25 de julho: lutar, vencer e resistir como Teresa de Benguela

No Dia das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas recuperamos a memória de Rainha Teresa e sua dimensão de resistência anticapitalista.

Tatiane Ribeiro 25 jul 2017, 11:49

“Quando as mulheres negras se movimentam, o mundo inteiro se movimenta junto” (Angela Davis)

Teresa de Benguela, ou Rainha Teresa como era conhecida, foi uma das grandes lideranças quilombolas do século XVIII e dirigiu o Quilombo do Quariterê, no Mato Grosso. Ela faz parte da história de resistência e luta por uma vida livre e sem correntes. Não se sabe se ela foi executada ou se cometeu suicídio ao ser capturada, mas sua importância era tanta que sua cabeça foi exibida no centro do quilombo pelos escravocratas após sua morte.

Apesar dos poucos registros e do total apagamento da nossa história, as mulheres negras foram grandes lideranças em diferentes quilombos, que tanto resistiram contra a opressão da escravidão.

O dia 25 de julho é o dia da Rainha Teresa. Dia das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas. Dia de resistir contra as opressões das quais somos vítimas todos os dias. 68,8% das mulheres que são mortas por agressão são negras, e esse é só um exemplo. O feminicídio negro no Brasil aumentou 54,2%, enquanto o feminicídio de brancas diminuiu 9,8%. A nossa luta é por vida e por resistência.

Angela Davis, em sua palestra na UFRB, fala que as mulheres negras já nascem com um programa anticapitalista, mesmo sem saber o que é capitalismo. Isso porque elas já se auto-organizam por aquilo que o capitalismo nos tira: saúde, emprego, saneamento básico, direitos, educação. Já somos, em nossa essência, resistência.

Ainda há muito que formular no feminismo brasileiro para que ele seja cada vez mais representante da maioria das mulheres, as negras. Sabemos que já há muita formulação sendo feita, mas ainda temos que ir adiante. É preciso demarcar cada vez mais que o feminismo revolucionário e marxista é necessariamente o feminismo negro. Não poderia ser diferente: raça e classe no Brasil (e em vários lugares do mundo) estão completamente conectados. Não é à toa que temos dados tão aterrorizantes do aumento do encarceramento de mulheres negras no Brasil. Assim como não é à toa que temos tantas empregadas domésticas negras e tão poucas donas de meios de produção. A formação da estrutura social brasileira foi feita para que os negros estivessem sempre na base da pirâmide social. Fomos escravizados e hoje somos aqueles com subempregos e a maioria dos desempregados no país.

É por isso que precisamos construir um feminismo internacional descolonizador. O feminismo negro ainda é muito acadêmico e precisamos fazer com que ele chegue onde ele é mais necessário: nas classes mais oprimidas, onde a predominância é de mulheres negras. O fato é que o feminismo classista é, em si, negro. Não poderia ser diferente no Brasil: se as mulheres negras estão nas periferias é lá que temos que estar! Porque elas já desafiam o machismo todos os dias: sobrevivendo contra a violência, lutando contra as estatísticas.

Esse feminismo negro descolonizador precisa ser produto da formulação e da luta com as mulheres negras da periferia. Porque ele já é pensado por elas todos os dias, mas ainda não conseguimos juntar as forças!

Somos resistência e luta! Devemos arrancar do patriarcado não apenas a remuneração do trabalho doméstico e sua regulação (com a lei das domésticas). Temos que lutar por salários decentes — contra a enorme desigualdade salarial e a remuneração extremamente baixa –, além do direito à aposentadoria para as donas de casa. Dizemos que não somos mais apenas personagens, sempre fomos e seguiremos sendo protagonistas!

Nos Estados Unidos, Davis conta que o próprio movimento Black Lives Matter nasce também com a pauta das empregadas domésticas, vai se ampliando, entendendo que esse tema se liga diretamente com a luta contra o genocídio e a violência policial. Às mulheres negras nunca foi negado o direito ao trabalho, pelo contrário, desde sempre nos foi imposto. Mas a nossa luta contra a escravidão, por mais direitos, pelas regulamentações, nos coloca cada dia mais como as grandes donas de nossa história! Desde Dandara e Rainha Teresa sempre foi assim!

Nossa luta é tão forte e essencial contra a estrutura capitalista que a arrastamos ao nosso redor. Seja em nosso favor ou numa contraofensiva, nossa luta muda o mundo. Nos Estados Unidos, Trump é uma forma de contraofensiva, mas também no Brasil podemos citar tanto figuras autoritárias e racistas como também movimentos que tentam deslegitimar nossa luta.

Por isso, precisamos seguir a mobilização. Nesse 25 de julho, precisamos ir além. A crise econômica e política não são nossas: não pagaremos a conta. Se a casta política está em crise, que sejamos nós aquelas que dão o último empurrão rumo ao fim. A luta contra as reformas trabalhistas (que são um retrocesso inclusive das vitórias que nós tivemos com muita luta nos últimos anos) e da Previdência precisa ser a nossa prioridade. É por nós, nossa classe, nossas vidas.

Hoje é dia de Rainha Teresa, e que ela seja nossa grande inspiração! Se somos, em nossas lutas diárias, as grandes lutadoras, não aceitaremos menos do que tudo! É a nossa hora! Sigamos em luta até que os nossos sejam completamente livres!


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