Seremos livres ou seremos mártires 60 anos da revolução cubana

Sobre a contextualização da situação social e política de Cuba antes de 59 e o legado da revolução.

Leandro Fontes 3 jan 2019, 14:53

A revolução cubana de 59 é, sem dúvida, o episódio mais marcante da América Latina no século XX. No ponteiro dos 60 anos dessa rica experiência, temos que saudar o extraordinário exemplo revolucionário que salvou o povo de Cuba da indigência. Mais do que isso, em tempos de embates ideológicos, onde a extrema-direita agita Cuba como um espantalho é relevante entender as raízes e o drama do país caribenho diante de sua própria história. Essa é razão que localiza a revolução em Cuba como uma necessidade para seu próprio povo. Ao mesmo tempo, esse processo teve um impacto estrondoso em âmbito internacional.

A revolução cubana foi o resultado de circunstâncias históricas e o desenvolvimento ininterrupto da luta – democrática em primeiro lugar – contra uma ditadura voraz ligada umbilicalmente ao imperialismo norte-americano. A libertação de Cuba de tais amarras estruturou a estratégia do Movimento Revolucionário 26 de Julho (M-26-7)[1].

Dessa forma os revolucionários do M-26-7, encabeçados pelo comandante Fidel Castro e Che Guevara, derrotaram o imperialismo no território cubano e deram a largada da revolução socialista em nosso continente. Por essa razão, mas não só, a defesa da revolução cubana (sem salvo-conduto para os erros da direção castrista) passa pela extensão da defesa da revolução na América Latina.

Isto posto, vamos adiante.

Nesse artigo irei abordar um conjunto de pontos que julgo cardeais para a compreensão do processo cubano. Isto é: a contextualização da situação social e política de Cuba antes de 59; a ligação dos pontos que conduziram o movimento revolucionário triunfar; e o legado da revolução.

I. Cuba antes da revolução

A “joia da coroa”

Devido à proximidade geográfica com o sul dos EUA, mais precisamente com a Florida, Cuba se tornou um território cobiçado pelo imperialismo norte-americano. São apenas 90 milhas de distancia entre uma ponta dos EUA e o território cubano. Essa proximidade e a fértil produtividade de cana-de-açúcar transformaram Cuba em alvo de interesses imperialistas já no final do século XIX.

Antes da presença ianque, Cuba era uma das mais ricas colônias escravagistas da coroa espanhola. Já nesse período, devido ao intenso comercio de açúcar, a pequena ilha caribenha desfrutava de certa autonomia para negociar com outros países, principalmente EUA e a Inglaterra. Assim sendo, o comercio não se resumia a metrópole espanhola. Esse elemento é relevante, pois na primeira metade do século XIX ocorreu um up açucareiro no mundo e Cuba ocupou um lugar de destaque nessa produção. Com isso, parte da Ilha teve um ciclo de desenvolvimento econômico. Para prolongar o papel de destaque na produção de açúcar no mercado internacional, o país modernizou seus engenhos e ampliou sua produtividade.

Outro elemento balizador para o desenvolvimento do comercio é a localização geográfica de Cuba. Havana era um porto estratégico que ligava a Espanha as demais colônias das Américas. Sobretudo com passagem para o México. Por essa razão Cuba foi adjetivada pelo império espanhol como a “joia da coroa”.

A Libertação da Espanha

Tal relevância comercial e geográfica, naturalmente não seria valorizada somente por estrangeiros. Setores nativos na década de 60 do século XIX começam a reivindicar a independência do império espanhol. A partir desse ponto, o movimento de libertação nacional se forjou e durante duas guerras, foi acumulando musculatura.

Esse processo teve dois períodos fundamentais: 1) hegemonizado por proprietários de terras; 2) encabeçado por José Martí que organizou o Partido Revolucionário Cubano no exílio e que teve majoritariamente em sua composição social setores médios urbanos, camponeses e assalariados agrícolas.

Para manter a ordem estabelecida, a Espanha reforçou seu exército com temor de perder a ilha com toda sua importância geográfica e econômica. O poderio militar do invasor, sem dúvidas, foi uma das razões pela qual Cuba foi à última colônia (junto com Porto Rico) a se libertar do império espanhol.

A “guerra necessária” iniciada em 1895 teve muitas idas e vindas de ambos os lados até a entrada em cena em abril de1898 do exercito norte-americano, que ingressou no conflito sob o suposto pretexto que o império espanhol havia explodido um navio ianque – o Encouraçado Maine.

Todavia, é relevante destacar que os norte-americanos entram na guerra a partir de um momento que os revolucionários, sob o comando de José Martí, já estavam em vantagem na luta armada. Porém, é um fato que a participação das forças norte-americanas acelerou a vitória do movimento de libertação nacional.

O domínio do imperialismo ianque

Com o fim da guerra e a saída das tropas espanholas do território cubano, foi organizado um tratado em Paris para selar o acordo de paz. Porém, nessa curva da história, os revolucionários cubanos não participaram do acordo e o tratado foi assinado por EUA e Espanha.

Um velho ditado popular brasileiro sintetiza o drama dos revolucionários cubanos: “ganharam, mas não levaram”. Ou seja, saíram os espanhóis, mas o povo cubano seguia subjugado pela força das baionetas de um exercito estrangeiro.

Deve-se agregar que esse período é marcado por uma ofensiva norte-americana sob outros países com perfil similar a Cuba. No mesmo tratado, os EUA ocupam: Porto Rico, Filipinas, Nicarágua (mais adiante) e irá de modo formal fixar-se militarmente em Cuba. Tal ação imperialista comprova que todo esse território era considerado estratégico para os interesses econômicos e militares dos EUA. 

De 1898 a 1902, portanto, Cuba é governada por generais ianques. Apenas no decorrer de 1902 assume Tomás Estrada Palma, o primeiro presidente cubano, igualmente imposto pela força externa norte-americana. Este governo nativo, a rigor, funcionava como uma espécie de fantoche voltado para atender prioritariamente as negociatas de Washington.

Essa política foi estrategicamente costurada e oficializada na Constituição cubana de 1901, que entre outros temas, constava a Emenda Platt[2]. Dessa forma, a ilha ficou ainda mais vulnerável sob a intervenção política, econômica e militar dos EUA.

É dentro desse contexto que a ocupação da base naval-militar de Guantánamo é formalizada. Isto é, a soberania de Cuba estava gravemente ferida. O país se resumiu, na prática, a um protetorado ianque. Até a moeda que circulava no início do período republicano era o dólar. Só posteriormente foi implantado o peso cubano como moeda nacional.

Contraditoriamente, ainda sob a anestesia da expulsão dos espanhóis e do período de paz, dois fatores deixaram a resistência interna com pouco poder de reação: 1) os principais líderes do movimento de libertação, que lutaram ao lado de José Martí, morreram na guerra contra os espanhóis; 2) os norte-americanos conseguem cooptar e/ou domesticar uma parte do exercito revolucionário cubano.

Com esse domínio pleno, o governo fantoche cubano autorizou o mercado de compra e vendas de grandes terras, de usinas, de refinarias e também o estabelecimento de contratos para a construção de ferrovias. Toda essa estrutura, majoritariamente, foi entregue de mão beijada para um punhado de ricaços dos EUA.

Um dado apenas para ilustrar, num país de capitalismo agrário, 75% das grandes fazendas produtivas pertencia a norte-americanos. Os cubanos eram a mão de obra barata e semi-escrava dessas terras.

Ascensão e queda de Batista

Somente em 1933, devido à força de um levante encabeçado por sargentos, a Emenda Platt é revogada e um novo governo assume o país. Embutido nesse movimento surge na historiografia cubana o personagem Fulgencio Batista, um dos sargentos revoltosos que foi parte constitutiva do levante que derrubou o ditador general Gerardo Machado.

A mudança das patentes, ou melhor, a mudança de poder não anulou as contradições do país. Pelo contrário, o próprio Batista foi produto das profundas contradições da casta político-militar de Cuba. Assim sendo, a esperança de mudanças estruturais, embaçadas como uma miragem, logo foi frustrada.

Fugencio Batista, desde então, teve papel chave na política cubana e assumiu a presidência do país em 1940 até 1944. Em seguida, foi morar nos EUA. Regressa a Cuba para se candidatar novamente a chefia do país oito anos após ter sido presidente. Diante das dificuldades eleitorais, mas apoiado pelos grandes latifundiários do país, Batista usurpa o poder com um golpe militar e instaura um regime ditatorial de 1952 até 59. Esse período foi marcado pela suspensão da constituição de 40[3], pela retirada de direitos civis, políticos e sindicais do país. Além disso, esse período igualmente é marcado pela farra da corrupção e pelo saqueio oficial dos cofres públicos de Cuba.

