Netanyahu distorce a historia

O primeiro-ministro israelense atuou junto ao governo polonês para aprovar uma lei que busca reescrever a história ignorando a colaboração polonesa ao nazismo.

Michel Warschawski 30 jul 2018, 08:25

Benjamin Netanyahu, -o sem-vergonha que um dia se atreveu a acusar a esquerda israelense de ter se esquecido de que era ser judeu -, acaba de assinar com o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, um documento no qual isenta “a nação polonesa em seu conjunto” pelo genocídio de dois milhões de pessoas judias durante a Segunda Guerra Mundial. No documento oficial ditado pela direita ultraconservadora polonesa, falsificaram-se fatos históricos, seguindo uma argumentação grosseiramente negacionista.

Quando se conhece a instrumentalização sistemática da luta contra o antissemitismo pelo primeiro-ministro israelense e seus órgãos de propaganda para calar a boca de quem se atreva – em particular se é de esquerdas – a criticar sua política, fica-se duplamente surpreendido por esta declaração. Para não dizer desencorajado.

No entanto, faço parte da minoria de pessoas judias de mais de 60 anos que se negou sempre a acusar o povo polonês do genocídio cometido em seu país ao mesmo tempo que insisto no fato de que milhares de cidadãos e cidadãs polonesas puseram em perigo – inclusive sacrificaram – sua vida para proteger famílias judias. Como em todos os países ocupados pelos nazis, Polônia contava com uma minoria de gente malvada e corrupta, uma pequena minoria de pessoas justas – mais do que se pensa- e uma maioria que fechou os olhos e deixou acontecer, esforçando-se para sobreviver nas duras condições impostas pela ocupação nazi.

O que não impede que a Polônia tenha sido o cemitério de mais de dois milhões de pessoas judias massacradas pelo nazismo, mas também por pessoas polonesas nacionalistas ou simplesmente apodrecidas por séculos de antissemitismo católico. O fato de que o nazismo desprezasse o povo polonês, assim como o conjunto dos eslavos, e que numerosos poloneses fossem vítimas da ocupação nazi não apaga esta participação ativa de uma parte importante da sociedade polonesa no judeucídio. O mesmo se pode dizer, por outro lado, de Holanda, Bélgica e França, em proporções certamente não comparáveis.

Yad Vashem, o mais importante centro de arquivos e de investigação sobre o judeucídio, denunciou severamente a declaração Netanyahu-Morawiecki, assim como a nova lei memorial votada pela Dieta [Câmara baixa do Parlamento polonês] e aprovada também pelo Primeiro-ministro israelense. Esta lei criminaliza a toda pessoa (dedicada a investigação, à política ou bem seja uma cidadã ordinária) que implicasse a responsabilidade polonesa no massacre de pessoas judias. Inclusive Naftali Bennett, o ministro israelense de Educação e chefe do partido de extrema-direita ultranacionalista e religioso O Lar Judeu, criticou duramente a declaração, a qual qualifica de “vergonha saturada de mentiras” – “Como Ministro da Educação responsável por promover a história do Holocausto, a rechaço de A a Z”, declarou.

O vice-ministro polonês de Assuntos Exteriores reagiu com um cinismo – “o que conta é a assinatura de Netanyahu, não a declaração de Yadd Vashem” – que expõe a extensão da ignomínia na qual o primeiro-ministro israelense deliberadamente se afundou.

Esta decisão abjeta remete à estratégia, e não ao oportunismo diplomático, como havia ocorrido nas relações entre Israel e África do Sul ou as ditaduras militares na América Latina: o que une Netanyahu com Morawiecki, Orban (primeiro-ministro da Hungria) e outros líderes da extrema-direita da Europa central e oriental, são valores comuns e a vontade de criar uma frente europeia capaz de molestar os chamados Estados liberais aos quais desprezam. Estes valores são o ultranacionalismo, o racismo, a xenofobia e em particular o ódio às pessoas migrantes.

Último exemplo desta comunidade de pontos de vista: a retirada forçada pelo Governo polonês da presidenta do Tribunal Supremo e seu controle sobre a nomeação dos juízes. São exatamente os mesmos planos de Netanyahu em relação ao Tribunal Supremo israelense, já empreendidos pelo Ministro da Justiça Ayelet Shaked que não oculta que a seus olhões, e aos de seu patrão, a independência judicial é um obstáculo para sua concepção populista da democracia.

Fonte: http://vientosur.info/spip.php?article14040


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