A bolsonarização da esquerda amazonense

Em função do tempo de TV e recursos financeiros, partidos ditos de esquerda vêm manifestando apoio ao direitista.

Luiz Fernando de Souza Santos 8 ago 2018, 11:57

Último dia das convenções partidárias para as eleições de 2018 no Brasil. O resultado é sombrio. No Amazonas, em função do tempo de TV e recursos financeiros, a escalada da bolsonorização dos ditos partidos de esquerda é uma tônica.

David Almeida, candidato ao governo pelo PSB, tenta consolidar uma chapa que reúne para a disputa ao Senado o bolsonarista Chico Preto e o petista Praciano. Neste caso, as disputas em âmbito nacional têm rebatimento na paróquia: para sufocar, isolar, a candidatura de Ciro Gomes (PDT), a cúpula do PT e do PSB negociaram a neutralidade deste último na corrida presidencial e garantiram, ainda para o PSB, apoio às candidaturas de governador em quatro estados: Pernambuo, Paraíba, Amazonas e Amapá. No Amazonas, então, teremos uma chapa em que um dos candidatos ao Senado, Chcio Preto, disse o seguinte dias atrás: “eu, convictamente, vou votar no Jair Bolsonaro, é o candidato que me passa a convicção de ter o compromisso de verdade de enfrentar os problemas que o Brasil está enfrentando…”. O PT sabe melhor do que ninguém até onde podem chegar decisões baseadas em convicções, mas mesmo assim, opta por levar construir uma aliança que levará Praciano a caminhar lado a lado com Chico Preto e David Almeida, que há tempos flerta com Bolsonaro.

Mas, a bolsonorização da esquerda amazonense não se dá exclusivamente em função dos movimentos táticos do PT. Em movimentos preparatórios ao voo para a disputa ao governo do Amazonas, David Almeida mirou ou esteve na mira de Bolsonaro. Foi assim em viagem à Brasília em dezembro de 2017; também foi assim quando o candidato ao governo buscava por uma sigla partidária que o abrigasse e teve as portas do PSL, partido de Bolsonaro, abertas para si. Em 2015, quando do debate na ALE-AM sobre a concessão da Comenda do Mérito Legislativo, proposta por por Platiny Soares, à Bolsonaro, David Almeida fez uma defesa instransigente da homenagem ao deputado federal. Os afagos com Bolsonaro não foram elementos suficientes para que o PcdoB e setores do PSOL não se iclinassem a apoiá-lo. Na primeira Conferência política do PSOL, passando por cima das instâncias de decisão, a Presidência Estadual do partido convidou David Almeida. No bairro Morro da Liberdade, em 7 de junho, quando, em sua residência David Almeida anunciou sua pré-candidatura, estava ele ladeado pelo PCdoB e pelo PSOL. Da Presidente do PSOL foi possível ouvir o seguinte naquela noite: “Não temos outro caminho a não ser caminhar ao seu lado”. Felizmente, no caso de PCdoB e PSOL, após as convenções, não se confirmou a marcha ao lado de figuras políticas que explicitamente se inclinam a apoiar Bolsonaro.

Aqueles que fazem, à esquerda, o exercício de bolsonirização vão objetar observando que em política é assim mesmo, que na defesa de causas maiores e mais nobres, no caminho é possível construir acordos menores, pois acordos são passageiros. Todavia, tal argumento é frágil ao extremo. Quem o defende não é capaz de perceber que a precarização na era do neoliberalismo é tão profunda que levou a argumentação da tática politica a uma rebaixada ética de empreendedor.

E com esta ética rebaixada, que, conforme Judith Butler, em “Corpos em Alianças e a Política as Ruas”, caminha de mãos dadas com a crueldade, não há um horizonte de alternativa emancipatória para os amazonenses. Os conchavos cínicos, que flertam perigosamente com Bolsonaro, reafirmam a cruedade das ruas de Manaus: chacinas, narcotráfico, corpos decapitados, indigência, abandono.

A contraposição entre as esquerdas do Amazonas à bolsonorização é a reafirmação de uma existência além do deserto do real que estes tempos temerosos nos impõem. É preciso lutar, resistir, emancipar. Atrás de Bolsonaro só vai quem já enterrou suas utopias pós-capitalistas. Ou sequer soube da existência delas.

É necessário ir além de um cálculo político que aposta numa separação entre os bastidores da política e a materialidade da vida na rua. Nesta separação, os bastidores da política são marcados por negociações, conchavos, arranjos, que que rebatem eaprofundam a existência precarizada. Desse modo, supor apoior a Bolsonaro, ou caminhar em alianças políticas com quem o apoia, é negar as ruas e suas lutas; é negar a tercerização, o trabalho sem direitos, os salários de miséria, a morte da juventude negra na periferia, o feminicídio etc; é reafirmar a destrutibulidade do Programa Escola Sem Partido, o horror da Base nacional Comum Curricular proposta por Temer e que suprime o debate sobre gênero e orientação sexual, a política de corte de gastos públicos e a privatização de bens e serviços nacionais, entre tantas outras medidas destrutivas

No espectro político-partidário só a esquerda pode reconectar as ruas e a política. Também, a esquerda pode acelarar e aprofundar esta separação. Urge pois uma posição crítica, radical, dos setores à esquerda dos ditos partidos de esquerda que refutem os exercícios de bolsonirização.


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