Na resistência ao golpe estava o jovem advogado Fidel Castro. Nessa altura, Fidel, já estava intimamente vinculado com a militância estudantil e com ações de caráter democrático-nacionalista e antiimperialista. Foi membro voluntário da força expedicionária[4] organizada para lutar contra o regime do ditador dominicano Trujillo, nessa experiência toma contato com treinamentos militares. Ao mesmo tempo, Fidel se vinculou ao Partido Ortodoxo – Partido do Povo Cubano[5] -, dirigiu a ala juvenil e mais combativa do partido. Através de jornais e de uma emissora de radio denunciava a corrupção do governo antecessor ao golpe de Bastita. Ainda em 1952, Fidel se candidatou ao parlamento cubano. Todavia, o golpe levou Fidel a concluir que era necessário buscar novos métodos de ação para tirar Cuba da catástrofe social e política.

Nesse extenso processo, em essência, a maioria do povo cubano seguiu estático nas mesmas condições sociais. Isto é, “acorrentado” a um grande índice de analfabetismo e de mortalidade infantil, vivendo na intensa pobreza e sem liberdade.

Esse período foi agravado com uma ofensiva repressiva em grande escala da ditadura Batista. Foram muitas perseguições, prisões, torturas e execuções. Paralelamente, os negócios ianques seguiram intactos.

Com o regime mais endurecido, a partir de 52, Batista aprofundou sua relação com setores da contravenção norte-americana, gente da máfia como Lucky Luciano e o judeu Meyer Lansky[6]. Esses homens dominavam a prostituição, os cassinos e o tráfico de drogas na ilha. Tudo isso com a cobertura e parceria lucrativa do regime Batista.

Cuba, em aparêcia e conteúdo, era uma espécie playground para o turismo dos magnatas. Esse panorama social e político, somado às mudanças na etapa internacional[7] (após a II Guerra Mundial), foi o pavio para acender a chama da revolução dirigida pelo M-26-7, o partido-exercito que tinha em sua cabeça Fidel, além de figuras extraordinárias como o internacionalista Che, Raúl e Camilo Cienfuegos. Todos, revolucionários de primeira hora, sobreviventes do desembarque do Granma em 56.  

II. A Revolução e seu processo de luta ininterrupta

 “Abaixo Batista!, obtenhamos liberdades democráticas para o povo!”

A palavra de ordem acima, agitada pelo M-26-7, deixa nítido o carater democrático da revolução, assim como foi a principal palavra de ordem na Rússia em fevereiro de 17 – “Abaixo o Czar!”.  

A revolução cubana teve sua gênese própria, isto é, um conjunto de elementos combinados que só poderiam se encaixar na situação concreta de Cuba. Porém, ao mesmo tempo, no arcabouço de um processo revolucionário, Cuba não foi “uma exceção às leis gerais que caracterizaram todos os países que foram libertados por meio da guerra de guerrilhas”[8] (como fator decisivo), conforme Iugoslávia, China, Indochina e Argélia.

É importante agregar na descrição o elemento: fator decisivo. Pois, a força das circunstâncias deu forma ao processo cubano. Vejamos, o objetivo inicial era realizar um levante na região de Santiago (Província do Oriente) e desse foco, incendiar a luta em todo o país. Porém, o M-26-7 foi surpreendido pelas tropas oficiais e sofreu uma derrota que lhe deixou com uma enorme baixa. Dos 83 revolucionários que chegaram a Cuba só doze sobreviveram. De toda forma, o bureau da revolução se manteve preservado. Como rota de fuga, os sobreviventes se abrigaram em Sierra Maestra e daí a luta se desenvolveu por meio da guerra de guerrilhas.  

Na Província do Oriente havia uma importante célula urbana dos revolucionários que se somaria em outra frente à ação dos rebeldes (como era chamado o M-26-7). Essa célula foi organizada centralmente por Célia Sánchez[9] e por Frank País[10]. O trabalho prévio ao desembarque do Granma consistiu na organização de uma rede de apoio político e militar aos revolucionários, além de mobilização e conscientização popular nas principais províncias urbanas. Entretanto, a reação oficial desbarata parte da frente urbana e alguns dos seus lideres são presos.

Os presos da célula urbana do M-26-7 são julgados e libertados. A justificativa do juiz da Província do Oriente para a libertação foi, em primeiro lugar, baseada no não cumprimento da constituição por parte do presidente cubano, como consequência, o povo teria legitimidade de se rebelar contra a ditadura Batista.

