A Amazônia no centro da crise: Bolsonaro e Salles querem “passar a boiada”

A política de destruição ambiental de Salles e Bolsonaro precisa ser derrotada.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 16 jul 2020, 21:00

O pior governo do mundo no que diz respeito ao combate à pandemia coleciona fracassos em toda linha. Bolsonaro está em evidência, uma vez mais: desta vez, a tragédia ambiental no país circula na imprensa internacional. O desmatamento e as queimadas na Floresta Amazônica e nos biomas brasileiros voltam a ser questionados, após a divulgação de crescimento acelerado da destruição mesmo em plena pandemia.

Há quase um ano, em agosto de 2019, o país tomava conhecimento, estarrecido, do “Dia do Fogo”, uma articulação de proprietários de terra e grileiros no Pará para destruir a mata e promover incêndios como forma de apoio à política de destruição dos órgãos ambientais e de incentivo ao desmatamento, ao garimpo e à grilagem vocalizada por Bolsonaro e por Ricardo Salles. Este último, agora, parece estar com a cabeça a prêmio, atacado por gestores de fundos de investimento transnacionais e por controladores e gestores de grandes empresas de origem brasileira. A razão é a crescente corrosão da imagem de empresas e produtos brasileiros, sob risco de sanções e de campanhas de boicote, além do naufrágio do acordo Mercosul-UE, bombardeado por lideranças ambientalistas, por governos europeus pressionados por seu eleitorado e pelos produtores rurais do continente, que exigem manutenção das políticas protecionistas para o campo.

A política de destruição ambiental de Bolsonaro, no entanto, tem consequências muito mais graves para o povo brasileiro, particularmente para as comunidades indígenas, que têm denunciado a existência de um verdadeiro genocídio em curso, causado pela invasão das terras indígenas por garimpeiros e por grileiros, estes últimos incentivados pelo governo federal, com seus projetos de regularização de terras públicas invadidas e de armamento do campo, tornando ainda mais dramático o quadro de violência na disputa por terras no país. Ao mesmo tempo, a presença crescente de invasores e garimpeiros nas terras indígenas tem exposto suas populações à contaminação pela Covid-19. O governo nada faz para frear tal situação: muito pelo contrário, Bolsonaro fez questão, recentemente, de vetar projeto aprovado pelo Congresso que previa liberação de verbas emergenciais para saúde indígena e o fornecimento às aldeias de água potável, materiais de higiene e acesso a leitos hospitalares.

A crise ambiental divide a burguesia e revela o bolsonarismo na defensiva

O questionamento à política do governo segue, apesar do abrandamento do discurso golpista de Bolsonaro, motivado pelo cerco que se fecha pelas múltiplas frentes de investigação sobre o presidente, seus filhos e seu entorno político, pela divisão e pelos conflitos no interior do governo. A queda de Ricardo Salles seria uma expressão da derrota da linha defendida na reunião ministerial de 22 de abril, divulgada posteriormente em vídeo. Ali se retratava o governo numa linha ofensiva, com Weintraub e Salles vocalizando ideias como “passar a boiada” sobre os órgãos e regulamentos de proteção ambiental e, numa ameaça golpista, “prender os vagabundos do STF”, suscitando o recrudescimento da ação do bolsonarismo e da extrema-direita nas ruas.

Depois da retomada da iniciativa nas ruas pela esquerda, da prisão de Queiroz e de Sara Winter, caiu Weintraub. Salles cambaleia e fica claro não haver estabilidade na composição ministerial. A pasta da Educação chegou a ter como ministros anunciados Decotelli e Feder, ambos tirados de cena em pouquíssimo tempo. O Ministério da Saúde, ocupado por oficiais militares, foi recentemente questionado por Gilmar Mendes, num conflito que escancarou o debate nacional sobre a responsabilidade das Forças Armadas com as dezenas de milhares de mortes por Covid-19 no Brasil. O sonho febril do bolsonarismo, na reunião de abril, parece chegar ao fim da linha com a eminente queda de Salles.

Gilmar Mendes cravou a definição de que a política do governo Bolsonaro para a Covid-19 levava a um “genocídio” do povo brasileiro. Tal definição tem sido largamente utilizada, inclusive no exterior, quando se define a política de destruição ambiental do governo. A crise, por sua vez, revela também a divisão da burguesia a respeito do tema. O agronegócio vinculado às cadeias globais de valor, intensamente financeirizado e transnacionalizado, acendeu o aviso de incêndio. O manifesto de ex-ministros da Fazenda dos governos Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma, com nomes de peso, as manifestações de gestores e controladores de grandes companhias sediadas no Brasil e a repercussão da imprensa econômica burguesa mostram a gravidade da situação: a orientação de destruição ambiental de Bolsonaro é uma ameaça aos lucros e à integração transnacional dos burgueses brasileiros.

Por tudo isso, a pressão pela demissão de Ricardo Salles é crescente.  Trata-se de uma forma de abrandar as críticas, mas não de resolvê-las, afinal a política ambiental do governo é de autoria de Jair Bolsonaro. Uma eventual saída de Salles, por sua vez, ampliaria as fissuras num governo envolvido em muitas frentes de conflito, em crise e na defensiva.

Em defesa dos biomas e do povo brasileiro: por uma campanha mundial contra a devastação ambiental de Bolsonaro!

Uma das grandes causas atuais no mundo é o combate ao aquecimento global, a preservação dos biomas e a própria defesa da reprodução da espécie humana, ameaçada pela exploração capitalista dos recursos naturais. No ano passado, o chamado à mobilização de Greta Thunberg levou milhões de jovens às ruas. Não há outra saída: a mobilização dos povos será fundamental para frear a anarquia da acumulação capitalista, que coloca nossas vidas em risco.

Um importante evento terá lugar no final de semana: a Assembleia da Amazônia, uma articulação internacional contra a devastação ambiental e em defesa dos povos amazônicos. Três bandeiras têm sido propostas por esta campanha mundial:

“1 – Campanha global para enfrentar os graves impactos do Covid-19 sobre as populações indígenas, os povos de origem africana e toda a Amazônia;

2 – Campanha global para boicotar produtos, empresas, investimentos, políticas governamentais, acordos comerciais e indústrias extrativistas que destroem a Amazônia;

3 – Jornadas de mobilização global para acabar com o etnocídio, o ecocídio e o extrativismo, e para salvar a Amazônia, essencial para enfrentar a mudança climática.”

É preciso derrotar Salles e Bolsonaro, revelando, também, quem são seus senhores, os que lucram com a devastação ambiental em curso. É papel do PSOL, referência na luta ecossocialista no Brasil, impulsionar esta luta dentro e fora do país.


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Camila Souza