Que forma tomará a resistência contra Bolsonaro?

Em entrevista ao Socialist Worker, dirigente marxista discute as possibilidades de contenção da extrema-direita no Brasil e no mundo.

Pedro Fuentes 10 dez 2018, 15:02

Com o presidente eleito de extrema-direita Jair Bolsonaro, que deve assumir o cargo em 1º de janeiro, a esquerda no Brasil está fazendo um balanço das lutas e desafios que estão por vir. Pedro Fuentes, um dos principais membros do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) falou sobre as condições que deram origem à vitória de Bolsonaro e a resistência que já surgiu, em uma entrevista a Cami Q.

Socialist Worker: O que torna Bolsonaro diferente de outras figuras da direita como Donald Trump ou até mesmo Mauricio Macri da Argentina?

Pedro Fuentes – Bolsonaro é um filho de Trump e ambos são ideologicamente filhos de Steve Bannon. Eles fazem parte de uma nova direita que é muito autoritária, e que usa discurso racista, xenófobo, antiecológico, supremacista branco, misógino e ultrarreligioso.

Eles são parte de um importante processo ideológico que é mais do que apenas uma questão de reverter os direitos democráticos. É uma negação da ciência e do progresso humano. Trump conseguiu explorar a questão da imigração e da crise econômica. Bolsonaro chegou ao poder como uma figura masculina forte, graças especialmente à profunda insegurança que existe no Brasil. Há uma guerra contra os pobres e contra as favelas, que mata 60.000 pessoas por ano.

Bolsonaro tem a ver com tudo isso, mas com uma diferença importante: a democracia burguesa – que não é o que entendemos como nossa democracia, mas que ainda existe e importa – é muito mais forte nos EUA do que no Brasil. Há uma crise no Brasil. O regime capitalista e o estado capitalista estão mais em crise do que nos EUA.

Então, em certo sentido, os perigos são maiores, mas em outro, as coisas são muito semelhantes.

Há um novo regime no Brasil que eu chamo de protofascismo. Por que “proto”? Porque as sementes do fascismo estão lá, mas elas ainda não floresceram. Teremos que ver as condições de seu desenvolvimento e como o equilíbrio das forças de classe irá moldá-las – como a classe trabalhadora se move; como o movimento feminista, que tem sido a vanguarda da resistência, se move; como a juventude e as universidades se movem. Nesse sentido, sou otimista.

Como os diferentes setores da classe dominante brasileira estão se alinhando com Bolsonaro e até que ponto esse apoio mudou ao longo da campanha eleitoral?

As primeiras pessoas que apoiaram Bolsonaro foram a burguesia rural e os grandes agronegócios – produtores de soja, etc. – que tendem a ser muito conservadores. Ao colocar Paulo Guedes, um “menino de Chicago” neoliberal no Ministério da Economia, Bolsonaro recebeu apoio dos bancos e do capital internacional.

O setor representado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve mais conflitos com ele, mas foi liquidado eleitoralmente. Esse foi o segmento do partido de Fernando Henrique, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que representa a classe dominante industrial de São Paulo. Eles têm interesses próprios, que não são os mesmos dos exportadores de soja e dos exportadores de matérias-primas, e inicialmente não apoiavam Bolsonaro.

Claramente, agora eles oferecerão a ele um apoio crítico, porque suas reformas contra os trabalhadores são muito do seu interesse. Se Bolsonaro impulsionar suas reformas trabalhistas e reformas previdenciárias, elas apoiarão isso. A classe dominante do Nordeste, onde o PT (Partido dos Trabalhadores) ganhou, é menos favorável a Bolsonaro. Eles terão que apoiá-lo com mais restrições, mas há um ponto maior de resistência social no Nordeste, porque os governos de lá são liderados pelo PT ou aliados a ele.

E quanto à base evangélica de Bolsonaro? Esse foi um grande motivo para sua vitória, certo?

A força e o tamanho da base evangélica de Bolsonaro são em grande parte exclusivos para ele. As igrejas evangélicas no Brasil, especialmente a Igreja Universal do Reino de Deus, são dirigidas por um tipo muito corrupto de máfia que está intimamente ligada a Bolsonaro.

Bolsonaro ganhou por duas razões: a primeira é que ele ganhou o apoio de grandes empresários através de campanhas do WhatsApp, e a segunda é que ele teve o apoio dos evangélicos.