Apenas um parêntese: o ilustre juiz era Manuel Urrutia, um ferrenho opositor da ditadura. Urrutia tinha relação com setores burgueses contrários a Batista e foi por um espaço curto de tempo presidente provisório de Cuba pós-revolução.

Assim sendo, é nítido que a revolução se desenvolveu em mais de uma frente de combate. Haviam colunas guerrilheiras nas zonas rurais, mas também ações nas cidades, com greves (inclusive gerais) e mobilização do povo. É um mito a leitura que a resolução cubana foi restrita a guerra de guerrilha. A guerrilha foi o fator determinante. A direção do processo. Mas, a liderança do M-26-7 buscou penetração onde havia espaços abertos. Inclusive em unidade de ação com setores burgueses anti-Batista.

Outro elemento pouco apresentado e debatido é que o M-26-7 teve apoio direto e/ou indireto de “nações mais próximas: Venezuela, Porto Rico, Costa Rica e um importante setor do próprio imperialismo ianque”[11]. Até a Igreja Católica apoiou as ações revolucionárias contra Batista.

De tal modo, em Cuba ocorreu uma frente única anti-Batista. A direção dessa frente – reconhecida pelas massas – era o M-26-7, o partido-exercito que agrupava em suas fileiras homens e mulheres, jovens de menos de 30 anos em sua maioria, oriundos da pequena burguesia urbana. Devido a vitórias na guerra de guerrilhas, de batalhas em batalhas, o exercito rebelde foi recrutando novos combatentes no seio da zona rural cubana. Esse efeito, em formas próprias,se deu nas areas urbanas. Conforme Pedro Fuentes descreveu:

“Os triunfos militares da guerrilha, sustentados graças ao crescente apoio popular, culminaram em uma greve geral e uma insurreição em La Habana em 1 de janeiro de 1959 quando o 26 de Julho estava às portas da cidade. O resultado foi que a queda da ditadura através de uma ação militar e insurrecional que destruiu também o exército associado a este regime” [12].

O objetivo central foi alcançado. A ditadura Batista foi derrubada com o triunfo da revolução democrática. Em seguida, diante das agressões de Washington[13] e, principalmente, da batalha da Playa Girón[14] (invasão da Baía dos Porcos), o novo governo revolucionário decide expropriar os expropriadores do povo cubano. Dessa forma, em 1961, a revolução social é iniciada e a burguesia nativa e os ricaços ianques são expropriados. Desse marco nasce o socialismo.

A revolução marcou um novo ciclo de combate ao imperialismo e deu combustível para a expansão das ideais revolucionárias na América Latina. E é importante que se diga: a revolução cubana não teve influência de Moscou. O partido de matriz stalinista cubano[15] não desempenhou papel digno de nota no processo. Pelo contrário, estiveram com Batista até 1957. Portanto, não restam dúvidas que a revolução cubana acelerou a crise de representatividade do stalinismo a nível internacional.

Entretanto, como afirmei acima, a revolução cubana foi fruto de um conjunto de elementos combinados que só poderiam se encaixar na situação concreta de Cuba. Portanto, a generalização esquemática do modelo de guerra de guerrilhas cubano foi um erro que teve consequências graves para uma grande fatia da vanguarda de massas latino-americana, incluindo setores trotskistas. Como dica para compreender melhor esse tema um tanto controverso, recomendo os seguintes textos: “Cinqüenta Anos de Lutas e Revoluções na América Latina”, de Pedro Fuentes. E “Dos métodos frente a la revolución latinoamericana”, de Nahuel Moreno.

III. O legado da revolução

A revolução cubana foi heróica e inverteu Cuba de paygrond gringo a uma nação com moral elevada no cenário mundial no auge da guerra fria. Esse é o fato incontestável. Um elemento objetivo e ilustrativo para qualquer leigo entender que a pequena ilha não sucumbiu à superpotência.

E lembremos: Fidel a frente do M-26-7, ao lado de Che Guevara, teve o mérito grandioso de sempre ir adiante.Esta qualidade foi comprovada nos momentos mais adversos.Diante da agressão voraz do imperialismo ianque, viu-se obrigado a aprofundar a revolução com medidas anticapitalistas na ilha. E assim o fez.

Com apoio do heroico povo cubano, sujeito de sua própria transformação, o país deu saltos extraordinários do ponto de vista da emancipação humana, da dignidade e solidariedade.

