Resistência curda e as lutas democráticas

A resistência curda ao DAESH vem dando um novo ânimo no que se refere à luta LGBT e à luta das mulheres no Oriente-Médio.

Cindy Ishida 29 jul 2017, 13:02

Todos os olhos estão voltados para para a Síria. O Oriente Médio foi exotificado e instrumentalizado desde a consolidação do Estado Moderno europeu, as riquezas naturais e complexidade étnica e religiosa atraíram a ganância dos imperialistas durante os séculos. A região é geograficamente estratégica, ponte de acesso entre três dos cinco continentes do mundo. Segue sendo peça fundamental no tabuleiro do imperialismo para garantir a exploração e dominação dos povos do mundo.

Atualmente o epicentro da guerra entre os imperialistas é a Síria: EUA são aliados da Arábia Saudita e a Russia é aliada da Síria, de Bashar al-Assad, a Turquia de Erdogan também ataca com unidades de ação oscilantes. O povo curdo se espreme entre esses interesses, o que inicialmente seria uma guerra por independência nacional e defesa da autodeterminação de um povo com direito a território, toma grandes proporções pois coloca no seio da região mais disputada do mundo a contradição no discurso liberal que o capitalismo defendeu durante o início desse século. A luta por autodeterminação do povo curdo tem o contorno de luta anti-imperialista, pois o triunfo desse povo sem país tem de significar a derrota dos interesses russos e estadunidenses na região.

Os curdos são o pólo mais dinâmico que trava uma batalha em várias frentes contra também o fundamentalismo religioso, na figura do DAESH (conhecido como Estado Islâmico no Ocidente), e tem conseguido impor derrotas importantes. Apesar da derrota em Aleppo, no Iraque libertaram Mossul no mês passado, Kobane na região de Rojava resiste no Oeste. Propagandear essas vitórias é muito importante, pois existe esperança para os anti-imperialistas no mundo e a inspiração brota uma bela flor no Curdistão.

O descaso da ONU é uma política dos Governos que não se esforçam para garantir ajuda humanitária na região, mas sim para orquestrar os bombardeios. A resistência curda é um exemplo de como operar para conectar as partes e o todo: demandas democráticas convergem para o fortalecimento mútuo da resistência em várias frentes.

A luta das mulheres

Décadas de guerra assassinaram boa parte dos homens adultos, séculos de opressão feminina gestaram revolta e solidariedade, se traduziram em autorganização. As curdas, como a maioria das mulheres do mundo são chefes de família. Como mulheres em zona de guerra são subjulgadas pelo belicismo que cala, estupra e mata. O exército feminino que atua em Rojava, o YPJ (Unidades de Defesa das Mulheres), é um exemplo da totalidade que uma luta democrática consegue traduzir. Retomaram Kobane em 2015 e resiste fazendo seu segundo aniversário.

As nove mil guerrilheiras do YPJ estão fugindo de casamentos obrigatórios que o islamismo impõe, defendendo um futuro digno para seus filhos, não se deixam ser vítimas de um sistema que as exclui, se tornam parte ativa da transformação que precisa acontecer. Nas palavras de uma combatente “Eu faço parte desta resistência não apenas como uma curda que se chama Meryem Kobane, mas também como se fosse uma mulher africana, vietnamita, latino-americana ou europeia, representando todas elas nesta cidade. Eu estou aqui em nome de qualquer mulher do mundo porque sou parte delas.” Essa frente representa o maior medo de um jihadista do DAESH, que acredita que se é morto por uma mulher não pode entrar no reino dos céus. Essa frente é ligada ao PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos), construindo uma disputa de poder organizada que se postula como direção para a revolução.

Esses viados matam facistas

O exército de insurreição e libertação Queer (TQILA), é uma frente LGBTIQ que luta contra o DAESH ao lado do povo curdo e é uma novidade muito positiva para avançar nas relações entre as partes. “ As imagens de homossexuais sendo jogados de edifícios e apedrejados até a morte pelo DAESH são cenas que não podemos simplesmente assistir sem fazer nada a respeito”, diz seu manifesto de apresentação. Formado por estrangeiros e locais que se organizam após o ataque da boate Pulse, tradicional das LGBT em Orlando, entram em combate sendo a melhor resposta possível no aniversário do ataque terrorista reivindicado pelo DAESH.

A frente é anticapitalista e sinaliza uma mudança de qualidade que pode despontar. A TQILA declara ser uma organização anarquista que luta contra “ autoritarismo, o patriarcado, a heteronormatividade opressiva e a LGBTfobia” e reivindica a experiência do YPJ.

Curdos em um impasse

Apesar da força da solidariedade internacional, se intensificou a ofensiva imperialista após a subida de Trump ao poder nos EUA. É necessário exaltar as vitórias curdas, mesmo que parciais e construir solidariedade ativa, por exemplo, em torno da libertação imediata de Abdullah Öcalan, liderança do PKK em prisão perpétua na Turquia. Infelizmente a frente Iraquiana de combate curdo não é tão avançada na tarefa de dar voz as demandas democráticas, mas Rojava ensina que isso é possível e necessário. Golpear forte o imperialismo no Oriente Médio é uma tarefa estratégica para o Socialismo. O Curdistão oferece munição importante aos ativistas do mundo: unidade na diversidade tem um grande potencial mobilizador para alcançar vitórias.


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