Villas Boas, a extrema direita e a necessidade de uma alternativa

Roberto Robaina, dirigente do PSOL, comenta sobre as declarações do general Villas Boas, a extrema direita e a necessidade de uma alternativa.

Roberto Robaina 4 abr 2018, 16:00

O general Villas Boas deu declarações públicas fazendo considerações sobre a política às vésperas de um polêmico julgamento do STF. Independente de seu conteúdo, um comandante do exército entrar na luta política, ainda que tente se apresentar como imparcial e defensor da Constituição, fortalece os setores da cúpula militar que vêm expressando posições reacionárias e fascistas, como a do general Mourão que, recentemente, reivindicou o regime militar e sua ditadura, marcada por perseguição, prisões e torturas aos opositores. Num país em que o entulho autoritário não foi removido, quando sequer os torturadores e seus mandantes foram punidos e os arquivos da ditadura jamais foram abertos, é sempre necessário o movimento democrático, a luta dos trabalhadores e da juventude estar alerta e repudiar com veemência as manifestações e a ingerência destas forças armadas na política.

O PSOL se manifestou corretamente contra as posições do general. Os líderes do PT, inclusive a presidenta do partido, Gleise Hoffman, por sua vez, declararam que o general adotou uma posição correta de defesa da Constituição. O deputado federal Marco Maia, do PT gaúcho, chegou a definir que Villas Boas deu um recado aos fascistas. Os líderes do PT ao assumirem essa posição uma vez mais confundem a vanguarda ativista e desarmam a luta do povo. Villas Boas, mesmo tendo sido um general respeitado pela esmagadora maioria das forças que se declaram democráticas, sendo respaldado pelo PT, atuou dando espaço para a extrema direita no interior das forças armadas. Por isso é grave que o PT não tenha denunciado isso. Talvez a posição de condescendência com a declaração do general seja um cálculo de que a decisão do STF seja favorável a Lula. Neste caso, a defesa da ordem e da constituição declarada pelo general seria um alerta contra forças de extrema direita que queiram fazer onda anti PT na esteira desta decisão contra sua popular bandeira (popular pelo menos diante de uma parcela da população). Se esta é a motivação do PT, creio igualmente que estão errados.

Tal erro do PT é ainda mais relevante porque faz três anos que o partido trata de mobilizar o medo como principal afeto da política nacional ao declarar que o país estava diante de um golpe como ocorreu em 1964. Diante da realidade a cúpula do partido adaptou o discurso e qualificou o impeachment como golpe parlamentar, o que é qualitativamente diferente de um golpe contrarrevolucionário como foi o de 1964. Esta diferença não é qualquer diferença já que trata da relação de forças entre as classes e as tarefas que daí se depreendem. Nós estamos entre aqueles que afirmam que as lutas dos trabalhadores têm possibilidades de avanços e que deve ser ofensiva, não apenas defensiva. De que se pode vencer até mesmo no difícil terreno da economia, onde a contrarrevolução econômica é evidente. A vitória dos trabalhadores e dos professores de SP contra a reforma da previdência de Dória prova isso. Somos daqueles que sabem igualmente que no capitalismo o que os trabalhadores conseguem conquistar logo é atacado pela burguesia. E que a burguesia trata de tirar o dobro do que é obrigada a conceder. Por isso é necessário uma alternativa anticapitalista.

Na construção de uma alternativa hoje se enfrenta uma situação nova no Brasil: pela primeira vez, depois de décadas, a extrema direita cresceu no Brasil. A construção de uma alternativa exige e pressupõe a necessidade de combater as posições fascistas. Acreditamos que parte deste crescimento da extrema direita se deu na esteira da decepção popular com o PT, mas é igualmente certo que o PT é hoje um alvo do ataque desta extrema direita. E de nossa parte, que fomos oposição de esquerda aos governos do PT, sempre que o PT é atacado pela extrema direita, assumiremos um lugar de defesa do PT. Defender o PT dos ataques da extrema direita, porém, não deve ser confundido com a defesa da política do PT, nem com o que foi feito pelos governos petistas. Nem tampouco com o que o PT tem defendido. Foi a cúpula do PT, por intermédio de sua influência na CUT, que boicotou, por exemplo, a continuidade da greve geral de 28 de abril de 2017, que certamente poria em xeque as reformas neoliberais de Temer, em particular a reforma trabalhista. E mais que isso, a continuidade e o aprofundamento das lutas sociais é o único caminho para derrotar o fascismo. Também é importante separar o joio do trigo no que diz respeito à corrupção. Neste tema tampouco é aceitável dar um atestado de inocência para qualquer um dos partidos que sustentam este regime chamado democrático mas que tem se demonstrado cada vez mais uma ditadura dos capitalistas. Infelizmente isso vale também para a cúpula petista que aceitou ser gerente deste estado capitalista e adotou seus métodos.

Assim, somos conscientes de que a corrupção é generalizada entre os partidos deste regime político. Tal definição, entretanto, não nos leva a defender a prisão de Lula. Esta é a bandeira das forças de direita. Uma bandeira que não é inocente. Eles não têm nas mãos deles a bandeira da justiça. São defensores de um regime anti-popular. Se politicamente não estamos a favor da prisão de Lula, num país em que políticos burgueses corruptos estão governando o país, quando os partidos burgueses são por eles comandados, enquanto a mídia e as grandes empresas capitalistas tiveram fartas relações com tenebrosas transações, não estamos entre os que se enquadram numa frente chefiada por Lula. Lula não é nosso líder e enquanto seu comando sobre as principais instituições dos trabalhadores não for superada – negada e superada – a direita e a extrema direita não serão derrotadas. Então, aceitamos a unidade com o PT quando instituições dos trabalhadores e do povo forem atacadas. E o PT enquanto instituição deve ser defendido quando está sendo atacado pelas forças burguesas sejam elas quais forem. Mas mais do que nunca esta unidade, quando ocorrer, deve ser combinada com a total independência do PSOL. Com as posições do PSOL expressas de modo claro, não aceitando uma posição de subordinação a liderança por mais populares que tenham sido.


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