A revolução democrática de 59 e a revolução social de 61 transformaram a imagem do país perante o mundo. Cuba se alçou a um país corajoso e independente frente ​ao imperialismo ianque.

Por todo esse simbolismo e tradição de luta ininterrupta anti-imperialista, Cuba se projetou de modo natural como um ponto de resistência. O porém da história contada pelos dominantes. Um ponto de valorização de consciência socialista em tempos difíceis.

Em que pese esses pontos grandiosos, não podemos dourar a pílula. A experiência cubana comprova (mais uma vez) que é impossível o socialismo em um só país. E mais, o isolamento de Cuba na América Latina[16] levou Fidel Castro a sobreviver via adaptação à burocracia soviética. Desde então, nossa corrente política histórica critica Cuba pelas restrições democráticas que foram surgindo e se perdurando. Do mesmo modo, não podemos omitir que em 68, Fidel apoiou a invasão das tropas sovieticas na Tchecoslováquia dando fim de modo brutal a Primavera de Praga. E em 81 apoiou a repressão de Wojciech Jaruzelski, chefe do governo polaco, contra o sindicato Solidariedade. De tal maneira, Fidel não seguiu os caminhos do internacionalismo de Che (herói e mártir da revolução permanente[17]). É importante reconhecer que Cuba se abriu como base de acolhimento e treinamento de grupos revolucionários. Mas, em momentos de decisivos, Fidel preferiu se adaptar nas posições e/ou imposições de Moscou. Um grave erro!

Sobre o país, são nítidas as limitações de Cuba. Mesmo após a revolução, a principal atividade econômica seguiu sendo a exploração de cana-de-açúcar. Seguida pela exploração de petróleo e minério de ferro. O país ainda exporta rum, entre outros produtos. Além disso, o turismo é outro setor importante no hall econômico explorado pela ilha. Deste modo, é cristalino que Cuba é um país pobre e atrasado tecnologicamente e industrialmente. Essa é a realidade. Não há mais o que expropriar na ilha. As conquistas sociais e econômicas da revolução, em particular a educação e a saúde[18] de excelência, são enormemente significativas para o povo cubano e extremamente simbólicas para os lutadores latino-americanos. No entanto, com o embargo econômico e a complexa sobrevivência no isolamento (agravada com o fim da União Soviética em 91) deixou enormes adversidades para o país.

Tamanha dificuldade nos ajuda há compreender melhor o atual estágio de Cuba. Ou seja, diante da problemática do país a direção castrista passou a fazer concessões na direção de abrir a economia já na década de 90. De certa forma, seguindo o exemplo dos chineses. Assim as empresas estatais passaram a responder sob o enquadramento do mercado. Na base da Lei de inversões estrangeiras (1995) as empresas cubanas incorporaram formalmente capital europeu. Há ação da iniciativa privada em Cuba já se faz presente na paisagem da ilha, são novos restaurantes (como a rede Paladares), boutiques, spas e novas edificações. A propaganda do governo castrista afirma que as mudanças são para aquecer a economia, manter os programas sociais e, assim, fortalecer o socialismo. Porém, está dado que Cuba já é um capitalismo de estado. Evidentemente, Cuba está longe, muito longe do capitalismo dirigido pelo Partido Comunista chinês. Ao mesmo tempo, não restam dúvidas que o país hoje é regido por um tipo de capitalismo de estado.   

Contudo, o objetivo desse artigo é de valorizar o triunfo da revolução cubana. Por isso, a crítica apresentada está no marco da incondicional defesa de Cuba frente ao imperialismo norte-americano e os burgueses gusanos de Miami.

Assim o fez Hugo Chávez. Desde seu primeiro momento a frente da Venezuela, ao seu modo, buscou a integração latino-americana e uma relação de parceria solidária com Cuba. Nessa combinação se fortaleceu novamente a resistência ao imperialismo e a identidade de independência latino-americana.

Evidentemente a história não se repete da mesma forma. Estamos apenas no começo de um novo ciclo histórico e desta vez, para muitas e muitos, sem uma referência socialista ou independente para se apoiar. Logo, a responsabilidade está em nossas mãos. Temos que confiar que a luta ininterrupta e a mobilização dos “de baixo” pode avançar contra a dominação “dos de cima. E para isso, o temor da adversidade não nos pode tirar a esperança de vencer. Talvez, nesse ponto, resida o que podemos chamar: a essência do legado da revolução cubana de 1959.


