Uma posição de princípios sobre a censura do STF

Somos contrários, por princípio, dentro de uma democracia liberal, a qualquer tipo de censura.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 19 abr 2019, 22:34

A novela sobre a censura imposta pelo STF, por meio de seu presidente Dias Toffoli e do ministro Alexandre de Moraes, parece terminada com a revogação, pelo último, da censura aos sites O Antagonista e Crusoé. 

No despacho inicial de Moraes, a condenação não deixava lugar a dúvidas: os sites teriam “extrapolado (sic) a liberdade de expressão”, quando da publicação de uma notícia de vazamento da investigação da Operação Lava Jato que envolvia diretamente Dias Toffoli. Numa das listas de delação, segundo a notícia, o ministro aparecia com o codinome “amigo do amigo do meu pai” na distribuição de propinas. Marcelo Odebrecht teria indicado, em depoimento recente, que o “amigo do amigo” seria Dias Toffoli.

Nossa posição não deixa dúvidas. Somos contrários, por princípio, dentro de uma democracia liberal, a qualquer tipo de censura. E este precedente, arriscado e perigoso, por parte do STF, é uma deriva autoritária. Se fazem isso contra poderosos sites de direita como O Antagonista, o que não estariam dispostos a fazer contra a imprensa alternativa e independente, quando esta, por alcance e difusão, colocar em risco os interesses dos grandes poderosos e donos do país, como os que comandam a Suprema Corte?

Uma confusão deliberada

O que realmente existiu foi o pavor, por parte de altos membros do STF, da revelação de negócios espúrios. Para tergiversar, os membros da corte montaram uma cortina de fumaça, confundindo as fake news, costumeiramente repetidas pela extrema-direita nas redes, com um fato concreto, que mesmo Moraes teve de reconhecer: a existência do documento vinculando Dias Toffoli ao codinome, num contexto de negociação de propinas da Odebrecht. Não é a primeira vez que se vinculam membros do Poder Judiciário a investigações de corrupção.

Concordamos com a posição editorial do site informativo “The Intercept”, insuspeito por sua conhecida postura progressista e mesmo crítica aos excessos da Operação Lava Jato :

“No entanto, a decisão de Alexandre de Moraes é extremamente perigosa. Em seu despacho, o ministro disse que Crusoé e o site O Antagonista publicaram uma notícia falsa e que extrapolaram a liberdade de expressão. O que Moraes chamou de ‘típico exemplo de fake news’ – a pedido de Toffoli, que pediu ‘a devida apuração das mentiras recém divulgadas’ – é uma reportagem baseada em um documento”.

É inaceitável que, por semear tal confusão, baseada no suposto combate às fake news, a medida autoritária do STF não seja combatida. O Poder Judiciário brasileiro vem cometendo várias arbirtariedades, que só podem ser explicadas no contexto da crise da democracia burguesa e do regime de 1988. O real acorbetamento dos escândalos (estes, sim, verdadeiros) da indústria de fake news na eleição de 2018 demonstra que a sociedade deve estar vigilante.

Houve uma resposta – insuficiente, no entanto – da sociedade. Parte da mídia tradicional, a OAB e mesmo a procuradora-geral Raquel Dodge repudiaram a medida. Faltou a uma parte majoritária da esquerda um chamado mais contudente à luta contra a censura. 

Atacar as fake news e desbaratar seus agentes políticos – muitos impunes nas redes sociais e na internet profunda – é uma tarefa permanente. O incentivo a ataques contra insituições, como escolas e organizações do movimento de massas, e a difusão de notícias com intuito de acobertar as milícias devem ser combatidos, identificando e punindo autores e quem mais der vazão. 

Defender as liberdades democráticas! Construir uma alternativa separada da falência do regime 

Repudiamos qualquer cerceamento à imprensa sob o atual regime. As investigações sobre a corrupção – nos três Poderes – devem seguir. Uma das tarefas fundamentais, sob o governo Bolsonaro, é a ampla unidade democrática contra quaisquer medidas de exceção venham de onde venham.

O decreto de Bolsonaro e Moro requisitando a Força Nacional para atuar na Esplanda pelos próximos 33 dias é parte disso. Devemos repudiá-lo, bem como qualquer intervenção nas rodovias do país para impedir a organização e deslocamento dos povos indígenas nas próximas semanas.

Não se pode deixar a bandeira da luta contra a corrupção nas mãos da extrema-direita – até porque, como mostra o caso do laranjal do PSL, ela não pode fazê-lo. A grita oriunda de setores do bolsonarismo contra os ministros do STF é seletiva. Portanto, cabe à esquerda radical e à oposição pautar a luta contra a corrupção de forma consequente. Bolsonaro e os seus não querem ampliar os direitos democráticos e deixam clara, a todo momento, sua defesa de projetos autoritários. 

Ao mesmo tempo em que defendemos as liberdades democráticas, devemos seguir exigindo justiça por Marielle, a prisão dos mandantes do crime, o desmantelamento das milícias, e medidas como o fim dos altos salários e privilégi da Corte suprema, a abertura do sigilo fiscal e telefônico dos ministros, a revogabilidade de mandatos e eleitos, entre outras. Só assim vamos levantar uma alternativa por fora do regime que apodrece a cada nova crise entre poderes.


TV Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti

O PL da Uber é um ataque contra os trabalhadores!

O projeto de lei (PL) da Uber proposto pelo governo foi feito pelas empresas e não atende aos interesses dos trabalhadores de aplicativos. Contra os interesses das grandes plataformas, defendemos mais direitos e melhores salários!

Greve nas Universidades Federais

Confira o informe de Sandro Pimentel, coordenador nacional de educação da FASUBRA, sobre a deflagração da greve dos servidores das universidades e institutos federais.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 21 abr 2024

As lutas da educação e do MST indicam o caminho

As lutas em curso no país demonstram que fortalecer a classe trabalhadora é o único caminho para derrotar a extrema direita
As lutas da educação e do MST indicam o caminho
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 48
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão