PSOL, um partido necessário e em construção

Roberto Robaina escreve ao término do 7° Congresso Nacional do PSOL e sobre os próximos passos do partido.

Roberto Robaina 26 set 2021, 13:57

O sétimo Congresso Nacional do PSOL acaba de se encerrar. O PSOL tem refletido os esforços de uma parte importante – podemos dizer que uma parte até majoritária dos ativistas que estão surgindo ao longo dos últimos 15 anos – para construir um partido político. Um partido que tem refletido as potências e os limites desta vanguarda e da luta de classes do país. De toda forma, tem crescido ano a ano. Neste congresso, foram quase 50 mil participantes. Seu resultado é contraditório. Por um lado, o partido cresce. Por outro lado, ainda está longe de ser um instrumento de intensa politização. Os debates são fracos, quando existentes. Cerca de 5 mil foram os participantes dos debates virtuais. O partido consegue ser expressão parlamentar de demandas sociais progressistas e apoia movimentos sociais, mas não tem sido, como regra, um operador das lutas operárias e populares.

O Congresso teve um mérito fundamental: a unidade do partido para defender a mobilização pela derrubada de Bolsonaro. A unidade de ação com todos que queiram o impeachment é um ponto comum de todo o partido. Isso se expressa na disposição de jogar todas as forças no chamado ao dia nacional de lutas de 2 de outubro. Tal unidade deve ser destacada. Se expressou também em uma posição unânime de que, mesmo no terreno eleitoral, no caso de segundo turno, o PSOL, antecipadamente, deixe claro que apoiará qualquer candidatura que enfrente Bolsonaro, o que concretamente significa deixar claro o apoio ao nome de Lula.

Mas aqui tivemos também a principal polêmica do Congresso: 44% dos delegados defenderam que o partido deveria ter candidatura própria para apresentar no primeiro turno. O nome de Glauber Braga foi posto à disposição. Essa necessidade foi defendida pelo fato de que Lula e o PT já deixaram claro que pretendem fazer uma aliança com setores da burguesia para governar o Brasil. O PSOL foi fundado para construir um projeto anticapitalista e socialista, não para participar de um governo com os capitalistas. Mas as forças pela adaptação do partido mostraram que também atuaram no Congresso.

De modo geral, o regime político burguês em crise segue buscando líderes de outras classes sociais e forjados em partidos de oposição para que sua manutenção seja defendida. Seus mecanismos de poder abrem mais espaços e garantem visibilidade a novas lideranças, desde que aceitem ser integradas numa lógica de defesa do regime político. O PSOL recebeu essas pressões diretamente, como vimos no caso de Randolfe Rodrigues e Marcelo Freixo. De militantes do PSOL, cuja tese central programática fundacional defende a expropriação dos grandes capitalistas e a mobilização revolucionária do movimento de massas, converteram-se em políticos cujo programa é a defesa da democracia liberal. Tudo isso nos últimos 5 anos, e Freixo recentemente. As pressões do regime político, entretanto, se exercem com mais força no PSOL pela via indireta do PT. E neste congresso, uma vez mais, tal pressão ficou evidente.

A pressão neste sentido foi vista pela decisão de uma maioria de 56% de não lançar candidatura própria. Esse setor defendeu que uma conferência em abril decida se o partido lança nome próprio ou apoia, já no primeiro turno, o nome de Lula. A tendência predominante nesta parte da direção tem sido pelo apoio a Lula, ainda que o líder do PT defenda um programa liberal burguês e construa uma chapa com representação direta dos grandes capitalistas.

A pressão maior do regime político sobre o PSOL é que um setor da direção partidária quer estar nesta campanha desde o primeiro turno justamente para negociar, em melhores condições, a participação em um eventual novo governo. Nossa posição tem denunciado essa política como oportunismo. Foram 44% dos delegados que já perceberam o oportunismo que se esconde atrás dessa política de espera e, em seguida, de adesão. Num partido como o PSOL, ter 44% bem organizados é ter muita força. Essa força se organizará numa mesa nacional de dirigentes pela defesa da independência de classes e pela construção de um PSOL que tenha como eixo a derrota de Bolsonaro, mas que também se mantenha com suas próprias bandeiras e organização independente. A organização desses 44% em um bloco, cuja firmeza foi vista no Congresso, pode inclusive fazer com que a posição adesista possa terminar minoritária. Afinal, entre os 56% que optaram pelo adiamento, há muitos setores que não aceitam a defesa e a participação em uma chapa que defenda um programa burguês nas eleições presidenciais e nem, logicamente, aceitam participar de um governo burguês. Por isso mesmo, o Congresso do PSOL não foi conclusivo, e a luta de classes seguirá fortemente incidindo nos rumos do partido.