[1] Data símbolo da tentativa de tomada do Quartel Moncada no dia 26 de Julho de 1953. A ação fracassou. Muitos foram mortos, presos e torturados. Contudo, esse episódio deixou sua marca na denominação do movimento revolucionário e também pela autodefesa emblemática de Fidel: “a história me absolvera”.

[2]Emenda Platt foi um dispositivo Constitucional assinado pelo Senado norte-americano em 1901, para garantir que os Estados Unidos pudessem intervir política e militarmente em Cuba.

[3] Agrupava palidamente direitos sociais e democráticos.

[4] A expedição foi interceptada pela Marinha de Cuba. De tal modo, a missão foi abortada sem conseguir chegar ao território dominicano.

[5] Partido era de tipo populista, combatia a corrupção e as multinacionais, mas era limitado programaticamente.

[6] Lansky inspirou o personagem de Hyman Roth do filme O Poderoso Chefão II.

[7] 1945 –1955. Auge dos movimentos nacionalistas burgueses e a primeira revolução operária na Bolívia.

[8] MORENO, Nahuel. Dos métodos frente a la revolución latinoamericana.

[9] Celia Sánches foi à peça chave na solda entre Sierra Maestra e a planície, foi uma das principais organizadoras do M-26-7 e combatente guerrilheira nas montanhas. Integrou o Comitê Central do Partido Comunista – fundado em 65 – e foi secretária de Estado. Destacou-se como uma grande defensora e difusora da cultura e do modo de vida cubano.

[10] Frank País era um membro de grande envergadura do braço urbano do M-26-7. Ajudou a organizar a penetração do movimento na classe operária. Fidel definiu Frank como um jovem de eximiu talento como organizador e estrategista das ações clandestinas do braço urbano. Frank foi assassinado em 57 por soldados de Batista.

[11] MORENO. Idem.

[12] FUENTES, Pedro. Cinquenta Anos de Lutas e Revoluções na América Latina. (http://portaldelaizquierda.com/2016/04/memoria-cinquenta-anos-de-lutas-e-revolucoes-na-america-latina/)

[13] O governo dos EUA rompeu relações comerciais com Cuba. Em seguida Cuba é expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA). Logo após Kennedy decretou o bloqueio econômico a ilha. Paralelamente, a CIA organizou inúmeras tentativas de atentados contra a vida de Fidel.

[14] Em abril de 1961 uma milícia mercenária de quase mil e quinhentos homens (maioria de exilados cubanos), armados e treinados pela CIA, tenta derrubar o governo revolucionário. Porém, as forças revolucionárias cubanas, apoiadas empiricamente pelo povo, derrotaram a invasão mercenária. Após a vitória, Fidel negociou a libertação dos prisioneiros. Para cada mercenário liberto, o povo cubano recebia em troca uma grande quantia de remédios.

[15] Denominava-se Partido Socialista Popular. Somente em 65, sob a direção de Fidel, surge o PC cubano.

[16] Além do embargo econômico, a resposta do imperialismo agregava o incentivo e patrício de golpes militares em grande parte do continente, inclusive o do Brasil.

[17] Se Trotsky foi o profeta e teórico da revolução permanente, Guevara é seu herói, seu mártir. Que cometeu erros, que não era um teórico do calibre de Marx, Lênin ou Trotsky, que exaltou a técnica guerrilheira do foco e as três etapas, “vamos crianças!”, como diriam os camaradas cubanos aos pedantes unidos das confrarias esquerdistas da América e Europa, todos nós sabemos. Rosa Luxemburgo não fica atrás em errar em alguns problemas teóricos e Liebknecht não sabia muito bem o que era dialética, e são, entretanto, grandes do proletariado e da revolução universal. (Moreno: Guevara, herói e mártir da revolução permanente. CADERNO MES – TEORIA DA REVOLUÇÃO. Pág. 70).

[18] Não é uma bravata a qualidade de excelência da saúde pública em Cuba. O renomado cineasta norte-americano Michael Moore no documentário “Sicro – SOS Saúde” retratou esse fato. Cuba chegou a exportar recentemente médicos para o Brasil

[18] Não é uma bravata a qualidade de excelência da saúde pública em Cuba. O renomado cineasta norte-americano Michael Moore no documentário “Sicro – SOS Saúde” retratou esse fato. Cuba, ainda, recentemente exportou médicos para o Brasil.


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