Declaração do DSA sobre a Vanezuela
Organização estadunidense diz ser necessário parar a intervenção perigosa e contraproducente na Venezuela.
24 de janeiro de 2019
Parar a intervenção perigosa e contraproducente dos EUA na Venezuela
O DSA (Democratic Socialists of America/Socialistas Democráticos da América) opõe-se categoricamente a toda e qualquer tentativa do governo dos EUA de intervir na política interna da Venezuela. Os EUA têm um longo e sangrento histórico de ações para derrubar governos democraticamente eleitos, impedir a disseminação do socialismo e manter o domínio imperial dos EUA na região. Isso inclui o apoio do governo dos EUA ao golpe venezuelano de 2002 que levou à derrubada temporária do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, legitimamente eleito. Essas intervenções imperiais devem parar imediatamente; o futuro do povo venezuelano e, de maneira mais ampla, a prosperidade da América Latina dependem disso.
A Venezuela está atualmente sofrendo crises econômicas e políticas devastadoras que deixaram milhões sem acesso consistente a bens e serviços básicos, e em um perpétuo estado de insegurança. A inflação atingiu níveis astronômicos, tornando a moeda local praticamente sem valor e limitando o impacto positivo dos aumentos regulares do salário mínimo implementados pelo governo venezuelano. Na esteira da posse do presidente Nicolás Maduro para um segundo mandato em 10 de janeiro, a situação política tornou-se ainda mais terrível.
A posse de Maduro foi acompanhada por alegações tanto da oposição venezuelana como de uma série de governos na região e, além disso, ele não é mais o presidente legitimamente eleito da Venezuela. Estas alegações baseiam-se em acusações anteriores de que a eleição presidencial venezuelana de maio de 2018 foi prejudicada pelo uso de táticas pelo governo que garantiram a vitória de Maduro antecipadamente.
O recém-nomeado líder da Assembléia Nacional venezuelana, controlada pela oposição, Juan Guaidó, do partido Voluntad Popular (Vontade Popular), usou essa crise de legitimidade como uma oportunidade para se proclamar o presidente interino da Venezuela, e apelou para o povo venezuelano que fosse às ruas em protesto contra o governo de Maduro. Muitos, incluindo um pequeno grupo de soldados da Guarda Nacional em 22 de janeiro (que foram rapidamente reprimidos pelas forças de segurança), atenderam ao chamado, levando a protestos constantes por todo o país a partir de 21 de janeiro.
Embora tenha havido relatos de repressão por parte das forças de segurança venezuelanas (incluindo a breve detenção do próprio Guaidó fora de Caracas) e danos materiais por parte dos manifestantes da oposição (incluindo o incêndio de um importante centro comunitário em Caracas), confrontos significativos entre o governo e os apoiadores da oposição ainda não se materializaram. Também não houve qualquer indicação de que os principais líderes militares estejam planejando romper com Maduro. A situação permanece extremamente tensa. Qualquer pequeno erro de cálculo político poderia provocar grave violência e caos no país.
O papel do governo dos Estados Unidos nessa situação de desdobramento nas duas últimas semanas tem sido substancial e extremamente contraproducente. Suas ações serviram apenas para aprofundar as divisões políticas e diminuir a probabilidade de uma solução pacífica para a crise. O Presidente Trump e o Vice-Presidente Pence expressaram seu total apoio ao não-eleito Guaidó como Presidente em exercício e estão trabalhando incansavelmente para organizar outras nações para que façam o mesmo. Além disso, Trump declarou que está contemplando uma intervenção militar na Venezuela, e o Conselho de Segurança Nacional dos EUA indicou que está considerando fortemente um embargo às importações venezuelanas de petróleo para os Estados Unidos. Cada uma dessas ações teria consequências catastróficas para o já sofrido povo venezuelano. O governo dos EUA está claramente mais interessado em usar a Venezuela como um bicho-papão para mostrar os perigos do socialismo do que em desempenhar um papel construtivo na resolução da crise. Infelizmente, as consequências dessa postura retórica são reais demais para o povo venezuelano.
As recentes ações do governo dos EUA para desestabilizar a Venezuela são apenas as últimas em uma longa série de ações que infelizmente foram feitas nos últimos anos. Além dos comentários inconsequentes e preocupantes feitos pelo Presidente Trump e outros membros de sua administração sobre a necessidade de intervenção militar estrangeira na Venezuela, o governo dos EUA impuseram sanções financeiras contra o país. Essas sanções colocam mais restrições na importação de alimentos e remédios desesperadamente necessários para a Venezuela.
As sanções também impedem as firmas venezuelanas de terem acesso ao crédito americano, eliminando efetivamente a capacidade do setor petrolífero venezuelano de manter os níveis atuais de produção, sem falar nos níveis anteriores a 2015 (que eram mais do que o dobro dos níveis atuais). Dado que a Venezuela depende tão fortemente das exportações de petróleo para financiar a importação de bens básicos, as sanções do governo dos EUA contra o setor petrolífero da Venezuela equivalem a sanções diretas contra o povo venezuelano, cuja segurança econômica se torna mais precária na semana.
Tanto o governo venezuelano, com cada vez mais traços autoritários, quanto a oposição venezuelana, que por vezes recorreu a métodos antidemocráticos, têm uma responsabilidade significativa pela crise atual e há importantes críticas a serem feitas contra ambas. Como socialistas dos EUA, temos o dever de fazer tudo o que pudermos para deter o imperialismo dos EUA e tornar o mundo seguro para a democracia e o socialismo; no entanto, nosso papel como organização não deveria ser intervir na política interna da Venezuela. Em vez disso, temos a responsabilidade de usar a influência que temos para intervir estrategicamente na política externa dos EUA para ajudar o povo venezuelano a defender os ganhos obtidos durante a presidência de Hugo Chávez.
Para esse fim, conclamamos o governo dos EUA a cessar e desistir imediatamente de todas as tentativas de intervir na política interna da Venezuela e romper com seu vergonhoso legado de controle imperial na região. Além disso, conclamamos as seções do DSA e representantes políticos apoiados pela DSA a se mobilizarem neste momento particularmente crítico em torno de uma campanha de solidariedade ao povo venezuelano, voltada especificamente para reverter as sanções desastrosas e contraproducentes do governo dos EUA contra a Venezuela.
Solidariedade com o povo da Venezuela! Solidariedade com a Revolução Bolivariana!
Reprodução da tradução publicada pelo Portal da Esquerda em Movimento.