Outro ponto fundamental de unidade no PSOL, foi a defesa do apoio à campanha pela liberdade de Claudemir e José Rainha. Para nossa tendência, o Movimento Esquerda Socialista (que agrupou mais de 20% dos delegados e esteve unida com a oposição de esquerda), tal campanha é fundamental. Temos uma aliança estratégica com a Frente Nacional de Lutas (FNL), que agrupa lutadores sociais históricos e que seguem organizando setores pobres e sem terra de nosso povo. E a perseguição a essas lideranças não é de hoje. Zé Rainha foi perseguido pelos governos de FHC, em 1997, quando o PT lançou a campanha “Zé Rainha é inocente, crime é não fazer a reforma agrária”. Anos depois, infelizmente, a perseguição continuou, nos governos de Lula e de Dilma. Os chamados deputados radicais, a começar por Luciana Genro, encabeçaram a campanha com a mesma palavra de ordem do PT de seu período de oposição. Agora, no governo Bolsonaro, o peso dos latifundiários aumentou ainda mais, e Claudemir e Zé Rainha estão ameaçados de prisão. Esses dois dirigentes, lutadores históricos pelo direito ao pão, à terra, à moradia e à liberdade, são líderes do povo e da luta por reforma agrária. Por isso, foi tão importante a decisão do Congresso.

Na defesa dessas causas, a partir de outubro, na esteira da manifestação de 2 de outubro, teremos a marcha da Frente Nacional de Lutas, que sairá de Sorocaba até a capital de São Paulo. A escolha da direção do partido refletiu o Congresso. A chapa defendida por Boulos e outros obteve 228 votos. A chapa defendida por Sâmia Bonfim e camaradas que formaram o bloco de oposição de esquerda obteve 173 votos. Houve uma abstenção. A tesouraria do partido foi indicada pela chapa que ficou em segundo lugar, justamente com os 43% de apoio. A firmeza da tesoureira Mariana Riscali, que já nesta tarefa deste o último Congresso, é uma garantia de que o aparelho do PSOL seja transparente, construído de modo unitário, não burocrático, muito menos de modo desequilibrado a serviço de políticas oportunistas.

O presidente Juliano Medeiros também foi reeleito. Sua reeleição é também o reconhecimento de que a direção do partido seguirá como um lugar de contradições que não permitem uma direção estável com uma linha única. Juliano não é um dirigente público, atuando centralmente nos bastidores e tratando de organizar não todo o partido nem toda a direção, mas a sua própria tendência, a Primavera, que obteve pouco mais de 25% do Congresso. Escolhido em razão de um equilíbrio na relação de forças, é também seu mérito, como de todos os dirigentes principais do partido até aqui, que o partido siga unido, apesar de fortes e estratégicas divergências.

Por fim, aos camaradas de Chapecó, que injustamente foram impedidos de participar por conta de uma decisão burocrática por um voto de diferença na executiva nacional, nossa solidariedade e nosso compromisso de que o PSOL de Santa Catarina crescerá com a força dos que repudiaram o golpe que vocês receberam.

Nosso otimismo nesse sentido é também um voto de confiança no próprio PSOL. Afinal, é, atualmente, um dos raros partidos no Brasil cujos rumos são definidos por seus militantes. Assim, por mais limites e problemas que existam nessa construção, trata-se de um partido cuja natureza democrática está preservada, contra ventos e mares.


TV Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti

O PL da Uber é um ataque contra os trabalhadores!

O projeto de lei (PL) da Uber proposto pelo governo foi feito pelas empresas e não atende aos interesses dos trabalhadores de aplicativos. Contra os interesses das grandes plataformas, defendemos mais direitos e melhores salários!

Greve nas Universidades Federais

Confira o informe de Sandro Pimentel, coordenador nacional de educação da FASUBRA, sobre a deflagração da greve dos servidores das universidades e institutos federais.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 21 abr 2024

As lutas da educação e do MST indicam o caminho

As lutas em curso no país demonstram que fortalecer a classe trabalhadora é o único caminho para derrotar a extrema direita
As lutas da educação e do MST indicam o caminho
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 48
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão