Assange livre!
A libertação de Julian Assange, fundador do Wikileaks, é uma grande vitória internacional para a liberdade de informação
Foto: Peter Erichsen/Flickr
Em memória de David Miranda, que hoje estaria muito feliz.
Depois de anos preso por mostrar ao mundo os crimes militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão, o jornalista australiano Julian Assange finalmente está livre. O fundador do Wikileaks esteve refugiado na embaixada do Equador em Londres entre 2012 e 2019, quando o país retirou a permissão de asilo e permitiu sua captura pela polícia inglesa. Desde então, Assange foi encarcerado na prisão de segurança máxima de Belmarsh, confinado em uma cela de 6 m2 e em isolamento durante 23 horas por dia, enquanto aguardava o julgamento de seu pedido de extradição para os EUA pela acusação de crimes contra a “segurança nacional” que poderiam levar a uma pena máxima de 170 anos.
Como parte do acordo que permitiu sua liberdade, o jornalista se declarou culpado de uma das 18 acusações relacionadas ao seu papel no Wikileaks (revelar segredos militares), pela qual já teria cumprido os anos de sentença. Assange agora comparecerá a uma corte estadunidense no território colonial das Ilhas Marianas e de lá vai para a Austrália, onde se reunirá novamente com sua família após mais de dez anos.
Quem é Julian Assange
Assange é um ativista pela liberdade de informação que fundou o website Wikileaks em 2006, publicando nos primeiros anos documentos secretos sobre temas como execuções extrajudiciais no Quênia, despejo de resíduos tóxicos em países africanos e as torturas contra presos na base militar de Guantánamo, entre outros.
Em 2010, o Wikileaks tornou-se mundialmente conhecido pela publicação de documentos militares confidenciais dos EUA vazados por Chelsea Manning, analista de inteligência do exército norte-americano em serviço no Iraque, que demonstravam inúmeros crimes de guerra cometidos por tropas da coalizão liderada pelos EUA nas invasões do Iraque e do Afeganistão. Entre os crimes estavam ataques aéreos contra civis desarmados nos dois países, cujos vídeos circularam o planeta devido à coragem de Manning.
Após ser descoberta, Manning foi enviada à prisão militar de Quantico, no estado da Virgínia, onde sofreu diversos tipos de tortura como privação de sono, nudez forçada e outras formas de tortura psicológica. Sofrendo acusações de espionagem e traição que poderiam levar à pena de morte, Manning enfrentou um julgamento militar secreto em 2013 e foi condenada a 35 anos de prisão, sendo libertada em 2017 após a comutação de sua pena pelo presidente Barack Obama.
A perseguição contra Assange começou no mesmo período, com seu pedido de prisão feito pela Suécia por acusações de estupro posteriomente arquivadas. Investigadores das acusações de Assange inclusive suspeitam que ele possa ter caído em uma “armadilha sexual” preparada por agências de inteligência, hipótese reforçada pelas revelações de Edward Snowden sobre as estratégias da CIA contra o Wikileaks. Correndo o risco de prisão e provável deportação para os EUA, Assange então se refugia na embaixada do Equador em Londres e permanece lá até a retirada do asilo político pelo presidente Lenin Moreno em 2019. Preso e arrastado para fora da embaixada, desde então Assange enfrentava uma luta judicial contra sua extradição aos EUA, tendo sua saúde cada vez mais debilitada ao longo dos anos.
Uma vitória da liberdade de informação
Como diz a declaração recente do Wikileaks:
Este é o resultado de uma campanha global que abrangeu organizadores de base, defensores da liberdade de imprensa, legisladores e líderes de todo o espectro político, até às Nações Unidas.
A libertação de Julian Assange representa uma grande vitória democrática pela liberdade de informação em todo o mundo. Foi pela sua coragem, assim como pela coragem de militares como Snowden e Manning, que hoje sabemos muito mais sobre os mecanismos ardilosos do imperialismo durante a chamada “Guerra ao Terror”, na qual países do Oriente Médio foram arrasados sob falsas justificativas nas tentativas dos EUA e seus aliados manterem seus interesses na região.
Em tempos de uma intensa guerra de narrativas promovida pela extrema direita impulsionada por parte da burguesia mundial, tais atitudes heróicas vindas “de dentro da máquina” podem mudar os rumos da luta pela opinião pública ao revelar tanto os inúmeros crimes cometidos pelos agentes imperialistas em todo planeta como os reais interesses por trás das supostas “missões humanitárias” conduzidas em nome da “liberdade” no Sul Global.
Nós, do Movimento Esquerda Socialista (MES/PSOL), estivemos desde o início ao lado de Assange em inúmeras campanhas desse movimento internacional, assim como o coletivo Juntos! e o falecido companheiro David Miranda, que foram parte da vanguarda dessa luta no Brasil. Comemoramos a liberdade de Assange como uma vitória nossa, assim como de toda a militância democrática antiimperialista que esteve nestas fileiras.