operárias.

Em artigo próximo vamos desenvolver com mais densidade as contradições que se jogam na Argentina. É fundamental acompanhar a luta do país vizinho, mesmo em meio a nossa disputa eleitoral, para ver de conjunto as determinações do continente. Com uma tradição de lutas enorme, com uma cultura operária arraigada e combativa, a Argentina é sempre um ponto decisivo da América Latina. Cabe à esquerda construir e desenvolver a unidade dos setores sociais e sindicais também no plano político para acabar com o ajuste do governo Macri.


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