Panamá em luta: greve nacional une resistência popular e defesa da soberania
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Panamá em luta: greve nacional une resistência popular e defesa da soberania

Mobilizações lideradas por professores e operários contestam reformas neoliberais, mineração predatória e novo pacto militar entre EUA e governo panamenho

Antonio Neto 30 abr 2025, 16:00

Foto: Telesur

Em 29 de abril, teve início a greve dos trabalhadores da construção e no dia 23 de abril teve início a poderosa greve dos trabalhadores em educação do Panamá. Os dois sindicatos mais fortes do país estão nas ruas pela imediata revogação da Lei 462, que reformou a previdência social A legislação acaba com o regime solidário de previdência, transfere para o os banqueiros as aposentadorias de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, além de aumentar o idade mínima de aposentadoria. Os trabalhadores também são contra o retorno das operações da mineradora First Quantum e contra a assinatura de um memorando de cooperação entre Estados Unidos e Panamá que autoriza a instalação de três bases militares, mais de 2 mil soldados e a isenção do pedágio para navios militares atravessarem o canal. 

A Asoprof (sindicato dos professores) e o Suntracs (sindicato da construção) encabeçam as mobilizações. A revogação da Lei 462 é estratégica pois a derrota do governo é uma vitória para os panamenhos e colocará o governo de Raul Molino em uma situação defensiva em relação ao retorno das operações da First Quantum e em relação ao memorando firmado com os Estados Unidos. 

Em 2023, mobilizações massivas se generalizaram no Panamá, no centro dos protestos estava a exigência do fim das operações da mineradora First Quantum, de capital canadense, estadunidense, chinês e sul-coreano. A mineração a céu aberto é uma das formas mais agressivas de mineração, além do desmatamento, provoca contaminação dos solos e vários outros impactos ao meio ambiente. Diante deste crime contra o meio ambiente, populações tradicionais, indígenas, jovens e trabalhadores – com o Suntracs e a Asoprof à frente -, protagonizaram uma jornada de mobilizações que derrotou o governo e a transnacional First Quantum que extraiu do Panamá quase metade dos lucros obtido até 2023.  

“A constituição panamenha proíbe a administração dos recursos naturais do Panamá por estados estrangeiros. A FQM é de propriedade de capital do Canadá, Estados Unidos, Coreia do Sul e China. Não se trata apenas de uma empresa estrangeira privada, ela também é parcialmente de propriedade de capital desses países estrangeiros.

Apesar disso, a empresa vinha explorando cobre e outros minerais na mina sem pagar impostos entre 2017 e 2023. De acordo com os relatórios financeiros da FQM, a mina Cobre Panamá foi responsável por 48% dos lucros globais da FQM.”¹

Mesmo diante de todos estes absurdos, o governo do Panamá encaminhou um projeto de renovação da concessão à mineradora que foi analisado e aprovado pelo congresso em tempo recorde. 

“… o Congresso aprovou o contrato em 21 de outubro, após apenas três dias de discussão. Isso provocou uma explosão social em um país que já estava farto do preço inacessível dos medicamentos, da falta de seguridade social e do custo de vida muito alto.”²

As mobilizações arrancaram, nas ruas, uma vitória histórica, uma marco na luta ambiental e uma derrota sem precedentes, tanto da transnacional First Quantum quanto do governo de Raul Molino. 

Neocolonialismo estadunidense x a mobilização popular. 

O pequeno país localizado na América Central sofreu com uma invenção da política ingerêncista dos EUA no final do século XIX para viabilizar a construção e controle do canal que liga o oceano Pacífico ao Atlântico para facilitar o deslocamento da frota norte-americana na guerra contra o Império Espanhol, marcando assim o início da política colonial da nascente potência capitalista. 

O então recém criado Panamá formalizou um acordo que garantiu aos Estado Unidos quase um século de controle sobre o canal, o estabelecimento de uma zona militarizada e a utilização de mão de obra essencialmente gringa. Em dezembro de 1999, após quase um século, e depois de diversos episódios de mobilização e luta do povo panamenho, o canal foi devolvido ao Panamá. 


As declarações de Donald Trump após assumir o governo anunciam, sem constrangimento, a orientação neocolonial dos Estados Unidos e colocam no centro a guerra econômica com a China, neste sentido o controle do canal do Panamá é peça chave. No último dia 10 de abril, a visita do secretário de Defesa, Pete Hegseth, concretizou as ameaças de Trump no memorando de entendimento. Além da isenção de pedágio aos navios militares americanos, ficou acordada a instalação de bases militares no Panamá, a permanência de efetivos militares, que já chegam aos 3 mil homens, além de liberar território panamenho para exercícios militares dos EUA. Ao mesmo tempo, o governo panamenho ameaça cassar a concessão chinesa de operação de dois portos nos extremos do canal.  

Frente a ofensiva neocolonial de Donald Trump e ao servilismo do governo reacionário de Raul Molino, a greve nacional dos trabalhadores panamenhos coloca no centro das mobilizações luta anticolonial pela soberania nacional e controle panamenho sobre o controle do Canal e contra a presença militar e solo nacional. 

Até o momento os informes que chegam do Panamá é de que a greve está generalizada entre as duas principais categorias, que conta com forte apoio popular e das juventudes, mas que vem sendo duramente reprimida pelo governo com a denúncia de dezenas de presos nas diversas províncias do país. 

Todo apoio e solidariedade ao povo panamenho. A vitória dos panamenhos é uma vitória de todo o povo Latino Americano e uma derrota para Donald Trump e Raul Molino

¹https://movimentorevista.com.br/2024/01/a-extracao-mineral-deve-ser-suspensa-imediatamente/

² ibidem


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