Sobre a saída do deputado David Miranda do PSOL
Sobre a ida do Dep. Fed. David Miranda ao PDT.
Desde o final do ano de 2013, trabalhamos em estreita colaboração com David Miranda e Glenn Greenwald. Começamos esta equipe a partir da campanha de asilo para Edward Snowden no Brasil. Nossa atividade comum passou pela campanha presidencial de Luciana Genro em 2014, pelas últimas revelações de espionagem da NSA contra o Brasil, passando pela construção da Casa da Juventude, duas eleições parlamentares, a construção de dois mandatos com forte presença nas mobilizações de rua e a luta política que se deu em torno da Vaza Jato. Foram, no mínimo, 6 anos de equipe de trabalho político cotidiano.
David e Glenn apresentaram, em dezembro de 2021, o plano de saída de David do PSOL para construir a candidatura presidencial de Ciro Gomes no PDT. Essa decisão tem explicação na indefinição do PSOL em relação ao lançamento de candidatura própria em seu congresso do ano passado. Entre Lula e Ciro, preferiram construir a candidatura de Ciro. Trabalhamos intensamente para reverter essa decisão. Consideramos equivocado este movimento, pelo caráter burguês do projeto de Ciro, alheio aos interesses essenciais do povo e da classe trabalhadora. Isso no marco de nossa construção mais estratégica. Defendemos a necessidade cada vez mais urgente de postular um projeto anticapitalista e independente para o Brasil.
Do ponto de vista tático e eleitoral, a decisão também é equivocada, já que a candidatura de Ciro enfrenta enormes dificuldades e tudo indica que esta continuará sendo a situação até o final do processo eleitoral de 2022. Soma-se a isso o fato do perfil de David ser absolutamente distinto do perfil geral dos candidatos do PDT, ou seja, suas chances no partido serão menores do que no PSOL. Tudo isso foi conversado com David e Glenn. A definição de ambos é ideológica. É importante dizer que David nunca foi orgânico do MES, sempre foi um amigo leal e muito próximo, mas não era membro de organismos de nossa corrente.
A ida de David Miranda para o PDT significa que, do ponto de vista político, nossos projetos se separam neste momento. De agora em diante, o ponto de unidade mais estratégico que nos unia, a construção do PSOL, deixa de existir. No entanto, reivindicamos nossa história comum, como a luta enorme que travamos na ocasião da Vaza Jato, em que Glenn e David sofreram pesados ataques, desmascarando Moro e sua suposta luta contra a corrupção. Glenn sempre foi apoiador do combate à corrupção, mas não hesitou em reportar os crimes cometidos por Moro e por membros do MPF. Coordenamos um ato de unidade de ação importantíssimo, em defesa da liberdade de imprensa, de Glenn e sua família, quando a oposição a Bolsonaro ainda era bastante tímida por parte da superestrutura política.
Acreditamos que ambos seguirão sendo aliados nas lutas democráticas do nosso tempo, continuaremos apoiando as lutas por liberdade de Snowden e Assange (processos pelos quais David e Glenn conquistaram nosso enorme respeito) e, sempre que possível, estaremos juntos nas ruas, em defesa dos interesses da juventude, do povo e da classe trabalhadora.