Declaração de “La Aurora”: Ucrânia livre!
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Declaração de “La Aurora”: Ucrânia livre!

Fora as tropas russas!
Por uma Europa unida dos trabalhadores e povos, desde o Atlânticos aos Urais. 

La Aurora 28 abr 2022, 12:54

Viva Ucrânia livre! 

As tropas russas invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro. Desde então, a Rússia tem mostrado seu absoluto desprezo pela população inocente, bombardeando escolas, hospitais, bairros de trabalhadores, usinas nucleares ou químicas, submetendo a um cerco feudal a cidade de Mariupol e liquidando a população civil como mostrado nas cidades próximas a Kiev, abandonadas pelas tropas russas. Esta é uma guerra imperialista clássica em que a Rússia quer o controle das riquezas do território: agricultura, terras raras, controle do gás… Todas as desculpas sobre a “nazificação” desta guerra (que nem sequer Putin menciona pelo nome), foram desmentidas pelos fatos, especialmente pela revolta e resistência do povo ucraniano, que mostra as mentiras do regime russo. 

Deveríamos manter uma neutralidade entre ambos os lados? Estamos pela dissolução da OTAN. Rússia estava cada vez mais cercada e amaçada economicamente pela UE e pela OTAN, mas o concreto é que não estava militarmente ameaçada. Não somos neutros: nesta guerra imperialista estamos sem dúvidas ao lado da Ucrânia contra Rússia pois não existe só um imperialismo na Europa e no mundo. A ideia de Putin de que a Ucrânia não é um país, senão parte da Rússia, é a nova versão do imperialismo Marista, a negação do direito de existir de nações independentes, como antes vimos com Chechenia ou Georgia. Não em vão Putin ataca a Lenin e sua política de autodeterminação nacional. E agora os ideólogos a serviço de Putin começam a teorizar a necessidade de “desucranizar” a Ucrânia e a justificar a liquidação de milhões de cidadão por seu suposto apoio a um regime “nazi”.

Isto significa que estamos também a favor do envio de armas ao exército e voluntários da Ucrânia? Sim; em meio a uma guerra a parte oprimida e agredida tem todo o direito e dever de defender-se. Apoiamos que a Ucrânia busque e obtenha as armas necessárias não importa onde para freiar o exército russo. Como apoiamos os corajosos protestos russos pela paz. 

Ajudar a Ucrânia não significa reforçar o polo imperialista ocidental sob a égide dos Estados Unidos? Não, é debilitar o regime de Putin por meio da autodefesa da Ucrânia, do aumento da oposição a guerra na Rússia, das manifestações e ações europeias contra a guerra e pela retirada das tropas russas, e de sanções seletivas contra oligarcas russos, não reforçaria o imperialismo ocidental senão a ação independente dos povos sobre os atuais governos imperialistas. 

Apoiar a Ucrânia significa também dar apoio ao governo de Zelenski? Apoiamos o governo Zelenski em tudo o que significa a luta e resistência contra a invasão russa e sua defesa pela independência e soberania da Ucrânia. Não estamos de acordo com as suas medidas neoliberais contra os próprios trabalhadores ucranianos nem ao apoio que tem dos oligarcas e sua corrupção, nem em conviver com o nacionalnazismo ucraniano. Estamos com os trabalhadores e o povo ucraniano. 

Isto significa que estamos a favor de um rearmamento da OTAN frente a Rússia e de um aumento dos investimentos militares na União Europeia? Não, em absoluto. O motivo de fundo da guerra de Putin é dominar uma zona de influência europeia, tal como Estados Unidos fazem com a América, como seu “quintal”, ou no Iraque. Mas reforçar a OTAN, instrumento militar sob o comando dos Estados Unidos, é um preparativo para uma nova guerra imperialista de caráter mais amplo na Europa. A guerra é “a política por outros meios” e o que surge da pandemia, esgotamento de minerais e combustíveis fósseis e mudança climática, é uma aceleração da competência imperialista. É o mesmo militarismo predador de Putin que está jogando parte da esquerda e da opinião pública a confiar na OTAN, com o temor pela paz e segurança, temperado pelo militarismo estadunidense e europeu. 

Debilitar o imperialismo russo e impedir a OTAN, a UE e os Estados Unidos, não reforça o imperialismo chinês? China já vem reforçando seu papel na economia mundial, particularmente na América, África, apropriando-se de terras, fontes energéticas e de materiais, e alianças dependentes. Esta guerra em território europeu a situa em melhor posição em viste de que poder fragilizar a ambos imperialismos e tornar mais dependente a Rússia. China “observa e aguarda” para sair fortalecida como potência dominante. 

