Eles comercializam armas, nós internacionalizamos as lutas
Existem paralelos entre a política militar nacional e israelense que dão sentido a uma luta comum entre palestinos e brasileiros.
Do Brasil à Palestina, contra a militarização
Nos 70 anos de fundação do Estado de Israel, imagens de festas e bandeiras de comemoração, se misturam com protestos de palestinos e amigos em torno do mundo. A de maior impacto está ocorrendo na fronteira da Faixa de Gaza aonde milhares de palestinos exigem a sua garantia de retorno da terra expulsa. Sitiados e com as fronteiras fechadas, estas manifestações legítimas são recebidas por uma chuva de balas que nas últimas semanas já matou dezenas de palestinos e feriu outras centenas. A situação se agravou tanto que nos últimos dias a Anistia Internacional chamou aos povos que defendem os direitos humanos um embargo militar, com o objetivo de frear os ataques de Israel e garantir as manifestações dos palestinos.
Longe de ser uma iniciativa isolada de soldados ou do governo, a ideologia sionista tem como um dos pilares estruturantes da sociedade que constrói o militarismo como organizador do medo e do inimigo interno e externo. O reflexo disso vai além do conflito armado ou da repressão a um povo, aspectos da vida social também são permeados por isso como a importância econômica da indústria armamentística ou as prioridades de estruturação das ciências. Por isso o texto busca apontar as origens e como o Brasil se tornou um importante fiador deste Estado.
Ainda no período do Mandato Britânico (1920 – 1948), em 1941 se estabeleceu no território da Palestina a força de comando Palmach. Estes, chamados de “lutadores” foram extremamente importantes para a consolidação do Estado, sendo os responsáveis por promover operações de invasão e destruição das vilas locais, tanto palestinas – predominantemente – quanto sírias e até judaicas – minoria. O objetivo destas investidas era exatamente expulsar os antigos moradores para conquistar territórios naquela que seria a “terra prometida”.
Conforme historiadores e relatos dos próprios membros do Palmach, ordens para realizar massacres em regiões como Haifa, com o intuito de causar o esvaziamento também das aldeias de Yajur e Balad-al-Sheikh, eram cotidianas. Essas ações sionistas foram acontecendo até que, em 1948, com o fim do Mandato Britânico, Israel se declara como um país independente com o aval das Organizações das Nações Unidas. Essa ocupação repentina e chancela internacional fortaleceu o movimento no sentido de avançar militarmente não apenas para garantir o território da partilha, mas avançar sobre o espaço palestino.
A influência militar vai muito além da origem belicosa da conquista dos territórios e tem na educação um reduto importante. Neste sentido o serviço militar é obrigatório para a maior parte da população, sendo três anos para os homens e 2 para as mulheres, a ser cumprido após a conclusão do ensino médio. Após isso, a pessoa fica nas forças armadas reservistas, tendo que servir um mês por ano até os 55 anos.
Eles servem o exército apenas após concluído o Ensino Médio, todavia, tanto institucionalmente quanto empiricamente, acabam internalizando e naturalizando tal situação. Há um grande convívio entre os estudantes e militares, sendo um exemplo, que os israelenses vão pelo menos três vezes ao Museu Yad Vashem – Museu do Holocausto – durante o período estudantil: uma quando criança, outra no Ensino Médio e outra com o exército. Além disso, cada vez mais estão surgindo escolas militares preparatórias e, somado a isto, em todas as propagandas e lugares de convívio há soldados armados, criando uma normalização do militarismo.
O cotidiano bélico está presente na vida dos israelenses, sendo isto justificado por um discurso de que a população deve estar sempre pronta para uma possível guerra, para uma possível ameaça. A sociedade é movida tanto pelo discurso do medo quanto da violência. A criação dos Árabes, Muçulmanos e Palestinos como inimigos internos e externos é um ótimo pretexto para encobrir lideres corruptos e diversos problemas que vivem internamente dentro da sociedade israelense.
Essa ideia, utilizada como justificativa de práticas políticas, mostram a grande influência nesses âmbitos. No entanto, onde a militarização é mais intrínseca é na dimensão econômica, com o país ocupando um dos primeiros lugares em despesas com serviços militares e consequentemente, um dos maiores provedores de indústria bélica, exportando para diversos países.
O Brasil se encontra neste quadro. Sendo o quinto maior importador de armas israelenses, o país contribui tanto com essa indústria bélica que é responsável pelas grandes repressões contra os palestinos, quanto para a militarização e controle da própria sociedade brasileira.
Em 2015, a Organização das Nações Unidas soltou um relatório condenando o governo e a polícia militar brasileira pela política de “limpar o terreno” para as Olimpíadas de 2016 expulsando e atacando inúmeras comunidades pobres do Rio de Janeiro. Muitos desses treinamentos, armas e tecnologia de segurança foram treinadas e executadas na palestina, um bom exemplo desta época são crimes no Campo de Aida na Cisjordânia.
Outro bom exemplo de tecnologia Israelense é a da empresa Elbit Systems. A maioria e principais equipamentos utilizados nos checkpoints das fronteiras com a Cisjordânia para controlar e limitar a movimentação dos palestinos são desta empresa, que agora busca criar um Estado vigilante a partir de um acordo com o governo do Rio Grande do Sul a partir dos seus drones para um controle aeroespacial do estado.
Estas e outras conexões que se faz entre as práticas militares daqui e de Israel não são por acaso e estão longe de representar a exceção. Os palestinos servem quase como um laboratório de testes de tecnologias de guerra que Israel exporta para os outros países, indo de armas até técnicas de treinamentos militares.
Falar sobre os casos de racismo e de genocídio da população negra e periférica no Brasil, falar sobre a execução da Marielle e do Anderson e de muitos outros casos que marcam a polícia militar brasileira, é falar também sobre a aliança do Brasil com o Estado de Israel, que de um lado fortalece e legitima o Apartheid e de outro mata cada vez mais a nossa população.
Neste sentido, é fundamental que o nosso país reveja todos os acordos com o Estado de Israel, especialmente atenda o chamado da Anistia Internacional e embargue a indústria bélica israelense a fim de conter o avanço e ataques ao povo palestino e lute também contra este comércio que ataca nossa juventude e movimentos sociais. Em momentos como este é fundamental ampliarmos a solidariedade internacional para vencer nossas luta. A luta pelo direito ao retorno do povo palestino, contra o apartheid, contra os assentamentos na Cisjordânia é tarefa de todos nós. Barrar a vinda dos blindados israelense que atacam a nossa juventude brasileira é sabotar o apartheid de Israel. Nossa única alternativa é internacionalizar as lutas e travá-las, indo do Brasil à Palestina.