Tragédia e farsa não são inevitáveis
Nosso projeto é o PSOL independente. Milhares de militantes do PSOL se organizam para evitar que não seja inevitável que a história se repita como farsa.
Hegel chegou a dizer que todos os grandes processos e personagens históricos ocorrem duas vezes. Marx ironicamente resolveu acrescentar que a primeira seria como tragédia e a segunda como farsa. O pensador e revolucionário alemão se referia, no caso, a Napoleão e a seu sobrinho. Vendo as movimentações de Guilherme Boulos, líder emergente que aderiu ao PSOL em 2018, não pude deixar de lembrar disso.
Primeiro, declarou-se pré-candidato a governador de São Paulo e cobrou, numa entrevista à Folha de S. Paulo, que as alianças deveriam ser de mão dupla. Quis dizer com isso que, com o PSOL apoiando Lula para presidente, seria o caso do PT apoiá-lo para governador. Não achei nada pedagógico.
As escolhas eleitorais devem responder às necessidades da luta e da construção programática, sem colocar acima nomes e carreiras. E, na eleição do ano que vem, duas questões devem estar postas na agenda: a necessidade de derrotar Bolsonaro, caso ele não caia antes, o que, além de tudo, é uma necessidade de saúde pública. É possível dizer que a derrota de Bolsonaro é a prioridade número 1, 2 e 3. A partir daí se deve buscar expressar uma posição anticapitalista independente. A garantia de uma eleição em dois turnos pode compatibilizar estes objetivos. Estes são os debates profundos. A apresentação da política de alianças como um jogo de trocas é o pior que pode ocorrer.
Mas o segundo episódio foi mais marcante. O que me lembrou mais ainda a farsa que pode significar a repetição dos movimentos de Lula, no período em que o ex-presidente e líder do PT resolveu se aproximar dos políticos capitalistas e corruptos – boa parte deles depois apoiadores de Temer, do impeachment de Dilma e apoiadores de Bolsonaro – foi a movimentação de Boulos reunindo com o presidente dos Republicanos (o partido da Universal) para discutir pontos em comum ou diálogos não se sabe bem para quê.
Vamos aguardar a explicação de Boulos acerca desta reunião. O fato dos Republicanos serem hoje da base de Bolsonaro é apenas um dos motivos pelos quais tais movimentações não têm nada a ver com a política do PSOL. Como fundador e parte da direção nacional do partido, não posso deixar de esclarecer que tal movimentação não foi feita em nosso nome. Nosso projeto é o PSOL independente. Assim como nada deve parecer natural nem impossível de mudar, milhares de militantes do PSOL se organizam para evitar que não seja inevitável que a história se repita como farsa.