Perante a chantagem da oligarquia uribista, Petro indica um caminho
Povo colombiano é convocado para ir às ruas em defesa da democracia e pela aprovação da Reforma do Sistema de Saúde
Foto: jramirezsfs / Pixabay
A vitória eleitoral de Gustavo Petro e Francia Márquez foi um marco histórico, uma vez que aconteceu depois de quase 20 anos de regimes com traços autoritários. Foi uma vitória dos milhares que em 2021 tomaram as ruas para exigir reformas sociais e melhoria nas condições de vida do povo colombiano. A Reforma da Saúde está entre as pautas mais importantes e urgentes propostas pelo governo. Para impedir o avanço dessas propostas, a elite da Colômbia não só trava a tramitação dos projetos na câmara de representantes, como também tenta arrastar o governo para o pântano com uma série de denúncias de corrupção e de abuso de poder.
Frente aos ataques e chantagens, a resposta de Gustavo Petro, Francia Márquez e do povo colombiano veio das ruas. No dia 07 de junho, milhares de colombianos marcharam em todo país para demonstrar apoio à Reforma da Saúde e ao governo democraticamente eleito. Essa grande mobilização veio após um importante discurso feito por Petro no dia 1 de maio, que indicou o caminho:
“O povo não pode dormir. Não basta vencer nas urnas, a mudança social implica uma luta permanente e a luta permanente ocorre com um povo mobilizado e, à frente desse povo mobilizado, deve estar a juventude, os trabalhadores, a classe trabalhadora. A tentativa de restringir as reformas pode levar a uma revolução”.
A Reforma da Saúde e atuação das elites econômicas
O resultado das eleições presidenciais de 2022 na Colômbia demonstrou que o país enfrenta uma forte polarização, diante da qual a maioria da população colombiana optou por eleger o governo Petro-Márquez para tirar o país das mãos do uribismo, mas também para aprovar a urgente Reforma da Saúde. Essa foi uma das mais importantes agendas da candidatura do Pacto Histórico, e tem sido a principal batalha que o governo tem dado. Inicialmente, Petro montou um governo de coalizão com o Partido Liberal para tentar aprovar a reforma, mas não obteve os resultados esperados, já que aprovar mudanças na saúde implicaria atingir diretamente a elite econômica colombiana, que faz parte da direita tradicional. Por isso, o governo rompeu a coalizão e demitiu sete ministros. Ficou claro que mexer com a situação da saúde no país atingiria diretamente a elite econômica que tem ligações intrínsecas com as Empresas Promotoras de Saúde (EPS), atingidas diretamente pela reforma.
Hoje a saúde na Colômbia funciona com a atuação das EPS’s, que intermedeiam o envio de recursos do Estado para clínicas e hospitais. O principal intuito da Reforma da Saúde proposta pelo governo Petro-Márquez é retomar a função do Estado colombiano em fornecer acesso à saúde, tornando-a pública e de qualidade para sobretudo a população da Colômbia profunda, das regiões mais distantes dos grandes centros urbanos, ou seja, para a população mais vulnerável. Muitas das EPS’s que existem no país acabaram convertendo a saúde em negócio, com enormes esquemas de corrupção ligado às promotoras de saúde, privilegiando hospitais e clínicas que cobram valores mais altos pelo atendimento, onerando diretamente o estado e tirando o financiamento de hospitais públicos.
Para ser aprovada, a Reforma da Saúde do governo colombiano precisa obter maioria dos votos no congresso, porém as elites econômicas e os políticos tradicionais colombianos estão freando o debate dentro do parlamento. Isso acontece porque esses setores têm relação direta com as Empresas Prestadoras de Saúde, ou seja, foram eles que lucraram todos esses anos milhões de pesos colombianos com as EPS’s. Os setores ligados à elite econômica passaram a boicotar o debate sobre a reforma no congresso, não só atrasando o tema da saúde, mas também outras reformas importantes, como a Trabalhista e a Previdenciária.
Como resposta à tentativa de implementar as reformas, a direita e a ultradireita passaram a agir para além do parlamento e, junto com os meios de comunicação hegemônicos, começaram a denunciar Petro por ter supostamente recebido financiamento ilegal em sua campanha à presidência. O presidente respondeu à acusação prontamente em suas redes sociais, afirmando que sua campanha não teria sido financiada pelo narcotráfico, como a direita e a mídia afirmam. Além desse escândalo, outros vieram à tona, fazendo com que as reformas propostas pelo governo fossem paralisadas e a crise política se fortalecesse.
A resposta do povo colombiano perante os ataques da burguesia
Diante toda essa situação com as elites, os partidos tradicionais e a mídia hegemônica, Petro, que já havia chamado a população colombiana para ir às ruas em discurso do dia 1 de maio, passou a denunciar uma tentativa de “golpe brando”, que nada mais é que desestabilizar o governo de diversas maneiras até possibilitar sua queda.
O fato é que, embora a burguesia não aceite, a maioria da população colombiana elegeu Gustavo Petro e Francia Márquez para presidência e vice-presidência da Colômbia. E não só elegeu um governo de esquerda, mas sim um governo que teve como propostas reformas importantes para o país, cujos impactos serão sentidos diretamente na população mais pobre, atingindo o bolso dos mais ricos. E mesmo que as pesquisas de opinião digam que Petro está com aprovação em queda, no dia 07 de junho, estudantes, sindicatos, entidades governamentais e a população em geral saíram às ruas em defesa do governo eleito democraticamente, na luta pela Reforma da Saúde e de todas as reformas propostas no programa eleitoral do Pacto Histórico. Segundo a politóloga Paula Álvarez, membro do gabinete do Senador do Pacto Histórico Wilson Urias, foram vistas mobilizações a favor de Petro em 200 municípios de 30 estados diferentes.
Petro e Márquez também estiveram nas ruas junto com a população colombiana e fizeram discursos fortes, em defesa da democracia e contra qualquer tentativa de golpe no país. Petro foi muito claro ao recordar o Peru, onde houve um golpe contra o presidente Pedro Castillo, e afirmar que o mesmo não acontecerá na Colômbia, pois lá eles estão respaldados pelo povo. Além disso, o chefe de estado pediu que os territórios se organizem nas bases, com Assembleias Populares em todos os municípios para que o próprio povo tome decisões sobre suas regiões.
A crise política na Colômbia não tem data para acabar, e a burguesia do país já está se organizando para ter uma grande manifestação no próximo dia 20 de junho, em resposta ao dia 7. É sabido que a direita colombiana é muito organizada, exemplo disso é como tem conseguido barrar as reformas no congresso. Porém, diferente do que vimos em países como o Chile, e até mesmo aqui no Brasil, que em busca da “governabilidade” os governos fazem alianças com setores neoliberais se distanciando das ruas, na Colômbia o caminho tem sido diferente e Gustavo Petro e Francia Márquez sabem que só conseguirão a aprovação das Reformas da Saúde, Trabalhista e Previdenciária com o povo nas ruas. Petro afirmou, a pleno pulmões: “Não se atrevam a romper com a democracia porque vão encontrar com um gigante: o povo nas ruas” e é isso que a esquerda revolucionária deve acompanhar e reivindicar. Sabemos que Gustavo Petro não é revolucionário, mas o presidente tem dado o exemplo de como devem agir os governos de esquerda, que é colocar o povo sempre em primeiro lugar.
Desde o Brasil, seguiremos acompanhando o desenrolar da situação na Colômbia com a certeza que Petro ter indicado o caminho das mobilizações sociais e da auto-organização foi um passo importante para encurralar a direita uribista e o golpismo, que está às voltas no continente.