Entre os evangélicos e entre os pobres que votaram nele – que não era a maioria dos pobres, porque o candidato do PT Fernando Haddad foi muito melhor do que Bolsonaro entre os que ganhavam menos de duas vezes o salário mínimo – Bolsonaro conseguiu apoio porque as pessoas queriam uma alternativa e um homem forte.

Há dois segmentos de pessoas que apoiaram Bolsonaro: uma é a direita brasileira, que está endurecendo e crescendo em um direito sério, e a outra é a classe média e outras que oscilam política e ideologicamente de um lado para o outro, dependendo se eles vêem ou não uma alternativa à sua realidade atual.

E no meio de uma crise, aqueles com política e força se impuseram e obtiveram a vantagem.

Você poderia expandir essa crise, que se desenvolveu ao longo dos anos que o Partido dos Trabalhadores governou? Como isso moldou a corrida presidencial de Bolsonaro? Como é que Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad e a base social do PT, ao longo de seus anos no poder, se encaixam nesse contexto?

O GOVERNO DA LULA foi uma tremenda oportunidade perdida para o Brasil. Tinha apoio de massa genuíno e foi baseado em um partido dos trabalhadores que, no seu momento, era independente. Mas então começou a apelar para o apoio da classe dominante.

É inquestionável que o governo de Lula tinha relações orgânicas com a burguesia – com banqueiros, agronegócios, grandes empresários, grandes projetos de construção, etc. Era um governo que poderíamos chamar de social-liberal.

Devido ao fato de que estava em uma situação econômica relativamente favorável, o governo do PT pôde conceder algumas pequenas concessões à classe trabalhadora e especialmente aos pobres, aos desempregados e aos desalojados – como o Bolsa Família. Mas, ao mesmo tempo, você tem Bolsa Banqueiro e Bolsa Empresário [bilhões em gastos públicos destinados a bancos e empresários].

Internacionalmente, os banqueiros brasileiros lucaram o máximo que puderam. As taxas de juros brasileiras foram as mais altas do mundo. A economia brasileira sob Lula centrou-se na venda e exportação de matérias-primas, não no desenvolvimento econômico doméstico.

Então, quando a crise econômica global começou a atingir a América Latina, a abordagem e a política de Lula também entraram em crise.

Você não pode ter nenhuma análise da situação brasileira sem levar em conta os protestos em massa em junho e julho de 2013, durante o qual a ex-presidente Dilma Rousseff do PT estava no poder. Havia mais de 2 milhões de pessoas nas ruas.

Enquanto as manifestações começaram contra os aumentos de tarifas de transporte, elas se expandiram para um movimento espontâneo por mais serviços sociais, como saúde e educação, e menos investimento em projetos que não beneficiavam a maioria da população, como a construção de megaeventos. estádios esportivos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Este foi um processo político similar e paralelo ao movimento dos Indignados, à revolta da Praça Tahrir no Egito, aos protestos do Parque Gezi na Turquia. Cristalizou-se em ruptura com o governo do PT.

Se o governo do PT não estivesse ligado à oligarquia financeira, Dilma teria tido a oportunidade, naquele momento, de abrir um processo de discussão com a população e uma nova assembleia constituinte.

Mas as forças à direita do PT, a classe dominante, absolutamente não queriam isso. A abertura de uma assembleia constituinte onde tudo é discutido, com o objetivo de alcançar um novo tipo de representação política, seria totalmente contra o status quo daquele momento.

Dilma se recusou a fazer isso. Ela venceu as eleições muito polarizadoras de 2014 com um programa semipopulista e fingiu que estava acenando à esquerda. Imediatamente, ela nomeou Joaquim Levy – então presidente da Bradesco Asset Management, uma divisão do Bradesco, o segundo maior banco privado do Brasil – como ministro da Fazenda e iniciou um duro plano de reestruturação econômica e reduções nos gastos públicos.

Isso coincidiu com casos de corrupção sendo revelados. A crise de 2013 abriu tudo isso. Criou as condições para a Lava Jato, que revelou a coexistência do que chamamos de casta política e grandes empresas, com a maior corrupção ocorrendo no estado do Rio. O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, foi condenado a mais de 50 anos de prisão. O saque do Rio foi histórico.

Ninguém pode negar que a Lava Jato foi o maior roubo internacional deste século, embora tenha sido Lula quem acabou preso, o que tornou as recentes eleições brasileiras ilegítimas porque ele foi impedido de concorrer.

