Zema e Vale fazem um acordo para os de cima

Acordo está longe de representar os anseios dos que sofreram como os crimes cometidos pela mineradora.

Marcos Barbosa 8 fev 2021, 14:46

Após semanas de boatos que diziam que o Governo Zema negociava às escondidas com a Mineradora Vale um acordo bilionário referente ao crime ocorrido na cidade de Brumadinho, no qual mais de 270 pessoas foram assassinadas após o rompimento da barragem da Mina Corrego do Feijão, foi assinado nesta última quinta-feira, dia 04 de fevereiro de 2021, um acordo no qual a mineradora destinará cerca de 37 bilhões para “reparar” os danos socioambientais causados. Esta decisão já contabiliza os valores gastos pela Vale com medidas tidas como emergenciais.

O acordão gerou entre os atingidos, associações e movimentos sociais profundo descontentamento, a começar pela denúncia do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) que aponta que a Vale economizará R$ 17 bilhões, já que ações de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem exigia o valor de R$ 54 bilhões.

Também não faltaram críticas sobre a forma como tal decisão foi construída, de maneira nada participativa, inclusive sem a presença das famílias das vítimas e os demais atingidos. A Associação dos Familiares das Vítimas de Brumadinho (AVABRUM), que representa as famílias de vítimas fatais deste crime, informou em nota que foram excluídos do processo de construção de tal acordo conduzido de forma sigilosa, sem conhecimento público e sem envolvimento dos atingidos.

Até mesmo a prefeitura de Brumadinho demonstrou espanto, em que, segundo o próprio prefeito, o poder legislativo e o executivo da cidade não foram escutados. Portanto, um acordo firmado apenas entre o Governo Zema, as instituições de Justiça e a Vale não é um bom acordo e muito menos representativo.

O acordo também confirmou o receio dos movimentos socioambientais que lutam em defesa das serras, águas, biodiversidade e vida das populações que vivem nesses territórios, pois, dentro das medidas de compensação está a construção do RODOANEL de Belo Horizonte, proposta que pretende desviar o trânsito pesado do atual anel rodoviário para o entorno da capital mineira a começar pela região do povoado de Casa Branca/Brumadinho, onde tal rodovia cortará a Serra Calçada, reconhecida como monumento natural pela sua biodiversidade, importância hídrica e também patrimônio histórico que abriga calçadas e um forte, datados do século XVIII, além de cortar a Serra do Rola Moça, local onde se encontra o Parque Estadual da Serra do Rola Moça, terceiro maior parque em área urbana do país, importante corredor ecológico e responsável por guarnecer os principais mananciais que abastecem milhares de moradores da Região Metropolitana de BH.

Com essa decisão o governo Zema reafirma o seu compromisso com a Vale e com demais grandes empresários do estado, no qual, ao negar que os atingidos participassem das discussões, o que prevalece são os interesses da mineradora em continuar de forma impune suas atividades. A lógica que rege esse acordo é a mesma que retira a autonomia dos territórios onde vivem a classe trabalhadora, pois impede que a maioria da população, mesmo frente a um crime de proporções colossais provocado pela superexploração da natureza não possam decidir sobre as alternativas econômicas que deveriam receber investimentos para que se possa caminhar rumo ao fim da “minério dependência”. Tal lógica também se aplica à construção do RODOANEL, em que Belo Horizonte e sua região metropolitana enfrentam problemas de mobilidade urbana, sobretudo no transporte público. Mesmo sendo a capital de um dos estados mais ricos do país, Minas Gerais conta hoje com uma rede de transporte de passageiros sobre trilhos muito ineficiente, ou seja, se tal acordo tivesse o intuito de garantir reparação aos atingidos, ou trazer alguma qualidade na vida das pessoas que vivem na região, optaria por uma alternativa de mobilidade urbana muita mais benéfica ao povo do que apenas o desvio do trânsito pesado do Anel Rodoviário. Inclusive, porque tal iniciativa, como bem apontam os movimentos socioambientais, atinge áreas estratégicas para o abastecimento hídrico de toda a região, pois corta importantes serras, potencializa a especulação imobiliária e pode facilitar a expansão das mineradoras, o que beneficiaria a própria Vale.

Um acordo para a Vale, sobre os atingidos, está longe de representar os anseios dos que sofreram como os crimes cometidos pela mineradora. A forma como as decisões foram tomadas sobre as vidas e os territórios deixam claro que continuaremos sendo vitimados pelos descaso do estado com a nossa condição de vida. Enquanto o lucro vier à frente da vida, não existirá justiça. Os grandes empresários possuem um projeto de país para eles que será construído com suor e sangue do trabalhador, em que crimes como o cometido pela Vale são parte desse projeto e, portanto, só deixarão de ocorrer quando esses setores deixarem de dirigir o país.


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