Entre greves
As greves da educação federal e dos servidores do município de São Paulo explicam o Brasil de hoje
Foto: SINTUFCE
Depois dos anos de “desastre político” do governo Bolsonaro e a pandemia que assolou o mundo, temos visto diversas mobilizações da classe trabalhadora desde o ano passado, lutando por melhores condições de trabalho e recuperação salarial devido à inflação e ao aperto fiscal.
Este texto busca compreender como a derrota na greve dos servidores municipais de São Paulo em paralelo com os setores da educação tornam-se protagonistas, além da atual greve dos setores da educação federal se transformaram em disputas políticas sobre o rumo do país e a luta contra a extrema direita no Brasil de hoje.
Os profissionais da educação do município de São Paulo iniciaram uma greve em março, que durou 20 dias, buscando soluções para as dificuldades enfrentadas pela categoria. Apesar das supostas conquistas divulgadas pela mídia e pela administração, a greve levantou preocupações sobre o alto percentual de abonos e gratificações no salário, resultando em significativas perdas salariais desde 2019, afetando até mesmo os aposentados. Além disso, a proposta do subsídio foi criticada, juntamente com a deterioração das condições de trabalho e o funcionamento das escolas.
A greve ocorreu em um momento politicamente crucial, com o Prefeito Ricardo Nunes consolidando seu alinhamento ao bolsonarismo e ao governador do Estado, transformando assim a batalha por melhores condições e recomposição salarial em uma batalha política contra este setor que combate a escola pública. Até que o reajuste pífio de 2,16% fosse aprovado na Câmara Municipal, o movimento continuou crescendo, reunindo milhares de servidores em frente à prefeitura e à Câmara Municipal.
Embora a greve não tenha alcançado uma vitória econômica clara, conseguiu adiar a aprovação do subsídio e a reestruturação da carreira no município.
Nesta mobilização, notamos um claro alinhamento dos vereadores do centrão e do bolsonarismo, juntamente com o prefeito, para derrotar o movimento. Ao contrário de outras greves, onde houve mudança de posição de vereadores de bairros devido às pressões eleitorais e do movimento para apoiar as demandas da greve, desta vez a polarização e a força da extrema direita coesiona essa base em uma pauta antipovo.
Infelizmente, percebemos que, para além dos parlamentares da oposição, especialmente os do PSOL, houve muito pouco envolvimento de figuras importantes nesta mobilização.
O elemento emblemático é o candidato do PSOL, Boulos, que teve como principal iniciativa um tweet durante a greve.
Não entender que estamos enfrentando a extrema direita e a capitulação da esquerda para setores centristas e liberais apenas fortalece os bolsonaristas e os grupos que ele vem aglutinando.
Agora, o jogo passa para outro patamar, com a greve da educação federal colocando em xeque o governo federal, colocando de um lado a capitulação e a construção de uma futura derrota para o bolsonarismo, e do outro lado, o alinhamento ao lado da classe para a construção de um projeto alternativo.
A greve no setor da educação dos federais que já dura 36 dias na data de hoje (15), para os servidores das universidades e de 13 dias para os servidores dos IFs, é uma prova inconteste que não bastou eleger Lula, mas que as conquistas são resultado de muitas lutas, independentemente de governos e que o movimento sindical deve assim se portar.
Não podemos normalizar que 43.23% de todo o orçamento público executado em 2023, tenha sido destinado ao pagamento de juros e amortização da dívida aos banqueiros, enquanto apenas 2,97% seja destinado a toda a educação brasileira. Parte disso, resultado da lei do arcabouço fiscal (novo teto de gastos), que impõe severos limites para investimentos sociais e libera geral para pagamentos de juros e amortização de uma dívida pública nunca auditada.
Chega a ser uma acinte o governo Lula propor aos federais, reajuste zero para 2024 e apenas 4,5% para 2025 e igual para 2026, que sequer chega perto de cobrir as inflações desses 3 anos, desconsiderando que esses mesmos servidores acumulam entre 30 a 50% de perdas inflacionárias contando apenas de 2010.
Pior, um governo dito de esquerda, publica a IN – Instrução Normativa nr 49/2023, que altera os critérios e procedimentos gerais relacionados ao desconto em folha e à compensação de horas não trabalhadas nos casos de greve dos servidores públicos federais. Uma atitude que tenta ferir de morte o direito constitucional à greve e impor intimidação ao movimento, no entanto, o “tiro tem saído pela culatra”, pois a greve atual tem sido uma das mais fortes deste século.
Agora, o governo ver o deslocamento de dezenas de caravanas rumo à Brasília e mais uma vez tenta chantagear os servidores, ameaçando-os a não conceder os reajuste aos auxílios, algo que já consta no orçamento.
O que se vê é que cada investida do governo, mais a greve cresce, apesar do governismo entrelaçado em parte do movimento sindical.
Neste dia 15.04, os docentes de diversas universidades também entrarão em greve para fortalecer ainda mais a luta no setor da educação.
Tudo isso, se comprovam que os dasafios da classe trabalhadora serão gigantes no próximo período e mais uma vez, os servidores públicos são os condutores, sejam entre os municipários em São Paulo ou os federais.
Por fim, conclui-se que é importante aplicar derrota aos governos bolsonaristas, ao tempo em que devemos fortalecer a luta pelo sindicalismo independente de governos, como consequências, arrancar do governo federal e do congresso nacional a priorização do serviço público, e isso passa necessariamente por servidores motivados e com efetivas condições de trabalho.
A luta não pode parar, sigamos!!!