Altas temperaturas no cenário político
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Altas temperaturas no cenário político

A emergência climática, a crise do governo Lula e a pressão pela prisão de Bolsonaro aquecem o cenário político

Israel Dutra 20 fev 2025, 17:23

O calor infernal castiga o povo brasileiro, num verão onde as temperaturas batem recordes. Para além dos termômetros, o aquecimento na esfera do debate político é nítido. Talvez em nenhuma outra etapa da vida política nacional, um verão tenha sido marcado por tanta agitação nas esferas do governo e da oposição. As “altas temperaturas” políticas prenunciam um 2025 “a quente”, como os primeiros lances da gestão Trump sugerem, dramaticamente, no terreno internacional.

Se de um lado, a extrema direita busca ir para ofensiva, com Musk chegando a falar em atos de impeachment contra Lula, de outro, seu principal líder nacional – Jair Bolsonaro – está cada dia mais próximo da prisão após a denúncia da Procuradoria Geral da República.

Lula e o governo insistem no receituário do ajuste fiscal e escolhem se chocar com as demandas sociais em detrimento de enfrentar os interesses do capital financeiro. Os preços dos alimentos nas alturas e o resultado desastroso das pesquisas de opinião são um sinal de alarme que o governo reluta em aceitar enquanto continua apostando que a fidelidade às regras do mercado darão respostas à crise.

Para a esquerda socialista e o PSOL, que vive uma intensa discussão interna ecoada na última reunião de seu Diretório Nacional, não há outra saída senão intensificar a luta contra Bolsonaro, sem deixar de criticar a orientação do governo. O PSOL deve ser um polo em defesa dos interesses da maioria, dos direitos dos trabalhadores e por uma saída para a crise climática que nos assola. E isso só será possível apresentando um programa independente de mudanças radicais.

A denúncia da PGR deixa Bolsonaro mais perto da prisão

Como escrevemos em editorial de dezembro passado, a prisão do general Braga Netto recolocou na ordem do dia a prisão para o genocida Jair Bolsonaro. A denúncia feita pela PGR, pela voz de Paulo Gonet no último 18 de fevereiro, indicia Bolsonaro como chefe do esquema golpista, além de 33 de seus íntimos colaboradores.

A situação é incerta. Sobram evidências sobre as intenções golpistas do bolsonarismo e o texto da PGR indica que Bolsonaro teria pleno conhecimento do da operação “Punhal Verde Amarelo”, que teria por objetivo assassinar Lula, o vice eleito Geraldo Alckmin, além do ministro do STF Alexandre de Moraes, que retirou o sigilo da delação premiada de Mauro Cid após o posicionamento da PGR e expôs os meandros do plano antidemocrático.

Por outro lado, a extrema direita reage na pressão para uma acomodação das denúncias que livre Bolsonaro e seus aliados. A tramitação da denúncia seguirá o rito no STF, sendo o próprio Alexandre de Moraes relator do caso. Após a defesa, a denúncia será submetida ao plenário do STF ou à Primeira Turma da Corte e, caso a denúncia seja aceita, Bolsonaro e os demais envolvidos se tornarão réus efetivamente. Caso seja condenado, o ex-presidente pode de fato ser preso.

É um degrau a mais na escala na polarização contra a extrema direita, que ora se aproveita das debilidades do governo para lhe fazer críticas hipócritas, ora agita sua torcida com base na euforia representada pela vitória de Trump e Musk no EUA. Bolsonaro irá a Câmara para pressionar pela anistia, única saída para não ficar fora do tabuleiro eleitoral de 2026., ao mesmo tempo em que o governo avalia ampliar o espaço da direita conservadora nos ministérios.

Como efeito do cerco, além de abrir a chance de colocar o bolsonarismo na defensiva, como bem fez Sâmia Bomfim em discurso no Congresso Nacional, o campo da extrema direita se fragmenta ainda mais, com os nomes alternativos se posicionando melhor com a hipótese crescente (talvez a mais provável) de Bolsonaro ficar fora da urna em 2026.

Do lado de cá

À esquerda, não há outra saída que não polarizar ainda mais e amplificar a luta pela prisão de Bolsonaro articulada com reivindicações mais amplas, como parte da agenda central do período. Uma vez mais, levantar a bandeira “Sem Anistia!” porque é, a seu modo, uma oportunidade histórica aberta com a denúncia de figuras da cúpula das Forças Armadas para um ajuste de contas, tarefa que não foi levada adiante na transição anterior, quando a queda da ditadura não significou justiça e punição para os golpistas e torturadores.

A urgência da luta pela prisão de Bolsonaro se coloca em um cenário de conjuntura movimentada. Um manifesto impulsionado por destacados cientistas do clima contra a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas teve importante repercussão dentro dos meios do ativismo, mesmo com o governo defendendo abertamente a medida. Nossas energias para essa resistência vêm da luta dos indígenas que dobraram o governo Barbalho no Pará, no coração da Amazônia e na sede da futura COP30, numa aliança forjada com o sindicato e o movimento da educação do estado, apoiada por setores de esquerda e pelo PSOL com suas parlamentares locais.

Daqui até a Cúpula dos Povos de Belém, em novembro desse ano, temos que apostar na mobilização e organizar a mobilização ao redor dos eixos colocados, começando pela mais ampla unidade em favor da prisão de Bolsonaro e sem anistia aos golpistas, e expandindo esse sentido de luta para uma real ruptura que enfrente também a emergência climática e os interesses da burguesia que promovem o conjunto dos ataques antidemocráticos, negacionistas e antipopulares. Por isso, defendemos Bolsonaro na prisão e nos somaremos a todos os esforços nesse sentido.


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