Um legado maior do que o mito

Hoje completam-se 78 anos de um dos assassinatos políticos mais importantes do século XX.

Israel Dutra 21 ago 2018, 15:39

Hoje completam-se 78 anos de um dos assassinatos políticos mais importantes do século XX. O golpe desferido por Ramom Mercader, militante do Partido Comunista Espanhol, contra o crânio de Leon Trotsky silenciou o principal opositor do regime estalinista. O feito, realizado na cidade mexicana de Coyacan, uma conspiração organizada internacionalmente, selou um processo de perseguição e expurgos, já iniciados anos antes, contra os revolucionários russos que não aceitavam o termidor de Stalin.

A burocracia soviética transformou, não sem utilizar dos piores métodos, uma das maiores conquistas da esquerda mundial, a Internacional Comunista, num aparelho policial e diplomático a serviço de seus interesses. Trotsky foi deportado, caluniado e perseguido. Sua família foi destruída, Leon Sedov, seu filho e um dos seus principais aliados políticos foi assassinado em 1938. Sua filha se matou fruto de terríveis complicações emocionais. Desterrado, passou quase uma década entre a necessidade de buscar um país que lhe aceitasse como exilado, a organização da oposição de esquerda e sua defesa moral contra as calúnias de Stalin (a célebre Comissão Dewey, liderada pelo renomado pedagogo americano, com a presença de nomes como John dos Passos e Alfred Rosmer). Trostky não deixou de empreender seu combate mais importante: construir uma alternativa pela esquerda ao modelo estalinista.

O “socialismo real” não poderia ser associado como a única saída possível diante do capitalismo. Esse era o sentido da disputa de Trotsky, no terreno teórico, político, mas também prático, organizando grupos de esquerda e de trabalhadores em vários países, chamando a unidade entre Partidos Comunistas e Social-democratas ante da ameaça fascista na Europa, apoiando as brigadas internacionais na Espanha, e sobretudo, convocando a esquerda internacionalista a se reorganizar numa nova ferramenta internacional.
Trotsky foi um gigante. Seu brilhantismo foi reconhecido por figuras insuspeitas: Weber definiu-o como um “estadista” do século XX; Tukhachevsky, principal comandante militar da Rússia definiu que Leon Trotsky mudou o caráter da arte militar contemporânea. John Reed, na obra “Os 10 dias que abalaram o mundo” presta um tributo à grandeza de Lenin e Trostky.

Enfim, a universalidade e o sentido prático de Leon Trotsky sempre se destacaram no turbulento começo do século XX. Foi ele, como orador talentoso, o primeiro presidente de uma organização social radicalmente nova e democrática, o Soviete, na Rússia revolucionária de 1905. Além de responsável pela insurreição de 1917, foi o dirigente do Exército Vermelho nos enfrentamentos para garantir a soberania do poder popular na guerra civil que se seguiria. Escreveu com qualidade sobre literatura, arte, cinema, comportamento. Conhecedor de política internacional moderna, discorria com desenvoltura sobre a China, Estados Unidos, Brasil, entre outros.
Foi antes de tudo, um militante, condição que nunca renunciou.
Se sua obra o transformou numa figura colossal, ainda assim, o seu legado consegue ser maior. Trotsky cumpriu com a história ao resistir, em condições adversas, a “unanimidade” de Stalin. Sem este combate, a farsa e a tragédia vivida no século resultaria na construção de uma realidade muito próxima a de “1984”, livro de Orwell, como horizonte das sociedades em vigor.

Sua metodologia democrática, a ideia de uma ruptura essencial com o modelo de dominação e a convicção da internacionalização das relações sociais, a valorização da política como mediação entre o particular e o universal (na figura do programa transicional) são parte deste legado.

Este legado vive. Como foi vivo nas paredes do maio francês, na revolução dos cravos, nas grandes greves de Minneapólis. No levante de Varsóvia e tantos levantes pouco conhecidos dentro dos campos de concentração, nas insurreições da década de 40, entre partisans, brigadistas espanhóis, revolucionários do oriente. Em nomes como Andres Nin, Ta Tu Taho, Mario Pedrosa, Chen Duxiu, Mateo Fossa, James Cannon. Nas greves mineiras da Bolívia, no levantes camponese do Vale da Convenção no Peru, no Cordobazo, nos cárceres chilenos, argentinos, colombianos; na queda das ditaduras do Conesul; na conformação do PT e da CUT no Brasil do final dos 70; na primavera de Praga, mas também no levante de Berlim, na rebelião hungára e nos estaleiros de Gdanski, no despertar da classe operária polaca.

Este legado é mais atual do que nunca, diante da falência da URSS, da queda do muro de Berlim e da crise profunda do capitalismo atual. A socialdemocracia se transformou no seu contrário: de provedora dos direitos sociais, hoje governa para retirar as conquistas do Estado de Bem Estar. Os projetos de conservação do capitalismo só podem conduzir a mais guerras e destruição, são profetas da bárbarie.
Este legado é forte porque está vinculado a uma série de necessidades reais, do homem real e dos que vivem do seu trabalho.

Trotsky, seu testamento, parece que foi escrito ontem e nos prepara para o amanhã: “Esta fé no homem e em seu futuro dá-me, mesmo agora, uma tal força de resistência como religião alguma poderia me fornecer”.


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