Dia do Orgulho LGBTI+: Luta interseccional, radicalidade e transformação histórica pelas mãos das LGBTIs
Raphael Seixo escreve o sobre dia 28 de julho, reconhecido internacionalmente como o Dia do Orgulho LGBTI+.
Dia 28 de junho é reconhecido como o “Dia Internacional do Orgulho LGBTI+” e o motivo para essa data é porque neste dia a 52 anos, no ano de 1969, aconteceu a Revolta de Stonewall, em Nova Iorque. A Revolta aconteceu no bar Stonewall Inn, bar frequentado pela população LGBTI+, que tinha como público os setores mais marginalizados da sociedade: travestis, gays, michês, drags, pessoas em situação de rua, LGBTIs pobres, negras e latinas que pertenciam a um grupo ignorado pela sociedade.
O bar Stonewall Inn era controlado, desde 1966, 3 anos antes da Revolta, por máfias que subordinavam policiais para manter o seu funcionamento, que não tinham ao menos licença para vender bebidas alcoólicas e que possuía diversas outras irregularidades. Porém, na noite do dia 28 de junho, em mais uma abordagem agressiva dos policiais, as reações das LGBTIs que estavam presente foi diferente. Enquanto os policiais davam suas ordens de comando, as LGBTIs resistiram e não acataram as ordens impostas, não deixaram ser algemadas e as que foram liberadas continuaram na frente do bar acompanhando o que estava acontecendo, ecoando suas vozes contra o abuso policial, e em defesa dos direitos da comunidade LGBTI+. As LGBTIs, lideradas por Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, duas mulheres trans que foram protagonistas da Revolta, se levantaram de maneira coletiva e radicalizada.
Mesmo com a imposição da polícia, as LGBTIs resistiram e começaram a jogar latas, garrafas e pedras aos gritos de “policiais corruptos”. A movimentação na frente do bar cresceu cada vez mais nas horas seguintes, com o envolvimento das pessoas que estavam na rua, criando assim uma aglomeração de gente. A Revolta só terminou no amanhecer do dia seguinte com o aparecimento da tropa especial de segurança pública. Contudo, nos dias posteriores à Rebelião, a repercussão nos jornais e os panfletos distribuídos pelas LGBTIs provocaram uma série de novas revoltas contra a repressão estatal. As LGBTIS começaram a tomar às ruas da cidade cada vez mais, expressando o seu orgulho e dando um claro sinal de que não voltariam mais para o armário.
Antes de Stonewall já tinha acontecido, ao redor do mundo, diversas outras rebeliões e organizações LGBTIs semelhantes à produzida em Stonewall, como a organização do grupo Nuestro Mundo, em 1967, na Argentina, e que participou da Frente de Liberación Homosexual (FLH) em 1971. Inclusive a partir da FLH, que cria um boletim chamado Somos, serve de referência para o grupo SOMOS em São Paulo, em 1978, originando a primeira onda do Movimento Homossexual Brasileiro (à época o movimento LGBTI+ era chamado de movimento homossexual). No México também é criado a Frente de Liberación Homosexual, em 1971.
Percebe-se que enquanto diversos países latino-americanos, nos Estados Unidos e em outros Estados ao redor do mundo aconteciam mobilizações e organizações LGBTIs como a Revolta de Stonewall, no Brasil nós vivíamos o pior momento da ditadura militar, com o surgimento do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 68, que serviu como um freio para um levante LGBTI+. Somente 10 anos após, em 1978, com o surgimento do grupo SOMOS que a primeira geração do movimento LGBTI+ começa a se levantar.
Ao longo de toda a história é claramente nítido que as LGBTIs, principalmente as travestis, pessoas trans, LGBTIs negres e drag queens, sempre estiveram na linha de frente das revoltas. Ano passado, em 2020, durante os atos “Black Lives Matter”, que começou após o assassinato de George Floyd por um policial em Nova Iorque, a participação das LGBTIs, mais precisamente das pessoas trans e pretas, tiveram uma importância muito grande com o chamado “Black Trans Lives Matter”. Tais atos foram essenciais para a derrota de Donald Trump nas eleições que aconteceram em novembro do ano passado. Mais recentemente, vimos também à participação massiva das LGBTIs nos atos na Colômbia contra as reformas de Iván Duque. Os atos incendiaram o país e colocaram a consigna “se o povo está nas ruas durante a pandemia, é porque o governo é mais perigoso do que o vírus” como uma síntese das ações dos governos de direita ao redor do mundo.
Com a pandemia da covid 19 estamos vivendo uma crise sanitária sem precedentes, mas não vivemos apenas uma crise sanitária, no Brasil estamos vivendo uma crise política, econômica e social que já matou mais de 500 mil pessoas por covid 19 e milhares de outras por fome ou desmazelo do governo Bolsonaro, que sequer paga um auxílio emergencial de 600 reais, enquanto os mais ricos do país aumentam ainda mais suas fortunas. Além disso, sabemos do envolvimento de Bolsonaro e sua gangue corrupta e miliciana em um esquema bilionário no superfaturamento na compra da vacina Covaxin. A irresponsabilidade, a corrupção e o genocídio de Bolsonaro afeta a vida de todes nós! Por isso, a luta LGBTI+ conecta-se com a luta pelo fora Bolsonaro!
Estamos num momento crucial de luta para a emergência de uma consciência e de uma organização das LGBTIs conjuntamente com a classe trabalhadora, com as mulheres, a população negra, as e os estudantes em torno de um projeto que seja um projeto da esquerda radical que não tenho medo de mostrar quais são as contrariedades do capitalismo e que faça as defesas de uma plataforma com radicalidade política. Não da mais para termos apenas projetos de assimilação, de reformismos, de projetos que coloquem as LGBTIs como moeda de troca, como aconteceu nos anos dos governos petistas. Precisamos defender um programa sem medo de se apresentar como de esquerda radical e que faça enfrentamentos que não podem ser minimizados. Precisamos tencionar a esquerda e fazer jus à Revolta de Stonewall com toda a sua radicalidade. É hora de fazermos valer a palavra de ordem: “as bi, as gay, as trans, as sapatão tão tudo organizada pra fazer revolução” e lutarmos contra o projeto reacionário de Bolsonaro e do bolsonarismo. As LGBTIs vão derrubar o Bolsonaro!