Que papel joga a guerra no aumento dos combustíveis, da eletricidade, dos preços? A guerra precipita as consequências da crise econômica que a globalização não resolve. A guerra interrompeu as expectativas e planos econômicos do pós-pandemia. Os problemas que arrastavam as economias capitalistas: esgotamentos das energias fósseis, estagnação, inflaciona, limite de minerais e matérias primas, mudança climática… se multiplicaram com a guerra real e a econômica. Enquanto tudo fica caro, começando pela eletricidade, os gás, a gasolina, a alimentação, habitação… o governo espanhol, com outros governos europeus, nos colocam em uma escala armamentista para reabilitar a OTAN e depender mais da energia dos EUA. A guerra é paga pelo povo, mas enche os bolsos dos mais ricos, especialmente bancos, energéticas, farmacêuticas, indústria armamentista. Não toca no bolso dos mais ricos, como fazem o governo Sánchez ou os governos regionais, significa a guerra contra os mais pobres. A greves que começam agora são o prelúdio do endurecimento da luta que virá. Se o governo não gira à esquerda, se abrirá o caminho para a direita populista e xenófoba. O que necessitamos é aumentos dos salários e pensões, fortes impostos sobre o oligopólio da indústria elétrica, gás, petróleo; nacionalização da energia; moraria, pão, saúde, educação, energia para todos. Iniciar a transição até energias sustentáveis e locais, comércio local, sem mais atraso. E uma renda básica universal às custas dos 20% mais ricos. 

Que fazer diante do maior êxodo da história recente europeia? O êxodo de quatro milhões de pessoas da Ucrânia que fogem da guerra, sobretudo mulheres e crianças, é um drama como não se via desde a segunda guerra mundial. É um dever humanitário e de ajuda a resistência acolher e oferecer toda a ajuda possível a estas famílias e pessoas ucranianas. Devemos abrir as portas em toda Europa e exigir uma regularização imediata, sem burocracia. E aproveitar para exigir o mesmo para todas as demais pessoas refugiadas que, por guerras, mudanças climáticas ou saque colonial de suas riquezas, chegam ao nosso continente. 

Que segurança e futuro podemos ter? Esta guerra europeia inaugura um novo período. A globalização capitalista já mostra seus limites. Os impérios russo, americano, europeu e chinês se preparam para uma feroz competição, que pode levar a extensão da guerra. Na Europa é jogado agora, novamente, se saem debilitados os imperialistas ou a classe trabalhadores e o povo. A permanência do bloqueio militar da OTAN não só não é nenhuma garantia de paz, nem segurança, nem liberdade, senão a preparação de mais guerras contra cada povo e entre povos para salvar o capitalismo decadente que nos leva a um terrível caos econômico, social e climático. Temos que iniciar uma transição o quanto antes para um sistema mais justo socialmente, livre, comunal, de respeito a autodeterminação dos povos e da soberania cidadã, igualitário, um ecossocialismo democrático e feminista. 

A única unidade possível na Europa é isolada a Rússia dela? Estamos contra a russofóbia que destila ódio e divisão na Europa. As proibições de artistas e atletas russos é uma nova mostra de inumanidade e incultura que impregna o capitalismo e seus mitos de fabricar “povos bons e povos maus”. A unidade da Europa não virá da OTAN nem da União Europeia dos monopólios, incapaz de ter uma Constituição democrática, senão da luta unidade dos povos contra Putin e contra a OTAN e contra os Estados que aderiram à UE em função das grandes multinacionais e bancos, mas por trás da vontade soberana popular. É imprescindível agora pressionar nossos governo com manifestações e ações pela paz, necessitamos construir uma perspectiva concreta, independente da UE: uma Europa de povos livres, Unida do Atlântico até os Urais, sem capitalismo predador e sem guerra armamentistas ou comerciais. Paz entre povos e guerra contra os exploradores. 

As diversas esquerdas e movimentos que querem lutar pela paz e contra a guerra devemos encontrar a maneira de defender a Ucrânia das bombas e defender a economia e a vida das classes trabalhadoras. Vamos nos tornar fortes na ação unida! Defendemos o compromisso e a implicação sindicalista para refazer os laços entre as classes trabalhadoras da Ucrânia e de toda Europa incluída a Rússia! Preparemos una grande ação europeia contra a guerra de Putin, contra o rearmamento, por uma Europa unida dos trabalhadores e dos povos. 

Não à guerra: em 24 de abril, manifestações em toda Europa!

7 de abril de 2022.


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Pedro Micussi