A Havan vai salvar a economia de Osasco?
O prefeito e vereadores de Osasco deveriam pensar duas vezes antes de trocar os pequenos negócios locais por um bilionário de histórico duvidoso e que manipula os políticos e a população para enriquecer ainda mais.
Essa semana ocorrerá em Osasco a repetição de um show que rodou o Brasil. Antes mesmo da inauguração oficial, a nova megaloja da Havan em Presidente Altino já recebeu muitos milhares de currículos e visitas do prefeito e outros políticos que em lives e vídeos pelas redes sociais se entusiasmam com o dia da réplica cafona da estátua da liberdade. Podemos esperar para o dia da inauguração a típica performance que o bilionário Luciano Hang costuma apresentar – uma mistura de discurso político histriônico, frases motivacionais, culto à própria imagem e promessas de empregos e desenvolvimento.
Mas o que há por trás de todo esse espetáculo de gosto duvidoso?
Já sabemos que quem ousar criticar o modelo de negócio da Havan, seu dono e o oportunismo político em torno da novidade será acusado de só querer atrapalhar o desenvolvimento, os novos empregos etc. Quase que um anti-patriotismo municipal. Mas nós queremos demonstrar que por trás do frisson em torno dessa inauguração, dos milhares de currículos e da alegria dos políticos existe um modelo de negócio predatório que leva a falência pequenos comércios, gera desemprego, enriquece um bilionário inescrupuloso e serve a uma politicagem que não favorece a sociedade.
Como funciona o modelo de negócio predatório da Havan
A Havan de Osasco será uma das mais de 150 megalojas da empresa do bilionário Luciano Hang. Em um mesmo lugar são oferecidos produtos e serviços que seriam encontrados em muitos estabelecimentos diferentes – são roupas, produtos para carros, utensílios domésticos, eletrônicos, praça de alimentação, brinquedos, eletrodomésticos, papelaria, calçados, lazer, ovo de páscoa… São 350 mil produtos diferentes, parte importante e crescente deles de marcas próprias. Na mesma loja é possível comprar lençol, geladeira, celular, sapato, bicicleta e pneu! A especialidade da empresa de Luciano Hang é se instalar em pequenas e médias cidades e promover uma concorrência desleal que acaba levando à falência comerciantes locais de diferentes segmentos e também manufaturas de pequeno porte.
Diferentemente de um pequeno comerciante que demora anos para conseguir firmar o seu negócio, estabelecer sua clientela e, pagando impostos, taxas e salários, extrair um lucro compatível com o padrão de vida da classe média, a Havan conta com estrutura de distribuição centralizada cada vez mais automatizada em Santa Catarina, gastos com publicidade que chegam a 50 milhões anuais e todo tipo de apoio e incentivo do poder público. Sem contar a enorme publicidade gratuita que a mídia local e as autoridades concedem a cada inauguração de uma nova loja. Em muitas cidades a Havan obtém isenção de IPTU e doação de terreno, em alguns casos cria uma verdadeira guerra fiscal entre cidades de uma região. O efeito é um rastro de destruição de pequenos negócios. Para se ter uma ideia, no ano de 2020 que foi de prejuízo e muita dificuldade para os comerciantes, as lojas Havan tiveram o faturamento recorde de 10 bilhões de reais.
A trajetória de um bilionário
O sucesso econômico do Hang foi construído sob muitas denúncias e condenações de sonegação de impostos, fraude na previdência, importação fraudulenta, evasão de divisas e manipulação de autoridades locais para obtenção de vantagens. Somado a isso se especializou em um discurso político radical e caricato de quem garante contínua atenção da mídia e das redes sociais.
Hang é um dos homens mais ricos do Brasil, sua fortuna é avaliada em torno de 15 bilhões de reais e entre outros luxos possui um dos maiores jatos executivos do mundo avaliado em mais de 250 milhões de reais. Hang é dono de agência de publicidade, administradora de terrenos e imóveis, agência de viagem e até mesmo hidrelétricas.
Hang começou com uma loja de tecidos em que rompeu de forma suspeita a sociedade com o único sócio após relatos de roubo. Nos anos 90 foi acusado de causar enorme prejuízo aos cofres públicos e a seus funcionários fraudando o recolhimento da contribuição previdenciária em valor equivalente à 60 milhões de reais atualizados pela inflação. Em 2002, foi condenado pela Justiça Federal em Blumenau a três anos e onze meses de prisão (pena convertida em serviço comunitário) e multa de cerca de 500 mil reais. Em seguida foi autuado em uma multa de 117 milhões (equivalente a 660 milhões hoje) que não chegou a pagar quase nada graças a um generoso Refis. Em 2007 Hang foi condenado por utilizar laranjas para remessas ilegais de dinheiro, o caso prescreveu no STJ. Em 2008 foi condenado a 13 anos e 9 meses de prisão, com uma banca de advogados estrelados como Marcio Thomaz Bastos (ex-ministro da Justiça do Governo Lula) utilizou diversos recursos até o caso prescrever novamente. Mais recentemente durante a pandemia foi acusado diversas vezes de utilizar manobras para não cumprir os decretos de quarentena, chegando inclusive a vender arroz e feijão a preços irreais só para manter lojas abertas. Essa é uma trajetória admirável? Exemplo de vencer na vida?
A politicagem que faz mal para a sociedade
Luciano Hang até 2016 não era uma figura conhecida, sua participação política se resumia a sua filiação ao MDB (por mais de 30 anos), o assédio contra a prefeitura da sua cidade, Brusque, para impedir que fossem implantadas ciclovias e controle de velocidade por radares fixos e a doações eventuais para candidatos (inclusive chegou a doar para uma candidata a deputada pelo PT). Em determinado momento, Hang, descobriu que embarcar no bolsonarismo poderia ser bom para os negócios – começou a ofender políticos de esquerda, a OAB, políticas de inclusão de PCDs, jornalistas e está sendo acusado de fazer parte do financiamento de disparos em massa de fake news. Com essa postura ganhou espaço nos grupos de WhatsApp, nas redes sociais e em programas como da Luciana Gimenez e Ratinho. Hang defende políticas de armamento da população, falsos tratamentos para a covid, negacionismo científico de medidas que mitigam a pandemia, o fura fila da vacina e muitas outras ideias tóxicas típicas do bolsonarismo.
O prefeito e vereadores de Osasco deveriam pensar duas vezes antes de trocar os pequenos negócios locais por um bilionário de histórico duvidoso e que manipula os políticos e a população para enriquecer ainda mais.