Fora Weintraub, o ministro que ama os cortes!

Seguir a luta contra os cortes e pela educação em conjunto com a construção da greve geral contra a reforma da previdência.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 6 jun 2019, 19:52

O governo Bolsonaro entrou numa semana decisiva em que pretende aprovar sua proposta de reforma da previdência na Comissão Especial da Câmara, ainda sob impacto dos protestos de estudantes e professores das últimas semanas e da pressão da greve geral marcada para o próximo dia 14.

Depois dos atos de 26 e 30 de maio, o governo atua para fortalecer a figura de Abraham Weintraub – por meio de seus vídeos na internet, o desqualificado ministro ganha popularidade entre a ala mais radical do bolsonarismo, ampliando o desprezo que por ele nutrem estudantes e profissionais da educação.

O ataque mais recente de Bolsonaro e Weintraub foi o corte de mais milhares de bolsas de pesquisa e pós-graduação. Dessa vez, são 2331 bolsas de mestrado, 335 de doutorado e 58 de pós-doutorado. Somadas ao corte anterior, já são 6198 bolsas cortadas apenas durante a atual gestão. O anúncio do CAPES representa uma redução de R$ 4 milhões na verba para 2019 e, até 2020, de R$ 35 milhões. O novo congelamento na concessão de bolsas de pós-graduação destina-se a programas com duas avaliações nota 3 consecutivas e ou a programas com nota 4, que caíram para a nota 3 (numa escala até 7). Na maioria dos casos, trata-se de programas de pós-graduação recentemente abertos, em campi localizados nos interiores do país, que vinham fazendo um importante trabalho de institucionalização de suas atividades e de formação de jovens em regiões anteriormente descobertas de ensino superior público e de atividades de pós-graduação e pesquisa. Ou seja, este é mais um tremendo ataque contra a educação e a ciência nacionais.

A única forma de responder ao ministro que adora cortar o orçamento de universidades que pretende abertamente aniquilar as universidades, como terrenos do fantasioso “marxismo cultural”, é seguir na dinâmica de lutas que tomou conta das ruas brasileiras. A convocatória da greve geral em 14 de junho deve servir para acumular forças e seguir a luta contra os cortes e a reforma da previdência.

O dia 15 de maio mudou a conjuntura

A entrada em cena dos estudantes no último 15 de maio chacoalhou o país. Pela primeira vez desde o início do governo Bolsonaro, uma oposição social massiva, de centenas de milhares ou mesmo de milhões de pessoas, tomou as ruas brasileiras, das principais capitais às pequenas cidades do interior. Em comum, as multidões reunidas rechaçavam os cortes na educação e a perseguição ideológica à ciência promovida pelo obscurantismo de Weintraub e Bolsonaro.

Rapidamente, evidenciou-se a todo o país que esta era uma luta justa e que a educação e a ciência brasileiras não merecem ser um joguete nas mãos do delirante Olavo de Carvalho e do clã Bolsonaro. Não à toa, rapidamente a mobilização social lançou mais pressão sobre os planos de um governo desarticulado, cuja agenda é unicamente a destruição de direitos e serviços públicos e a vassalagem antinacional e criminosa ao governo dos Estados Unidos. No Congresso, a as imagens das manifestações nas cidades brasileiras criaram ainda mais embaraço para a aprovação dos projetos de interesse de Bolsonaro e Guedes.

Numa tentativa de contornar a crise, Bolsonaro dobrou a aposta, mobilizando seu núcleo mais fiel para mobilizações em 26 de maio que dividiram a direita. Sem poder de convocação suficiente, o entorno presidencial recuou das ameaças mais explícitas ao Congresso e ao STF, mas ao mesmo tempo buscou mostrar que mantém um apoio fiel e organizado de extrema-direita e chamou os chefes dos outros poderes a uma espécie de trégua em favor da aprovação da reforma da previdência.

O retorno às ruas da juventude e dos estudantes no dia 30 de maio demonstrou a forte disposição de luta contra o governo e foi fundamental para ampliar a polarização social, contribuindo com o desgaste crescente do governo e do presidente.

A polarização ao redor da luta contra o ajuste

Ao mesmo tempo em que cria ataca direitos e distrai o público com medidas demagógicas, Bolsonaro lida com a degradação diária dos índices econômicos. O desemprego não cede e já há economistas que falam, após a divulgação dos dados do primeiro trimestre da atividade econômica, em retorno à recessão ou mesmo na entrada numa dinâmica depressiva. Diante de tal cenário, o governo insiste na necessidade de aprovar a reforma da previdência como único caminho para o país. Trata-se de uma chantagem: previdência ou morte, como definiu Paulo Guedes.

Apesar da propaganda diária em favor da reforma da previdência, o povo sabe o que ela significa: sacrificar os mais pobres, dificultar o acesso à previdência e reduzir a proteção social. Por isso, a polarização aumenta no país e é preciso retomar a iniciativa. O governo pretende aprovar o projeto na Comissão Especial na Câmara num contexto de confusão e descoordenação. São muitas frentes de batalha díspares em que Bolsonaro se coloca.

A luta social pode abrir uma cunha na situação brasileira e oferecer um farol de esperança para milhões. Em primeiro lugar, é preciso estimular e acompanhar a luta de estudantes, professores, pesquisadores, trabalhadores da educação e suas famílias contra os cortes. Diante de mais provocações do governo, esta luta deve seguir e buscar força para derrubar Weintraub e toda a canalha obscurantista que ocupa o MEC para destruir a educação e a ciência brasileiras.

É preciso, também, unificar a luta pela educação contra os cortes à luta contra a reforma da previdência. Para isso, as centrais sindicais devem tomar a iniciativa, estimulando a organização da greve pela base e abrindo espaço para que o movimento da educação tenha protagonismo.

Construir a greve geral do dia 14 de junho

Na semana passada, em 28 de maio, Buenos Aires paralisou-se por conta da greve geral argentina. Com adesão contundente, não houve funcionamento de praticamente nenhum tipo de atividade. Os piquetes e marchas marcaram a data, a quarta greve geral durante o governo neoliberal de Macri. Os trabalhadores da Argentina, fartos do modelo que Guedes e Bolsonaro também querem impor ao povo brasileiro, deram um exemplo de que é possível enfrentar a direita neoliberal e entreguista em nosso continente.

No Brasil, em 14 de junho, prepara-se uma greve geral contra a reforma da previdência. A responsabilidade das grandes centrais sindicais é enorme: cabe a elas a disposição de organizar a paralisação, os piquetes e marchas. A plenária nacional do setor de transportes realizada esta semana em Brasília demonstrou que há disposição para tanto. As direções do movimento, portanto, devem estar à altura deste momento fundamental.

Em todo o país, reuniões e assembleias começam a organizar a paralisação, as marchas e piquetes. De nossa parte, participaremos ativamente deste processo com nossas forças. Consideramos fundamental combinar os calendários para que se construa uma greve forte a partir da qual siga a necessária mobilização contra o governo Bolsonaro. Para isso, a greve geral precisa ser ativa, mobilizando as cidades com piquetes e manifestações de massa. Esta jornada também deve contribuir para organizar a luta contra os cortes e permitir sua continuidade num patamar superior, uma verdadeira rebelião educativa, exigindo a saída de Weintraub e a revogação dos cortes orçamentários e nas bolsas de pesquisas. Com organização de base e participação, a greve geral poderá mostrar a força da classe trabalhadora contra a reforma da previdência e a política antinacional e antipopular de Guedes e Bolsonaro.


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