Cultura em Extinção? Sim
Tempestades políticas iniciadas pelo governo Federal elegeram como inimigos do Estado a cultura e a educação.
Já andei pelos corredores tanto da Rede Minas de Televisão quanto pelos da Rádio Inconfidência FM por muitas vezes e cada uma delas foi uma grata oportunidade de encontrar com um amigo, um colega, seja da minha área seja da assim chamada Classe Artística de Minas, e não apenas de nossa capital, Belo Horizonte.
Em comum ambas as empresas, tanto rádio quanto televisão tem um longo histórico de serviços aos novos compositores, intérpretes, músicos e artistas na difusão de peças de teatro e sobretudo de valorizar nossa cultura e aqueles que fazem dela seu sustento.
Mas as tempestades políticas iniciadas pelo governo Federal elegeram como inimigos do estado a cultura e a educação e encontra o maior eco no governo ultraliberal do governo do partido Novo.
Viver de cultura nunca foi fácil em nenhuma parte do mundo. Muitos confundem a cultura com uma de suas facetas mais populares, o entretenimento. Mas não é o entretenimento que está em jogo nos tempos que hoje nos rodeiam, mas o cerne da identidade de um povo, e numa alegoria maior de nossa própria identidade nacional.
Faz sentido eleger a Cultura como alvo prioritário. O desmanche a nível federal do Ministério da Cultura, e atrelado a ela de pautas identitárias visam criar um efeito dominó que atingirá estados, municípios e os incipiente Sistema Nacional de Cultura que não chegou sequer a ser implantado.
Para termos noção dos danos causados, vamos a dados. A Empresa Mineira de Comunicação, das quais fazem parte a Rede Minas e a Rádio Inconfidência são concessões Federais e que cumprem o seu papel de informar a população, sobretudo oferecendo programação de qualidade,em sua inegável maioria nacional e regional.
Alvo do governo de Romeu Zema, entra na lista não dita das empresas que serão extintas, ou privatizadas. A classe artística resiste, mas o alinhamento ideológico com o governo federal parece ser uma barreira dura para se bater.
Obviamente outros setores da cultura mineira são alvos também desta prática de enxugamento da máquina. Se na EMC foram exonerados mais de 70% dos quadros, a realidade não é outra na Biblioteca Estadual, no Museu Mineiro, no Arquivo público ou mesmo na (agora extinta) Secretaria Estadual de Cultura, cuja pasta temporariamente encontra-se sob a direção direta do vice-governador Paulo Brant.
Ao atacar estes setores e tornar refém a cultura do estado o governo tenta impor seu cabresto ideológico aos moldes do que pretendem os atuais ocupantes do palácio do planalto e seus acólitos.
Mas não se iludam. A cada número que aparece a população desperta como de um estupor ao ver sua biblioteca fechada e reage. E o governo vê que há muitos para defender que este refém não pode ser mantido como está. E como seu parceiro federal, recua.
Desmontar a política cultural de fomento e difusão de Minas é um grande desafio para este governo que aí está, visto que muitas manifestações populares são o cerne da tradição mineira, registradas muitas vezes pelas difusoras da EMC, pelo Palácio das Artes e assim por diante.
A classe artística resiste, mas é necessário que a população venha a se juntar ao coro de vozes que não desejam que uma emissora com 34 anos de existência, ou uma rádio com 83 anos de existência possa sucumbir ante a ineficiência do estado.
Não é possível deixar de destacar que este desmonte, alinhado às políticas de desmonte federal, multiplicado pelo estado calamitoso das finanças de Minas, tenham origem neste governo, mas é nele que teremos as perdas que talvez sejam irreparáveis. Sob as mãos dos governos do PSDB por 12 anos e posteriormente pelo do PT por quatro anos, vimos por exemplo a Imprensa Oficial ser extinta, numa canetada.
Mas precisamos estar vigilantes. O mercado cultural se adapta e gera receita. A cadeia produtiva da Cultura movimenta anualmente mais do que a Fiat em Minas Gerais. Atacar as casas de cultura deste estado é relegar a segundo plano a própria população de Minas, suas tradições. É se alinhar ao colonialismo cultural crescente que o governo Bolsonaro prega, agravado pela coesão institucional de um partido mais estruturado que o do presidente, o velho apelidado de NOVO.
Manter em funcionamento a Fundação Clóvis Salgado, a Empresa Mineira de Comunicação, as políticas de patrimônio podem parecer uma luta ingrata (e talvez seja) mas é uma luta necessária. O que está em jogo é a alma de um ente da federação, reconhecido pelas suas tradições, pela sua hospitalidade e pela qualidade de seus artistas.
É nosso dever levar holofotes e mostrar que o dano em Minas pode ser ainda pior que o que está sendo proferido ao ente Federal. A constituição garante o direito à saúde, a educação e a segurança pública, e estas pautas são repetidas em âmbito do palácio do Planalto e no Palácio do Tiradentes. Curiosamente a constituição garante o direito a saúde, a educação, a segurança pública e a Cultura. Já é uma opção de governo a exclusão da cultura dos direitos mínimos dos cidadãos, mineiros e brasileiros.
Não pode ser esta nossa opção, ou daremos uma vitória na retórica ultraliberal, e esse dano não será reparado facilmente, quiça poderá ser reparado. Visibilidade a estas perdas. Juntar forças aos que combatem. Não é momento de nos furtar, como militantes e como cidadãos.