A guerra em profundidade: uma nova escalada global?

A guerra em profundidade: uma nova escalada global?

A pandemia mudou o cenário mundial nos últimos dois anos e a guerra aprofunda as contradições em escala planetária.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 20 maio 2022, 19:02

Após entrar em uma nova fase, a guerra da Ucrânia volta a trazer pânico para o conjunto do planeta. A confirmação, por parte dos governos da Finlândia e da Suécia de ingressar imediatamente na OTAN criou um fato novo global. A resposta de Putin, que corre risco de ver suas tropas num pântano na invasão, não deixa dúvidas sobre a gravidade da situação. Seu ministro de relações exteriores, Serguei Lavrov, voltou a falar em “terceira guerra mundial”. Como retaliação, a Rússia expulsou dezenas de diplomatas da Espanha, França e Itália, entre outros países.

Por outro lado, os efeitos da guerra “profunda”, que se prolonga, trazem riscos reais para a estabilidade de diversos países, incluindo potências. A inflação não para de crescer. Como escreveu o editorial do jornal Valor Econômico de 19 de maio: “A fome vai se espalhando pelo mundo e se tornando um problema global à medida que a invasão da Ucrânia pela Rússia não tem data para acabar e as negociações para isso sequer têm continuidade”.

90 dias de agressão russa

Os números oficiais e extraoficiais mostram uma Ucrânia devastada, ainda que resistente. Segundo a chefe da missão de monitoramento da ONU no país, o número de vítimas vai muito além dos quase 4 mil mencionados oficialmente, sobretudo pelos combates na região de Mariupol.

Os combates prosseguem em todo país. A Rússia tem usado destacamentos especiais, como os chechenos e milícias que aturam na guerra civil síria, para controlar toda a fronteira e as proximidades da região de Donbass. Combinam-se novas mostras do expansionismo russo, como a ação sobre a Moldava e a marcação de um plebiscito para retomar o controle da Ossétia do Sul. A resistência civil ucraniana realiza um combate hercúleo para defender suas posições. Como descreve Gilbert Achcar em seu último artigo de opinião:

“El pueblo ucraniano libra una guerra justa contra una invasión imperialista y por tanto merece nuestro apoyo. Su derecho a la autodeterminación no solo es válido frente a Rusia, sino también con respecto a su decisión de luchar. Es el único que debe poder decidir si seguir luchando o aceptar cualquier solución de compromiso que se ponga sobre el tapete”.

A guerra agrava as contradições de todo período que vivemos. A pandemia que mudou o cenário mundial nos últimos dois anos – e ainda ameaça zonas inteiras da China – trouxe uma situação de maior instabilidade. A guerra aprofunda tal condição em escala planetária.

Do teatro de operações à “guerra de preços”

A guerra trouxe para a Europa a porta da escalada dos conflitos bélicos. As tensões aumentam e colocam a Europa no centro dos acontecimentos e de enormes contradições. O tema dos refugiados e imigrantes, que já polarizava o cenário europeu há anos, reaparece com intensidade.

A disparada nos preços embute uma crise alimentar enorme. O governador do banco da Inglaterra, Andrew Bailey, alertou para o risco da queda brusca no poder de compra dos salários. E a crise se retroalimenta em espiral. A produção de alimentos e fertilizantes lançada no leste europeu retraiu após quase três meses de guerra.

Alguns países já tiveram levantes por conta do aumento do custo de vida, em especial dos combustíveis e dos alimentos. Houve protestos no Iraque, na Albânia e a importante revolta no Sri Lanka. Diante do agravamento da crise econômica, incapaz de reembolsar a dívida externa, que ascende a US$ 51 bilhões, as massas foram às ruas, e depois de uma greve geral histórica, houve um “dia de fúria” que cercou a sede do governo, resultando na morte de um deputado e na queda do primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa.

A falta de uma perspectiva de desfecho da guerra no horizonte leva a incertezas e crises. O que está claro é o reordenamento global dos atores políticos, novas convulsões sociais e uma maior polarização, com as populações pobres do mundo pagando o “preço da guerra”.

No Brasil, tal processo já está em curso: a crise dos fertilizantes leva a uma maior ofensiva dos garimpeiros sobre terras indígenas; a queda de braço diante dos aumentos dos combustíveis, que levou à queda do presidente do Petrobrás e do ministro Bento Albuquerque; e a explosão da inflação, que alcança os maiores índices em três décadas, ou seja, o pico desde o início do Plano Real.

Iniciativas necessárias

É necessário ter política para intervir nessa realidade, tanto no terreno da solidariedade internacional, quanto para combater os efeitos da crise no Brasil. Na questão internacional, ampliamos nossa presença na solidariedade à luta do povo ucraniano: estivemos com uma delegação no leste europeu, nos relacionamos com sindicalistas que foram ao comboio a Lviv. A nova edição da Revista Movimento é especial sobre a guerra, com entrevistas e artigos exclusivos sobre a resistência ucraniana e a posição da IV Internacional. Uma nova delegação da nossa direção estará presente no congresso da esquerda polaca em meados de junho. Vamos seguir atuando para combater as posições campistas e apresentar um programa alternativo, com base num novo programa de transição.

Ao mesmo tempo, no âmbito nacional, a melhor forma de combater os efeitos da guerra é atuando para remover o arauto da extrema-direita, responsável pelo genocídio no país, Jair Bolsonaro: é necessário derrotá-lo nas ruas e nas urnas! Quanto ao preço dos combustíveis, é preciso terminar com a política de paridade de importação e defender uma Petrobrás 100% pública e estatal, além de um plano alternativo que ataque a inflação, taxe os bilionários e construa outro caminho para o povo brasileiro. 


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Camila Souza