“O sistema está todo corrompido”

Luciana avalia nesta entrevista os governo do presidente Michel Temer e do governador José Ivo Sartori, ambos do PMDB, e reflete sobre a falta de mobilização popular contra Temer.

Luciana Genro 20 set 2017, 13:07

Candidata a presidente da República em 2014 e a prefeita de Porto Alegre em 2016 pelo PSOL, Luciana Genro deve disputar uma vaga à Câmara dos Deputados no ano que vem. Embora tenha se colocado à disposição para concorrer a presidente, ela mesma defende que o candidato seja do Rio de Janeiro. A tendência é de que o deputado Chico Alencar seja o nome.

Crítica do PT, partido do qual foi expulsa em 2003, e defensora da Operação Lava-Jato, Luciana avalia nesta entrevista os governo do presidente Michel Temer e do governador José Ivo Sartori, ambos do PMDB, e reflete sobre a falta de mobilização popular contra Temer.

Juliana Bevilaqua – A senhora é uma defensora da Lava-Jato. O que mais esperar da operação?

Luciana Genro – A gente precisa olhar para a Lava-Jato como um fenômeno de luta contra a corrupção e que está desmascarando não o PT, mas o sistema político brasileiro, mostrando essas relações espúrias que existem entre partidos e empresas, como é o caso da JBS, da Odebrecht, da OAS e tantas outras. Essa última denúncia do Janot (contra Temer), por exemplo, é muito interessante porque demonstra essa conexão entre os esquemas que existiam nos governos Lula/Dilma e os que existem agora no governo Temer, que são praticamente os mesmos com personagens um pouco diferentes, mas com essência idêntica. Creio que é muito importante, porque oferece uma transparência sobre como esses esquemas funcionam para que a sociedade possa se organizar para lutar contra essa realidade. Não é o Poder Judiciário que vai acabar com a corrupção. É a própria sociedade, a partir da sua ação política de mudança, que pode fazer com que esse fenômeno possa resultar em algo positivo, e não apenas em um grande desencanto das pessoas.

Não há pressão popular nas ruas tão grande contra Temer como havia contra Dilma. Por que isso acontece?

Citaria o desencanto das pessoas, a desesperança, a falta de alternativa, porque em relação aos governos Lula/Dilma, muitos ainda poderiam acreditar que a mudança de governo significaria o fim dos esquemas. A medida em que a operação foi avançando e que trocou o governo, as pessoas estão percebendo que não adianta trocar o governo, porque o sistema está todo corrompido. Vejo que há esse desânimo de ir para a rua para derrubar o Temer porque as pessoas não enxergam possibilidade de mudança concreta. Isso também se combina com o fato de que há uma diferença grande na cobertura que a mídia faz das manifestações. Durante os governos Lula/Dilma, a mídia, e aí me refiro especialmente à Rede Globo, chegava a dar ao vivo, em tempo real. Agora o tratamento é bastante distinto. Tem ainda outro elemento, que é o fato de que o PT, que ainda é o partido que tem maior força junto aos movimentos sociais organizados, como CUT e MST, está tão envolvido na corrupção que não tem vontade e até autoridade política para ganhar o povo para ir à rua, porque as razões para derrubar Temer seriam as mesmas para condenar Lula, por exemplo. O PT está mais ocupado em defender os seus.

A senhora é criticada pela esquerda por defender a Lava-Jato. Como encara?

Com muita tranquilidade, porque a maior parte dessa esquerda que me critica é vinculada ao PT e ao Lula e, portanto, obviamente, só pode enxergar na Lava-Jato aspectos negativos. Vejo (a operação) como um fenômeno positivo, o que não significa que o processo penal brasileiro seja justo. Sou advogada especializada em processo penal e senti na pele como há dificuldade gigantesca do acusado, principalmente quando é pobre, negro ou é acusado de envolvimento com o tráfico, de ter um julgamento justo. O nosso processo penal é extremamente “punitivista”. Nossos juízes, e o (Sérgio) Moro é um exemplo claro disso, são muito mais inquisidores do que julgadores imparciais. Há uma discussão a ser feita sobre o processo penal brasileiro, porque, em geral, ele prejudica as pessoas mais pobres. Mas não é o caso dos acusados na Lava-Jato. Esses, apesar de sofrerem um linchamento público, e isso faz parte da vida, porque quem se envolve em corrupção está sujeito a essa exposição, têm advogados pagos a peso de ouro e têm tido todas os recursos respeitados.

Qual sua avaliação sobre o governo Temer?

Um desastre absoluto. A prova de que o que está ruim sempre pode piorar. Dilma iniciou seu segundo governo de forma desastrosa, nomeando Joaquim Levy para fazer o ajuste fiscal e perdeu, por isso, legitimidade e apoio social e foi tão fácil fazer o impeachment, porque não houve reação popular em defesa do governo. Temer conseguiu ser um milhão de vezes pior, porque aprofundou esse ajuste que a Dilma vinha preparando de uma forma que trouxe crise econômica brutal, desemprego galopante, queda na renda dos trabalhadores e uma continuidade ou talvez até uma ampliação dos esquemas de corrupção. A gente está diante de um retrocesso político com a Reforma Trabalhista. E a ameaça da Reforma da Previdência, que acho que felizmente não vai conseguir avançar, porque o governo está paralisado para organizar a sua própria defesa e garantia de permanência.

E o governo Sartori?

O Sartori é o desgoverno. A gente vê uma crise aguda das finanças do Estado, onde os servidores públicos estão sendo duramente penalizados. Isso gera uma desestruturação brutal do serviço público. Nossa educação pública, que já vinha mal, está numa crise aguda e profunda, porque o professor não está ganhando um salário sequer para se manter, sequer ganhando aquele salário integral que já era muito baixo, e agora tendo de sobreviver boa parte do mês com R$ 350. Ao mesmo tempo, a gente vê incentivos fiscais para empresas que não geram praticamente nada de empregos.

Quais os seus planos para 2018?

Me coloquei à disposição do partido para ser novamente candidata à presidência, afinal, disputei em 2014, e o balanço foi extremamente positivo. Temos uma regional do PSOL muito forte no Rio de Janeiro e eu, inclusive, ao colocar o meu nome à disposição, apontei o Rio como o Estado que deveria nos oferecer o próximo candidato a presidente, a partir do Marcelo Freixo e do Chico Alencar que representam esse movimento que se criou no Rio de Janeiro a partir da candidatura a prefeito do Marcelo, que foi um grande sucesso e chegou ao segundo turno com muita força. Está se construindo um consenso no PSOL de que seria o Chico Alencar o nosso candidato e nesse caso, então, eu vou disputar uma vaga de deputada (federal) pelo Rio Grande do Sul.

(Entrevista realizada e publicada no jornal Pioneiro.)


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