A agenda imperialista de Trump
Às vésperas da posse, presidente eleito dos EUA reforça discursos sobre anexação de Canadá, Panamá e Groenlândia
Foto: Gage Skidmore/Reprodução
Donald Trump ainda nem tomou posse, mas suas falas mais recentes têm despertado indignação não apenas nos Estados Unidos, mas em outros países pelo globo – especialmente Canadá, Groenlândia e Panamá. Na terça-feira (7), durante coletiva de imprensa em Mar-a-Lago, o presidente eleito disse não descartar o uso de coerção militar ou econômica para conseguir o controle desses territórios.
A Groenlândia – que é a maior ilha do mundo e faz parte da Dinamarca – é considerada por Trump como estratégica para a segurança dos EUA, especialmente para repelir um possível ataque vindo da Rússia e para os esforços militares de rastreamento de navios chineses e russos, que, segundo ele, estão “por toda parte”.
Em 2019, no primeiro mandato, ele mencionou a possibilidade pela primeira vez, sugerindo oferecer Porto Rico à Dinamarca em troca do território. Mas a defesa nacional não é o único atrativo da ilha gelada: a Groenlândia conta com jazidas de minerais usados na fabricação de baterias, celulares, microchips, carros híbridos e outros itens de alta tecnologia.
A “segurança econômica” é a justificativa dada para a ambição de Trump anexar o Panamá. Não que ele queira o país. Ele quer retomar o Canal do Panamá, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico, e que segundo o magnata “está sendo operado pela China”. Ele também alega que o país cobra mais dos navios americanos que usam a hidrovia.
O canal, construído no início do século 20, permaneceu sob controle dos Estados Unidos até 1977. Naquele ano, tratados negociados pelo então presidente Jimmy Carter estabeleceram a transferência gradual da administração do território para o Panamá – o que Trump qualificou como “um grande erro.”
Dinamarca e Panamá refutaram qualquer possibilidade de abrir mão dos seus territórios, mas caso Trump decida usar força militar para tomá-los,a situação seria bem mais complicada para o país da América Central, já que não tem exército próprio.
Canadá
Trump ameaçou aumentar a taxação para relações comerciais com a Dinamarca e também com o Canadá, que ele gostaria que fosse o “51º estado americano”, com quem o país compartilha uma fronteira “artificialmente traçada”.
Na coletiva, o presidente eleito declarou que seu país investe bilhões de dólares na proteção do Canadá, ao mesmo tempo em que criticou as importações canadenses de automóveis, madeira e laticínios. O primeiro-ministro Justin Trudeau, que renunciou ao cargo nesta semana, afirmou que a anexação do Canadá aos EUA nunca irá acontecer.
Conforme especialistas, Donald Trump, com sua verborragia, tenta emplacar seu país em uma posição de protagonismo mundial – como projeta seu slogan de campanha “Make America Great Again”. Chegou ao absurdo de sugerir a troca do nome do Golfo do México para “Golfo da América” e a compartilhar uma imagem que mostra EUA e Canadá como um território único.
Além de alimentar o espírito reacionário de seu eleitorado, o discurso de Trump também visa forçar a ascensão de políticos conservadores, simpáticos a sua ideologia, nos países que ameaça. A meta seria ganhar apoio global para pautas que lhe são caras, como flexibilização de leis ambientais e economia. Ao que tudo indica, os desejos imperialistas de Trump ainda terão outros alvos.