Entre derrotados e vitoriosos: quem pode decidir a eleição?

Entre derrotados e vitoriosos: quem pode decidir a eleição?

A mobilização militante e do povo como estratégia para vencer Bolsonaro.

Leandro Fontes 10 out 2022, 13:05

O 2º turno é uma nova eleição e está claro que a disputa será duríssima até o final. Desde 1989 o país não via uma disputa tão acirrada: Lula conquistou 48% dos votos e Bolsonaro obteve 43%. Porém, conforme baliza o Secretariado Nacional do MES em https://movimentorevista.com.br/2022/10/notas-iniciais-sobre-o-resultado-do-1o-turno-voltar-as-ruas-para-vencer-no-dia-30-de-outubro/, o bolsonarismo saiu fortalecido na disputa dos estados e do congresso nacional, incluindo o triunfo eleitoral de ex-ministros do governo e do vice-presidente Hamilton Mourão. Além disso, o Datafolha (07/10/2022) apresenta que a distância entre Lula (49%) e Bolsonaro (44%) está se reduzindo. De tal maneira, o processo está aberto e não está descartada, portanto, uma vitória nas urnas de Bolsonaro. Embora Lula siga na dianteira e tenha a adesão do PDT e de Tebet, esta última com maior capacidade de transferência de votos, está claro que a campanha deve virar a chave para não deixar a vitória escapar pelos dedos.

A hipótese de um triunfo nas urnas de Bolsonaro foi vista com ceticismo pelos prognósticos dos principais analistas políticos do país e até mesmo por setores das esquerdas, que, sob o olhar das pesquisas da última quinzena de setembro, colocavam a vitória no 1º turno de Lula como uma possibilidade nada desprezível e/ou uma vantagem mais elástica para o petista no 2º turno. Tanto foi assim que jornalistas de opinião identificados com a centro-direita na mídia corporativa, como Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg, passaram a transmitir a posição irresponsável de uma parte da classe dominante que consistia na necessidade de existência do 2º turno para que Lula não tivesse um “cheque em branco” e fosse forçado a negociar com partidos da burguesia, localizados ao “centro democrático” (ex-terceira via), um programa ainda mais adaptado ao sistema na economia, tal como toca a música com Guedes.

Acontece que no lugar da “onda democrática” veio uma forte “onda da extrema-direita / antipetista” que não só impediu a vitória no 1º turno de Lula, mas, também, deu munições poderosas, sobretudo nas máquinas estaduais, nas mãos de Bolsonaro para a segunda volta da disputa. A verdade é que a força do bolsonarismo nas urnas não só contrariou os institutos de pesquisa frente aos números do Sudeste e no Sul, mas, igualmente, devastou o chamado “centro” que saiu, com exceção do desempenho de Tebet (daí sua importância no 2º turno na frente anti-Bolsonaro), fragorosamente derrotado no tabuleiro político nacional. 

O caso da falência política do PSDB é emblemático. Esse partido burguês de programa neoliberal, que foi dirigente do capitalismo brasileiro nos dois mandatos de FHC e que comandava São Paulo há 28 anos, teve seu espólio político tomado pelo bolsonarismo. Não é à toa que o tucanato saiu totalmente desmoralizado das eleições, com a menor representação de sua história no congresso nacional (13 deputados e nenhum senador), e tendo o engodo de ter em suas entranhas uma fração nada desprezível, com o governador de SP derrotado nas urnas na cabeça, apoiando Bolsonaro no 2º turno. Por outro lado, o que sobrou da ala ideológica dos tucanos, com Serra (derrotado nas urnas) e FHC à frente, declarou apoio a Lula. Todavia, diferente da máquina gerida por Rodrigo Garcia, FHC e cia não agregam votos à candidatura de Lula. Resta saber se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, sairá do muro diante da polarização nacional e da disputa com Onyx Lorenzoni, seu adversário bolsonarista no 2º turno gaúcho.

Entretanto, não somente os tucanos saíram feridos de morte dessas eleições. Pelo contrário, Ciro Gomes, que teve: 11% em 1998; 12% em 2002; 12,5% em 2018, optou por se apresentar como uma espécie de “terceira via do B”, um “centro” nacional-desenvolvimentista, e saiu das urnas com 3,05%, tendo o peso nas costas de uma atuação regressiva, priorizando ataques a Lula fora do tempo e do espaço, que, em última instância, auxiliaram Bolsonaro no seu caminho para o 2º turno. Não foi por nada que uma fatia importante dos eleitores de Ciro migrou seu voto para Bolsonaro no 1º turno e seu candidato no Ceará terminou com 14%, atrás de Capitão Wagner do União Brasil e de Elmano Freitas do PT que foi eleito no 1º turno com 53% dos votos. De tal maneira, o melancólico saldo eleitoral de Ciro foi compatível com sua irresponsabilidade política, o que lhe reserva um lugar privilegiado na boca da lata do lixo da história.

