Uma nova Revolta do Busão em Natal
Foto: Maria Antônia

Uma nova Revolta do Busão em Natal

A capital potiguar foi vanguarda antes de 2013 do movimento que questionou o direito ao transporte público no país inteiro e posteriormente todo o sistema político. A Revolta do Busão deixou uma herança de lutas importante, que passa agora por um novo fôlego em 2022.

Camila Barbosa 25 abr 2022, 16:53

Há cerca de dez anos atrás eram gestadas na capital potiguar as condições políticas para uma revolta popular dirigida do começo ao fim – um fim parcial, melhor dizendo – por estudantes. À juventude exaurida que todos os dias é depositada em latas de sardinha, circulando horas a fio para chegar nas escolas e nas Universidades, pagando caro para acessar um direito extraviado no caminho, coube converter a indignação de maioria social com o transporte público de péssima qualidade em luta dilacerante nas ruas.

Na época, a gestão de Micarla de Sousa (PV) acumulava uma série de escândalos de corrupção à frente da Prefeitura, chegando a despertar a onda de protestos que culminou na ocupação da Câmara Municipal em junho de 2011, tendo sido determinante para o seu afastamento. Em 2012 uma tentativa de aumento no preço da passagem de ônibus foi derrotada pelo movimento e há exatos dois anos da ocupação, em 2013, durante o que parece ser o apelo revolucionário do mês de junho, o Brasil fervia de mobilizações vanguardeadas por essa fagulha rebelde despontada no Nordeste.

Uma década é suficiente para uma criança nascer e concluir os primeiros anos do ensino fundamental. Digamos que seja uma criança natalense que depende do SETURN (sindicato patronal das empresas de transporte urbano) e da STTU (secretaria que sela da parte da Prefeitura os acordões com os empresários) para se deslocar. É o período de tempo razoável para que ela alimente muito ódio sempre que tiver que pegar um ônibus e participe do ato convocado pelo DCE da UFRN no último dia 20 de abril, como fizeram tantos secundaristas que também estiveram lá e se somaram aos quase mil protestantes.

A verdade é que desde a primeira Revolta do Busão os sujeitos são substituídos nominalmente, mas permanece o mesmo esquema de máfia gerida pelo SETURN, pela Prefeitura e também pela maioria de vereadores igualmente beneficiada financeiramente para fechar os olhos na Câmara. Não há sequer uma licitação que regulamente em marcos básicos o serviço. Recentemente diversas linhas, incluindo as que passavam no campus central da UFRN, foram retiradas, e o que esses senhores argumentam é que se trata de “uma medida necessária para recuperar o prejuízo que a pandemia causou”. E o prejuízo do povo mais pobre que foi nocauteado pela crise? Quem recupera?

Uma vida de privações pode arrancar gradualmente a nossa capacidade de respondê-los a altura, mas quando brechas históricas são abertas, quem já tem muito pouco também perde o medo. Foi com essa força que fomos bombardeados de spray de pimenta há alguns meses quando reivindicávamos que o circular da UFRN continuasse gratuito. Fomos vitoriosos, o método da luta é sempre o mais eficaz. É através dele que decidimos agora reabrir uma disputa prolongada em defesa do trânsito digno do povo na cidade do Natal.

O próximo 25 de abril marcará a construção de um calendário maior de mobilizações. Álvaro Dias (PSDB), detentor atualmente do segundo maior salário de Prefeito no país e guardião afinco dos lucros dos empresários de toda ordem, que se cuide! A Revolta do Busão está de volta!


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