Atos autoritários demonstram o isolamento de Bolsonaro. É hora de massificar a luta nas ruas para derrotá-lo!

Atos autoritários demonstram o isolamento de Bolsonaro. É hora de massificar a luta nas ruas para derrotá-lo!

Fernanda Melchionna (Dep. Federal pelo PSOL-RS) faz um balanço sobre os atos do 7 de setembro e defende um calendário nacional para ocupar as ruas e derrotar Bolsonaro.

Fernanda Melchionna 8 set 2021, 10:27

As ameaças de Bolsonaro e os ataques da extrema-direita brasileira ao longo dos últimos meses culminaram nas manifestações autoritárias que estamos analisando ao longo desta terça-feira (7/set). A ausência de uma contra convocatória potente por parte das forças anti-Bolsonaro combinado com os discursos de medo de ocupar as ruas produziram um desarme para o nosso campo. E mais do que isso, produziram um debate político no seio da vanguarda social democrática acerca da possibilidade de um golpe fascista.

Em primeiro lugar, é preciso dizer que esse sempre foi o intuito de Bolsonaro. Como autocrata que é, ao longo dos anos de seu governo, sempre que pode tentou fechar as liberdades democráticas por dentro do regime político. Mobilizações como o Tsunami da Educação, a latência do #EleNão e os protestos Antifascistas cumpriram um papel fundamental na preservação de direitos. Aliás, em 2021, a partir do #29M, entramos nas ruas de novo e chegamos a reunir quase um milhão de brasileiros em protestos pelo país. O fato é que Bolsonaro não tem apoio social suficiente para impor sua agenda reacionária, embora o bolsonarismo como fenômeno político tenha vindo para ficar por um tempo.

De 2019 para cá, uma fissura se abriu no andar de cima diante da forma criminosa como a extrema-direita lidou com a pandemia. A burguesia brasileira buscou de todas as formas manter a unidade na agenda econômica e segurar os ímpetos fascistas de Bolsonaro e também aceitou um criminoso como presidente em nome das medidas de austeridade, mas jogou com sistemas de contrapesos, como vimos na própria constituição da CPI do Senado ou mesmo nas posições do STF que levaram a prisão Daniel Silveira, Roberto Jefferson, etc.

Bolsonaro dobrou, ou melhor, triplicou a aposta, convocando, com toda a estrutura do Planalto e com financiamento dos setores do agronegócio e da Igreja Evangélica, a primeira manifestação com caráter claramente autoritário. Jogou tudo ao alto para começar a organizar o Exército da extrema-direita. Isso fica nítido em seu discurso na Av. Paulista, de caráter fortemente golpista, em que se coloca acima da lei e de todos ao dizer que ninguém o tira de lá (Brasília). Nesse ato, de tamanho grande, mas menor que as mobilizações da direita de 2015, Bolsonaro também anunciou suas intenções de ataque ao STF dizendo que não cumprirá as decisões judiciais e, mais uma vez, “armou” seu discurso de que não legitimará as eleições sem o voto impresso.

Ao invés de demonstração de fortalecimento, as manifestações autoritárias de hoje são demonstração de um crescente isolamento da superestrutura de sua agenda. É importante notarmos que o contingente que vemos hoje nas ruas de Brasília e de São Paulo representam o máximo de pessoas que o bolsonarismo, com financiamento do agronegócio e da parcela da burguesia que ainda o apoia, consegue colocar nas ruas com sua pauta golpista. É um termômetro importante para a classe trabalhadora organizada politicamente. Não se pode subestimar a extrema-direita, que colocou a cabeça para fora no Brasil, mas tampouco podemos superestimá-la.

Além das investigações da CPI, que não só demonstraram diariamente nos últimos meses a atuação negacionista de Bolsonaro, um dos últimos discursos sociais do bolsonarismo cai por terra: o combate à corrupção. A propina nas negociações, a aliança com o centrão corrupto, o cerco às rachadinhas de Flavio e agora de Carlos Bolsonaro, a relação de Renan com o lobista da Precisa Medicamentos, vão demonstrando ao povo brasileiro quão corrupta é a familícia de Bolsonaro e suas relações com o submundo da política.

A ausência de alguns políticos no palanque das comemorações oficiais do 7 de setembro, que propositalmente Bolsonaro conduziu próximo ao ato fascista em Brasília, somado com a disputa no andar de cima, que culminou em posicionamentos da Febraban e de setores do agronegócio em defesa das instituições, são a exemplificação que, longe de unidade burguesa pró-golpe, há bastante divergência em torno de sua agenda.

Diferente de 2018, não há mais uma posição unânime de que Bolsonaro é o mal menor. A conjuntura internacional está mudando, a derrota de Trump e a derrota do golpe na Bolívia dificultam uma ação golpista consciente e vitoriosa. O povo brasileiro sofre com a carestia, com os baixos salários e mais de 64% do povo rejeita Bolsonaro. Aliás, a última pesquisa mostra que 75% é contra a nova ditadura.

Evidente que assusta, muitas vezes, o tamanho dos séquitos de uma agenda autoritária, mas a emergência de uma extrema-direita organizada é realidade. Entretanto, é preciso dizer: é um grupo minoritário, embora violento e barulhento. Tenho dito, ao longo desses anos de Bolsonaro, que derrotá-lo é uma maratona, não uma corrida de 100 metros.

É preciso manter a disposição de luta e, ao mesmo tempo, abrir o debate franco e claro com os setores da esquerda que apostam em levar a disputa para o campo eleitoral de 2022. Isso é de uma irresponsabilidade sem tamanho, sob pena do nosso povo seguir sangrando até lá e dar mais chance de organização, até militar, ao protofascismo. É preciso debater no seio da vanguarda brasileira que o medo nunca mudou a história. Se somos maioria social, precisamos demonstrar isso na rua. Identificar a divisão burguesa é importante para ver o isolamento e os limites do próprio Bolsonaro, mas não podemos nunca deixar o nosso futuro nas mãos das elites e dos acordos de cúpula.

Repito: o 7 de setembro bolsonarista, ao invés de força, demonstrou isolamento. Está na hora de pensar um calendário consequente, sem titubear, para ocupar as ruas com nosso tamanho: pelo Fora Bolsonaro, pela prisão desse criminoso, pela vacina e pelo emprego.


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