Além destes, outro grande derrotado nas eleições foi Freixo, que optou por sair do PSOL para construir uma frente ampla com César Maia (PSDB) para governar de modo domesticado com a burguesia, tendo como orientação à negação de sua essência como político que liderou à esquerda do Rio de Janeiro na última década. Todavia, o “novo” Freixo em sua guinada ao “centro” só conseguiu acumular perdas, a começar por sua campanha pálida e esvaziada, sem ânimo militante e com pouca adesão social. A rigor, Freixo sequer conseguiu ajudar o PSB, seu partido atual, sair melhor nas urnas, que elegeu somente 1 (um) deputado federal e 2 (dois) deputados estaduais. Frustrando, portanto, oportunistas que pragmaticamente pegaram carona no movimento ao “centro” de Marcelo Freixo com objetivos meramente eleitorais. Assim sendo, a derrota acachapante no 1º turno – 58,67% a 27,38% – para Castro, contendo na balança um claro desserviço à luta ideológica, descredenciou Freixo como alternativa à esquerda nos embates seguintes.    

Por outro lado, o PSOL/RJ, mesmo tendo caminhado para a frente eleitoral encabeçada por Freixo, mas com posição votada em instância estadual contrária à participação em governos de conciliação de classes, manteve seu lastro eleitoral e elegeu 5 (cinco) deputados federais e 5 (cinco) deputados estaduais, entre os vitoriosos está Prof. Josemar, membro do MES, que irá deixar a câmara de vereadores de São Gonçalo para assumir uma cadeira na bancada psolista na ALERJ. Embora sem candidatos majoritários, a vitória eleitoral do PSOL/RJ demostra que as posições da esquerda radical continuam tendo força em setores de massas. O PCdoB, por sua vez, elegeu 1 (um) federal e 1 (um) estadual e o PT, aproveitando o capital político de Lula e a máquina da prefeitura de Maricá, elegeu 5 (cinco) deputados federais e 7 (sete) deputados estaduais. Contudo, ao lançar André Ceciliano, o PT/RJ assumiu o ônus de dividir os votos das esquerdas na raia do Senado, uma vez que a candidatura de Molon se apresentava e se comprovou com maior viabilidade eleitoral para competir contra Romário.

O momento não é de agitação de caracterizações com o carro em movimento, porém é necessário tirar lições do 1º turno para avançarmos no último round da luta nacional. Para tanto o caminho não é pelo centro e sim pela esquerda, apostando na mobilização militante e do povo. Num rápido Raio X da situação política é possível enxergar que quem caminhou para o “centro”, tentando se adaptar eleitoralmente, obteve os piores resultados. O comparativo, até mesmo em derrotas eleitorais, auxilia a posição: o sem-terra Edegar Pretto (PT), por exemplo, com Pedro Ruas (PSOL) de vice no Rio Grande do Sul, numa chapa sem setores da burguesia ficou por apenas 2.441 votos (em porcentagem: 26,81% x 26,77%) de superar Eduardo Leite e chegar ao 2º turno na eleição gaúcha. Quer dizer, um resultado impactante diante da força do bolsonarismo no Sul e de um acerto na orientação política, que, aliás, se fosse encampada pelo “Polo Socialista Revolucionário” e pelo PCB, diante de seus resultados eleitorais, nesse momento a chapa Pretto/Ruas poderia estar no 2º turno contra o bolsonarista Onyx. Situação oposta, guardada as devidas proporções e particularidades, ao saldo político-eleitoral do “novo” Freixo no Rio de Janeiro, que ficou atrás de Cláudio Castro por 2.629.308 votos, mais do que o dobro de votos na disputa direta.     

Isto posto, está claro que a esquerda radical e a esquerda reformista estão mais bem posicionadas e moralizadas do que as eventuais frações do “centro democrático” na maior parte dos estados da federação para contribuir de modo militante e no convencimento do vira voto, principalmente em eleitores oriundos da classe trabalhadora que no primeiro momento pode ter optado por outras candidaturas, anulado, votado em branco ou até se abstido. Portanto, os partidos e organizações das esquerdas, devem dar um passo à frente e assumir o timão da campanha Lula para derrotar Bolsonaro até onde suas forças permitirem. Essa tarefa não será para nada simples, vide a mobilização social e política que o bolsonarismo conserva, testada no 7 de setembro e comprovada nas urnas. Mas, o exemplo da mobilização da Praça da Liberdade em Belo Horizonte deve servir de gabarito. Por isso, a militância de carne e osso é decisiva. Até porque está cristalino que o bolsonarismo não se derrota na véspera pela força de pesquisas eleitorais, este conta com peso majoritário dos evangélicos e suas ramificações no seio de parte do proletariado, e ainda de um eleitorado conservador de classe média que está ampliando cada vez mais seu alcance. Além disso, está na conta a máquina dos governos estaduais de direita e, principalmente, do governo federal que está sendo usada à exaustão, já no 1º turno teve efeito dessa poderosa engrenagem. De tal forma, é preciso dobrar os esforços do lado de cá, impulsionando panfletagens, banquinhas, ampliando o número de materiais e, sobretudo, a capacidade de mobilização. Venceremos! 


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