Errejón vs. Iglesias
Em meio à turbulência institucional na Espanha, prestes a passar pela 4ª eleição geral em 4 anos, Íñigo Errejón, que já foi o número 2 de Podemos, encabeçará lista da nova plataforma Más País na disputa de novembro.
Em que pese ter vencido o pleito de 28A, o PSOE, liderado por Pedro Sánchez, não conseguiu formar maioria no parlamento para governar. Diante de um enorme impasse nas negociações, o Rei da Espanha, Felipe VI, novamente precisou dissolver o Congresso e convocar novas eleições, que ocorrerão em 10 de novembro. Mesmo após ter chamado seu eleitorado para que comparecesse em peso às urnas, evitando um governo de um bloco direitista no país, que poderia contar até com a legenda Vox, de extrema-direita, a esquerda não conseguiu chegar a um acordo e tem sido apontada como responsável por mais esse capítulo da crise político-partidária do país ibérico.
Nesse cenário, PSOE e Unidas Podemos têm trocado farpas e a pauta do dia gira em torno de quem teria sido o principal culpado pela ausência de um pacto que permitisse a governabilidade. O desejo de Sánchez era o de implantar o modelo português, ou seja, formar um governo minoritário, “puro sangue”, com apoio parlamentar dos demais setores de esquerda, dentre eles os nacionalistas, a partir de uma base programática, e não uma coligação com a plataforma mais à esquerda. Por outro lado, Unidas Podemos, com Pablo Iglesias à frente, queria estar no governo, receber algumas pastas ou, nos termos da última proposta, fazer uma experiência provisória em coligação.
Crítico do que considerou uma irresponsabilidade política para com o Estado Espanhol, Íñigo Errejón, antigo companheiro de partido de Iglesias, tem defendido que as siglas e seus interesses próprios não podem estar acima dos desafios com os quais o país precisa lidar. Assim, acusa tanto o PSOE quanto Unidas Podemos de lançarem os espanhóis mais uma vez à insegurança em relação ao futuro, não descartando a possibilidade de uma vitória direitista a qualquer momento em face da decepção e da desmobilização promovidas pela incapacidade política do campo progressista de colocar o compromisso político democrático à frente do resto.
Recentemente, Errejón trocou o Podemos pela construção de uma plataforma política em Madrid, a Más Madrid, ao lado da ex-alcadesa madrilenha e ex-juíza Manuela Carmena. Agora, o projeto local se expande nacionalmente, com Errejón escolhido por suas bases para encabeçar a lista da novata Más País nas eleições gerais de 10N. Na disputa, contará também com os partidos Equo e Compromís, não se apresentando, todavia, em todas as regiões, mas somente naquelas em que possa ampliar o voto progressista.
Como diferencial de Más País em relação à Unidas Podemos, Errejón declarou, em entrevista ao portal eldiario.es (link), que sua plataforma tem por prioritário o ecologismo político, não apenas enquanto mais uma das pautas progressistas defendidas. A centralidade do movimento verde e de um futuro com desenvolvimento em equilíbrio com a preservação das diversas formas de vida no planeta fica bastante nítida no projeto. No twitter, por exemplo, Más País se descreve da seguinte forma (tradução livre): “nascemos para ser o antídoto à abstenção e tirar o nosso país do bloqueio. Por um país mais verde, feminista, justo e livre”.
Já a primeira parte dessa bio remete justamente ao segundo diferencial de Más País: o de ser uma esquerda radicalmente progressista e, ao mesmo tempo, radicalmente responsável. Para Errejón, o momento impõe que o mais revolucionário é ter responsabilidade com todos os espanhóis, independentemente de estes serem seus eleitores. Evitando o embate destrutivo e imobilista entre os progressistas, Más País se propõe a desbloquear um novo governo de esquerda na Espanha e ser a alternativa dos descontentes com aqueles que pretenderam jogar na lata de lixo a confiança política que a cidadania lhes depositou.