Bolsonaro quer retomar a iniciativa: é necessário resistir

Diante da nova rodada de ataques do governo, é necessário, mais do que nunca, resistir.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 10 fev 2021, 21:06

Após um período de enfraquecimento, Bolsonaro retomou a iniciativa. Com a vitória de Arthur Lira (PP/AL), ainda em primeiro turno, na eleição para a presidência da Câmara, o governo fortaleceu-se: foram 302 votos, que resultaram num triunfo importante. No Senado, também houve vitória da aliança governo/centrão, com Rodrigo Pacheco (DEM/MG) na presidência da casa.

Mesmo com a profunda crise social e econômica, o governo esforça-se para dar coerência a seu plano de ataques, comportando a linha de Guedes, as concessões ao centrão (na realidade, um “direitão” reacionário e corrupto) e sua sede autoritária. Como vitrine da nova base sacramentada na eleição no Congresso, foi aprovado um ataque gravíssimo, a autonomia do Banco Central, na noite de hoje, por 339 votos a 114.

O colapso sanitário em Manaus, no mês de janeiro, revelou a essência da situação política nacional, gerando uma comoção geral. Diante do trauma abriu-se uma “janela” para a crítica ao governo. No período, voltou à discussão da imprensa e da sociedade o impeachment de Bolsonaro, com carreatas como o principal instrumento de difusão da indignação popular. O governo contornou a situação, muito por conta da falta de ousadia e unidade da oposição para pautar uma agenda mais frontal contra o governo. A vitória de Lira chancelou essa nova conjuntura.

Com o fechamento da “janela” de janeiro, a ofensiva do governo e a necessidade da resistência tornam-se fundamentais. Como um símbolo da atual situação política, uma foto na capa da Folha da última semana é ilustrativa: enquanto Bolsonaro abre, sob aplausos, o ano legislativo em sessão no Congresso, ao fundo, a combativa bancada do PSOL levanta cartazes e grita palavras de ordem contra o genocida que comanda o país.

A (nova) agenda de ataques de Bolsonaro, da burguesia e do Congresso

Apoiando-se em Lira e nos deputados do centrão, Bolsonaro e Guedes querem impor ao país, a toque de caixa, uma agenda dura de medidas de ajuste estrutural. Como cartão de visitas, sem qualquer debate, foi retomada a análise e aprovada, com urgência, a “autonomia” do Banco Central. Trata-se de um ataque frontal à soberania popular e à democracia, pelo qual se entrega, sem mais amarras, à burguesia transnacional, a seus banqueiros e bilionários a condução da política monetária brasileira.

O BC, há décadas, já está capturado por tais interesses, sob o beneplácito de todos os últimos governos brasileiros (basta lembrar o currículo de alguns diretores ou ex-presidentes da instituição, como Persio Arida, Gustavo Franco, Arminio Fraga, Henrique Meirelles, Alexandre Tombini, Ilan Godfajn e Roberto Campos Neto, numa porta giratória promíscua entre fundos transnacionais, bancos, agências internacionais, “consultorias” e aparelhos de Estado). Agora, com mandatos fixos para sua diretoria que ultrapassam os mandatos presidenciais, haverá ainda mais garantias de que os interesses do capital financeiro estarão resguardados diante da vontade do povo, dos resultados eleitorais e dos programas de governo. Conclui-se, assim, a captura de uma importante instituição do Estado brasileiro, atrelando-a aos ditames de uma verdadeira ditadura do capital transnacional em curso no mundo.

Mas a entrega final do BC é apenas um aperitivo. Bolsonaro e Guedes pretendem aprovar a “PEC emergencial” – na realidade, uma autorização para cortar salários do funcionalismo público e desindexar aposentadorias do salário mínimo – e a “reforma administrativa”, uma nova rodada de destruição dos serviços públicos e dos direitos dos servidores. Por fim, o governo pretende ampliar seu entreguismo, como já faz na venda a preço de banana de refinarias e subsidiárias da Petrobrás. O objetivo é abocanhar Eletrobrás, Correios e, quem sabe, o Banco do Brasil – nas palavras de Guedes, uma “porra” que precisa ser vendida logo.

Tudo certo, mas nada resolvido

Essa agenda pró-burguesa de rapina e destruição do Brasil depende, no entanto, da capacidade de Bolsonaro estabilizar a situação social e política num contexto de crise gravíssima, em que a classe trabalhadora e as forças populares ainda não se apresentaram. O governo, desse modo, amarra sua sorte aos negócios permanentes com o centrão. Será suficiente?

O noticiário diário mostra os sintomas evidentes de uma crise permanente que, por sua vez, podem dificultar o sucesso da sanha de ataques. A crise com Mourão, agora abertamente preterido por Bolsonaro, é uma pequena expressão das diferenças e do faccionalismo do bloco governante.

Com um governo composto por arrivistas neofascistas, cuja incompetência criminosa revela-se plenamente na condução da crise sanitária, as novas sinalizações de “estabilidade” que Bolsonaro tenta apresentar podem evaporar-se rapidamente. O anúncio de que o presidente passou a receber conselhos econômicos de Fernando Collor – responsável pelo confisco da poupança, pela destruição da economia e chefe do esquema de propinas operado por PC Farias, que lhe custou o mandato em 1992–, aponta o solo movediço por que caminha o governo.

É necessário resistir

Diante da nova rodada de ataques do governo, enquanto as mortes por Covid-19 contam-se às dezenas de milhares por mês e o empobrecimento ameaça o povo brasileiro, é necessário, mais do que nunca, resistir.

O PSOL precisa ocupar seu lugar destacado na oposição, enfrentando Bolsonaro e a verdadeira guerra contra o povo brasileiro que conduz. Diante da discussão já aberta na oposição a respeito da eleição de 2022, queremos iniciar, nos próximos dias, um debate em nosso partido sobre qual é a melhor tática para o PSOL. Mas alertamos que é necessário unir, aqui e agora, todos os que estão contra a agenda de ataques ao povo brasileiro. É necessário resistir!


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