Centenário de Paulo Freire: a nossa arma é a educação!

Centenário de Paulo Freire: a nossa arma é a educação!

No centenário de um dos maiores educadores brasileiros, militantes do Juntos! resgatam parte de sua trajetória em defesa da educação popular, rumo à construção de um futuro de direito pleno ao conhecimento emancipador para os jovens da classe trabalhadora e, para tanto, a derrota do governo obscurantista de Jair Bolsonaro.

Camila Barbosa, Maraya Melo e Pedro Levi 19 set 2021, 18:33

No centenário de um dos maiores educadores brasileiros, o Juntos! resgata parte de sua trajetória em defesa da educação popular, rumo à construção de um futuro de direito pleno ao conhecimento emancipador para os jovens da classe trabalhadora e, para tanto, a derrota do governo obscurantista de Jair Bolsonaro. 

A educação como prática da liberdade

“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.”

Em 1963 o sertão do Rio Grande do Norte foi palco da maior experiência de educação popular do Brasil. Às vésperas do golpe militar, mais de trezentos cidadãos de Angicos (entre trabalhadores rurais e donas de casa) foram alfabetizados sob o método desenvolvido por um filósofo pernambucano profundamente apaixonado pela humanidade e pela vida, que marcou a história de todo país e da luta em defesa do acesso à educação: Paulo Reglus Neves Freire.

Quase um ano após a conclusão de sua primeira turma alfabetizada, a ditadura militar ordena a desarticulação do grupo do educador Paulo Freire, que foi preso e exilado acusado de subversão. Fora do país se organizou no Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e na Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Foi professor convidado na Universidade de Harvard e no Conselho Mundial de Igrejas atuou na expansão da educação popular em mais de trinta países. 

Mais tarde, de volta ao Brasil, foi nomeado Secretário de Educação da cidade de São Paulo na gestão da então prefeita Luiza Erundina, com o objetivo de priorizar a autonomia, a participação e a descentralização da Educação Pública paulistana. Seu método consiste em priorizar o diálogo como princípio educativo através da mediação educador-educando. Freire acreditava que a educação deve ser instrumento para liberdade e autonomia, não apenas no campo cognitivo mas na perspectiva social e política.

Através dos “Círculos de Cultura”, os alfabetizandos de Freire aprendiam a ler as letras e escrever a palavra a partir da sua leitura de mundo e sua própria história. Contrariando a visão mais tradicional da Educação, defendia que o professor tem papel fundamental de mediador e problematizador dos debates. Freire se baseia, essencialmente, em uma perspectiva filosófica dialética que objetiva reforçar o indivíduo como sujeito modificador da realidade social, engajando-o nas lutas pela transformação social.

Atualidade das ideias freireanas na luta em defesa da educação 

“A esperança é a história, entende? No momento em que você definitivamente perde a esperança, você cai no imobilismo.”

Vivemos um período de intensos ataques à educação pública, especialmente desde a eleição de Bolsonaro. Há uma contínua tentativa de subir o tom autoritário por parte de seu governo, e por isso, cada vez mais temos certeza: em momentos de escalada repressiva, o legado de Paulo Freire se faz ainda mais atual e necessário.

Bolsonaro representa a antítese do que defendia Paulo Freire, por isso atua para que a sua base política mais raivosa e alienada o condene. Enquanto o governo retrocede no orçamento das universidades e da educação básica, trabalha para elitizar o ensino superior público e retira a liberdade e autonomia dos professores, os princípios freireanos sustentam o oposto: investimento público, liberdade e espaço para a reflexão profunda das desigualdades que atravessam de maneira implacável as nossas vidas. 

Assim, se acreditamos mesmo que o Patrono da Educação Brasileira segue atual, a chama revolucionária em cada um de nós deve ser capaz de seguir construindo a esperança de um futuro diferente, sem nos permitirmos cair no imobilismo, num mecanicismo de acreditar, que “se a coisa vem de qualquer maneira amanhã, por que eu vou morrer lutando hoje por ela? Vou esperar”, como criticou Freire em uma entrevista, em 1993.

E tomando essa linha de seguir, como Paulo Freire, construindo a esperança, temos uma tarefa enquanto defensores da educação, sobretudo os jovens estudantes: precisamos dobrar nossa aposta na mobilização permanente para a queda de Bolsonaro e tudo que ele representa. Não nos serve esperar que o amanhã chegue, e com ele, as eleições em 2022. Derrotar o maior inimigo da educação é urgente e devemos criar condições para que aconteça desde já. Isso significa não nos rendermos ao imobilismo, e à apatia, que não é capaz de fazer florescer a esperança.


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