De qualquer forma, houve uma situação de polarização acentuada no país, e Dilma não respondeu a isso. Foi nesse momento que a direita começou a ficar mais forte.

Quando você diria que a direita começou a se reconfigurar? Foi durante a presidência de Dilma ou foi mais recentemente – depois que ela foi impedida e Michel Temer se tornou presidente?

O golpe de Temer já era uma hipótese de grande parte do pensamento burguês: Dilma não conseguia levar adiante seus planos de austeridade, o PT chegou a um ponto de crise, espremeram-no o máximo que puderam, e aí sentiram que era a hora de tentar algo diferente.

O governo do PT fracassou apesar do fato de que, mesmo assim, havia possibilidades de a esquerda e os movimentos de massa atacasse e mudassem as coisas a nosso favor. Sim, a direita saiu às ruas para apoiar o impeachment de Dilma, mas também houve a tremenda greve geral de 28 de abril de 2017.

Eu morei no Brasil nos últimos 20 anos e nunca vi nada parecido – foi a greve mais importante de todos esses anos, onde todos estavam nas ruas porque podiam ver as reformas e cortes na previdência contra a classe trabalhadora.

As condições para expandir essa luta existiam. Então o que aconteceu? O PT e a CUT (Central Única dos Trabalhadores, a maior e mais importante federação sindical do Brasil) optaram pela rota eleitoral em vez de tentar desestabilizar o regime. Lula nunca iniciou um movimento “Fora Temer”. Seu chamado pelo “Fora Temer” sempre foi eleitoral.

O que faltou naquele momento, quando todos estavam nas ruas, foi a chance de pressionar por uma ruptura que abriria uma nova situação pré-revolucionária – ou quase pré-revolucionária – no país. Uma vez que a chance foi perdida, tudo o que restou foi as eleições.

As eleições de 2016 foram eleições do conselho municipal. Em 2016, o PSOL começou a ficar mais forte. Muitas mulheres entraram em conselhos, apesar do fato de o movimento eleitoral ser realmente mais fraco. A razão para isso foi o movimento feminista – o último novo movimento a emergir antes de 2018.

A primavera feminista derrubou Eduardo Cunha [o então presidente da Câmara dos Deputados], o político mais corrupto do país, que liderou o caminho no impeachment de Dilma. A remoção de Temer também estava na mesa, mas a verdade é que a casta política não queria se livrar dele.

É fácil ver tudo em termos do país se movendo cada vez mais para a direita, mas as pessoas não são estúpidas e não são intrinsecamente de direita. Quando as pessoas se movem para a direita, é porque elas não veem outra alternativa e porque alguém estragou tudo. Caso contrário, não haveria fascismo e a guerra civil espanhola não teria sido perdida. O mesmo é verdade no Brasil.

Você mencionou a primavera feminista. Você poderia falar mais sobre isso, assim como sobre outros movimentos de esquerda, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MTST) e os protestos após o assassinato de Marielle Franco, membro do PSOL e vereadora no Rio de Janeiro? Como esses movimentos foram moldados pelo contexto político e pela ascensão de Bolsonaro?

Em 2013, dois movimentos em particular surgiram no Brasil como movimentos com real força social: o movimento juvenil, que ocupava escolas e locais públicos, e o MTST. O MST ficou para trás durante esses anos e não desempenhou um papel central.

O movimento trabalhista também teve dificuldades. Enquanto a Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas, uma confederação sindical de esquerda que se separou da CUT) pode ter crescido, não ficou qualitativamente mais forte, ou pelo menos não tão forte quanto precisava estar em ordem para contender com a CUT pela liderança política.

O assassinato de Marielle Franco em março deste ano trouxe à tona o movimento das mulheres negras e o movimento pela libertação dos negros em geral, particularmente no Rio de Janeiro.

É impressionante: o impacto do assassinato de Marielle foi maior do que o da prisão de Lula. Obviamente, uma das grandes exigências é que o assassinato seja investigado. Nós sabemos quem fez isso – a máfia política no poder – mas a investigação está suspensa. Até o Ministro da Justiça denunciou a polícia por encobri-lo.

Esse movimento assumiu uma expressão eleitoral em 2018. Além disso, o movimento de mulheres continuou, e nas eleições de 2018, quando o país já estava polarizado, desempenhou um papel fundamental com o movimento “Ele Não” contra Bolsonaro.

“Ele Não” foi a mobilização mais importante do Brasil neste ano, e foi liderada por mulheres – e, importante e particularmente, por mulheres negras. Na véspera das eleições, as grandes bandeiras e sinais e slogans eram esmagadoramente sobre Marielle: “Marielle vive” (Marielle vive) e “Justiça para Marielle” (Justiça para Marielle).

Nas eleições, o PT cometeu um grave erro que é indicativo de sua abordagem política. Foi um momento em que houve uma luta pelas liberdades democráticas, onde o PT poderia ter, e precisava, estender o apelo à unidade em ação para camadas mais amplas da população, e não apenas ficar com a questão de Lula, Haddad e PT.

As condições para isso existiam. Mas o PT não atacou Bolsonaro até as últimas duas semanas antes das eleições. As pessoas que desafiaram Bolsonaro foram as mulheres e o PSOL, mas não o PT.

A vitória de Bolsonaro significa claramente que sofremos uma derrota. Perdemos uma batalha importante, mas não perdemos a guerra. Os movimentos de resistência existem e continuarão a existir. Haverá muita resistência por baixo e já começou.

No dia das eleições, havia sinais em todas as universidades que diziam “não ao fascismo”. Vários juízes de vários estados, evidentemente em coordenação com Bolsonaro, ordenaram que os sinais fossem retirados. Isso provocou um grande movimento de ocupações universitárias. A Suprema Corte teve que admitir que os estudantes poderiam fazer o que quisessem em suas universidades.

O PSOL saiu das eleições dobrando seus escritórios eleitorais de cinco para 10 representantes, o que inclui três mulheres, uma das quais é uma mulher negra. No Rio, o PSOL é mais forte que o PT. O PT elegeu um representante nacional enquanto o PSOL elegeu quatro. Então nossa responsabilidade agora é muito maior.

Em termos de resistência, acho que existem algumas anedotas que realmente encapsulam o que isso significa.

Para dar um exemplo, um professor deu uma aula sobre fascismo. Bolsonaro pediu, através de suas redes, que os estudantes bolsonaristas filmassem e publicassem online. O vídeo desse professor simplesmente ensinando seus alunos sobre política se tornou viral, e o professor recebeu uma série de ameaças.

Eles tinham sete pessoas se manifestando. E essas sete pessoas foram recebidos em sua primeira parada por milhares de contra-manifestantes.

Lutas pela democracia e lutas contra medidas econômicas neoliberais terão lugar. O problema será a repressão, que será muito forte. A resistência se desenvolverá em um contexto novo e difícil, e exigirá unidade em ação, inclusive com alguns partidos burgueses, desde que sejam democráticos.

O que é necessário é uma frente única da classe trabalhadora para defender as liberdades democráticas, bem como um partido enraizado em movimentos de massa que pode ser uma alternativa. É isso que estamos tentando fazer – transformar o peso eleitoral em peso social. No momento, estamos no meio de uma campanha de aumento de filiações – estamos tentando crescer. Quando Sâmia Bomfim foi eleita deputada federal por São Paulo, 600 pessoas ingressaram no PSOL.

A resistência saiu com um slogan muito bonito depois da eleição de Bolsonaro: “Ninguém solta a mão de ninguém” (ninguém solta a mão de ninguém). E é isso que temos que fazer.

Isso exigirá solidariedade internacional – solidariedade com o socialismo que está crescendo nos EUA. Os EUA fazem parte das Américas. Quando Trump diz que os Estados Unidos são apenas para os americanos, eu os abro de cabeça: somos todos americanos e deixamos a caravana entrar.

Temos inimigos regionais: Trump, Bolsonaro, Iván Duque Márquez da Colômbia. Todos nós temos que estar envolvidos nessa luta.

E quanto às tradicionais fortalezas da esquerda – os sindicatos e as universidades – que são ambos, como você disse, lugares de resistência a Bolsonaro e seus partidários, mas também um terreno disputado, onde a direita quer entrar e reprimir a resistência. Como o movimento trabalhista se encaixa?

Nas universidades, o sentimento democrático é muito forte. É um terreno difícil para Bolsonaro. As escolas secundárias são mais divididas. Bolsonaro tem tudo isso sobre “escolas sem partidos”, que é uma campanha muito conservadora para a doutrina autoritária nas escolas. Portanto, haverá resistência lá, assim como nas universidades e também em todo o movimento cultural.

Entre os trabalhadores, a resistência mais notável que penso vem de professores e professores. Como ninguém quer a visão de Bolsonaro de “escolas sem partidos”, haverá um grande conflito na educação. Provavelmente haverá vigilância de educadores e tentativas de censurar e reprimir. Os sindicatos de professores são historicamente muito democráticos e pertencem ao PT ou à esquerda.

No movimento dos trabalhadores industriais, as coisas não estão claras. Por exemplo, quando um camarada em Conlutas, um antigo líder da classe trabalhadora da General Motors que havia saído contra Bolsonaro, foi à fábrica no dia seguinte às eleições, ele foi reprovado por seus colegas de trabalho por seu voto.

Isso é apenas para dizer que o sentimento anti-PT penetrou definitivamente no movimento trabalhista. Não tanto entre educadores e funcionários públicos, mas em outros setores da classe trabalhadora – infelizmente, esse é o caso.

E eu não acho que o PT organize ou convoque os sindicatos para um movimento de oposição contra o Bolsonaro. Sua posição será parlamentar, com os olhos postos nas eleições de 2022 e tornando Haddad o presidente. Essas são as políticas do PT porque têm conexões orgânicas com a burguesia.

O PT não tem mais bases que se mobilizem. É por isso que as pessoas que se mobilizaram durante as eleições foram as feministas, as mulheres, os sem-teto, os sem-terra – trabalhadores não-organizados. Quando Lula foi preso, a maioria das pessoas que vieram vê-lo era do MTST e do MST, e não do movimento trabalhista industrial.

Estou confiante de que haverá bolsões de resistência muito importantes, mas também acho que não podemos nos antecipar, exigindo greves gerais. O momento é o de tomar um ao outro pela mão, não deixar ir e continuar a se organizar.

Como você vê a reconfiguração e o reagrupamento da esquerda neste momento?

Está totalmente aberto agora. Precisamos ser muito amplos em nossas frentes unidas, trabalhando com todos e qualquer um que queira revidar, mas também sabemos que precisamos construir uma nova alternativa nesse processo.

Essa alternativa não pode ser o PT. Ele sairá desse processo. E esperamos que o PSOL esteja preparado para atender o momento e as circunstâncias, e que surjam outras oportunidades com o MTST, com o MST e com os sindicatos.

Enquanto outras forças de esquerda pedem uma frente e o PT pede algo separado, o PSOL está dizendo que vamos nos juntar a todos que quiserem revidar – não com um ou com outro, mas com todos.

Nossos representantes eleitos farão a diferença no parlamento. Temos três mulheres muito fortes e temos Marcelo Freixo, que é para mim uma pessoa chave que precisa liderar o novo movimento democrático.

O que podemos fazer nos EUA para apoiar e se solidarizar com o Brasil? Quais são as perspectivas de resistência no resto da América Latina e como movimentos de resistência latino-americanos no passado, como a maré verde na Argentina, moldaram os do Brasil?

A primavera feminista brasileira é a filha da maré verde e Ni Una Menos, na Argentina, que se tornou um fenômeno global com as greves no Dia Internacional da Mulher. É inegável que as mulheres são a vanguarda. O movimento internacional mais forte hoje é o movimento das mulheres, e muitas pessoas têm dito isso.

Então, quais são as tarefas para nós na América Latina e nas Américas? O mais importante é se organizar contra governos reacionários em cada país – contra Macri, contra Duque, contra Bolsonaro. Nos EUA, é cultivar o crescimento do socialismo, desenvolver as lutas e movimentos de resistência e derrotar Trump nas eleições.

E, ao mesmo tempo, temos que pensar, como os socialistas internacionais que somos, sobre quais redes podemos criar além da luta pela democracia, que podem envolver campanhas verdadeiramente militantes e ativas.

Para mim, existem dois lugares principais na América Latina, onde temos que dar o nosso apoio: o primeiro é o Brasil, e o segundo é a Nicarágua, onde uma ditadura assassina está levando a cabo a repressão. Ajudar a organizar internacionalmente é uma das nossas tarefas fundamentais. E nós estamos juntos.

Entrevista realizada por Cami Q. para o Socialist Worker. Reprodução da tradução de Isabel Laurito para o Portal da Esquerda em Movimento


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