A crise bancária é uma crise do capitalismo
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A crise bancária é uma crise do capitalismo

Artigo sobre a crise bancária escrito em parceria entre o movimento de juventude Juntos! brasileiro e a tendência norte-americana Bread & Roses, da organização DSA.

Labiba Chowdhury e Victor Luccas 2 abr 2023, 18:54

Foto: Tony Webster

Via Juntos!

Estamos enfrentando a maior crise bancária desde 2008. Trabalhadores em todo o mundo estão observando apreensivamente enquanto a crise iminente se aproxima e os principais bancos vão à falência. O Silicon Valley Bank (SVB) foi o primeiro a entrar em colapso em 10 de março e é o maior banco a falir desde a crise financeira de 2008. O Credit Suisse e outros também entraram em colapso desde então e agora nos deparamos com as seguintes questões: Por que isso está acontecendo? Como isso afetará as pessoas da classe trabalhadora em todo o mundo? O que podemos fazer para evitar crises como essa?

O SVB era um credor especializado em startups e a 16ª maior instituição financeira dos EUA, com mais de U$ 200 bilhões em ativos. Ele faliu devido a uma “corrida bancária” – grande parte de seus depositantes retirou seu dinheiro ao mesmo tempo devido ao medo de que o banco se tornasse insolvente, uma profecia auto-realizável, evidenciando a instabilidade do capitalismo. Uma das muitas razões do medo foi a queda do valor dos ativos do SVB. O aumento das taxas de juros levou à queda do valor dos ativos do SVB porque uma quantidade significativa de investimentos do SVB foi em títulos e empréstimos de taxa fixa, que perdem valor quando as taxas de juros aumentam. Muitos estão dizendo que o SVB estava fadado à falência, não é preciso muita investigação para ver que essa instituição nunca deveria ter existido. Cerca de 89% dos US$ 175 bilhões depositados no banco não estavam assegurados. Tudo isso culminou com o saque de U$ 42 bilhões em 48 horas e a falência do SVB.

Por que devemos nos preocupar com um banco localizado no Vale do Silício? O SVB foi apenas o primeiro a falir, criando um efeito cascata internacional. Dois dias após a falência do SVB, os reguladores dos Estados Unidos fecharam outro banco, o Signature Bank. Depois de alguns dias, foi o Credit Suisse, banco internacional classificado como “too big to fail” (grande demais para falir). Outros bancos estão enfrentando o mesmo problema, como o First Republic Bank, cujas ações caíram mais de 70%.

Como foi a Intervenção Governamental?

As consequências dessas falências seriam enormes, por isso os governos dos Estados Unidos e da Europa injetaram dinheiro no sistema bancário para salvá-lo. Agora, os bancos podem pegar empréstimos no Federal Reserve tendo seus títulos da dívida como garantia. O FED já emprestou mais de US$ 300 bilhões em fundos emergenciais aos bancos nas últimas semanas. Em contrapartida, o salário mínimo federal, por exemplo, é de apenas U$ 7,25 por hora sem nenhum reajuste desde 2009 e os programas sociais são pouco estimulados enquanto o governo socorreu mais de 50 bancos nesses anos. A famosa privatização dos lucros e a socialização das perdas, sempre há dinheiro para os capitalistas, mas nunca para o povo.

Por outro lado, apesar do apoio de US$ 30 bilhões, as ações do First Republic Bank caíram quase 33%. John Petrides, gerente da Tocqueville Asset Management, disse que “possivelmente o mercado está procurando uma venda/comprador total e não uma injeção de capital”. Mas qualquer gestão de bancos privados está exposta ao risco de uma crise financeira, é inerente ao capitalismo.

De modo semelhante, o Credit Suisse pegou um empréstimo de quase 50 bilhões de francos suíços do Banco Nacional da Suíça, mas não foi o suficiente para salvá-lo do colapso. No fim das contas, o governo obrigou o UBS, seu principal concorrente, a comprá-lo por apenas U$ 3,2 bilhões. O conhecido processo capitalista de centralização do capital.

“Com a diminuição constante do número de magnatas do capital, que usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação, aumenta a massa da miséria, da opressão, da servidão, da degeneração, da exploração, mas também a revolta da classe trabalhadora, que, cada vez mais numerosa, é instruída, unida e organizada pelo próprio mecanismo do processo de produção capitalista. O monopólio do capital se converte num entrave para o modo de produção que floresceu com ele e sob ele. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho atingem um grau em que se tornam incompatíveis com seu invólucro capitalista. O entrave é arrebentado. Soa a hora derradeira da propriedade privada capitalista, e os expropriadores são expropriados.”

– Karl Marx. O Capital, Capítulo 24.

Quais as Consequências para o Brasil?

Devido ao aspecto internacional do capitalismo, todo esse processo afeta o Brasil. A política monetária internacional restritiva combinada ao aliado de Bolsonaro na presidente do Banco Central do Brasil nos levam a ter a maior taxa de juros real do mundo, nominalmente em 13,75%. Isso está desacelerando tanto a economia que as montadoras concederam férias coletivas forçadas a seus funcionários (devido às leis trabalhistas e aos sindicatos do Brasil, os trabalhadores recebem seus salários, ao contrário dos EUA), o que é um sintoma precoce de corporações fechando. Como a Ford que fechou as portas no Brasil em 2022 deixando mais de 5000 pessoas desempregadas. Além das baixas apresentadas na bolsa de valores do Brasil, refletindo as falências dos EUA. O objetivo da alta de juros seria reduzir a inflação às custas do aumento do desemprego e da estagnação da economia. No final, enquanto os bancos são resgatados, as pessoas da classe trabalhadora são deixadas à própria sorte diante do desemprego e do aumento das despesas de vida devido à inflação persistente.

Nesta semana, o mercado pareceu se recuperar e aliviar o estresse do sistema financeiro. Embora na última quarta-feira, 22/03, o FED tenha aumentado a taxa de juros em 0,25% para 5%, a maior desde 2006. A Inglaterra e a Suíça também aumentaram suas taxas de juros para a maior taxa desde 2008. Por enquanto temos que esperar para ver seus efeitos e em que medida a crise se intensificará.

Agências Reguladoras no Capitalismo não são Suficientes

Em 2010, após a crise financeira de 2008, o governo dos EUA aprovou a Lei Dodd-Frank, que regulava os bancos e impedia a tomada de riscos excessivos. Então, começou a campanha do setor bancário para revogar as regulamentações. Lobistas e executivos de bancos fizeram campanha alegando que os regulamentos os prejudicavam enquanto desfrutavam de lucros recordes. Os bancos comerciais também investem milhões de dólares em eleições para eleger políticos que estão em seus bolsos. De fato, os bancos comerciais investiram mais de U$ 47 milhões nas eleições federais de 2016. Com seus milhões de investimentos ​​em 2018, o congresso reverteu os regulamentos passando a serem aplicados a menos de dez bancos nos EUA, apenas oito anos após a Lei Dodd-Frank passado.

Mesmo quando o governo aprova regulamentos sobre bancos comerciais, eles são rapidamente revogados, resultando em um sistema econômico com ciclos intermináveis ​​de crises financeiras. Sob o capitalismo, o governo serve ao capital e aos interesses da classe capitalista, não da classe trabalhadora. Assim o governo prioriza os lucros de curto prazo dos bancos comerciais acima de tudo, mesmo acima dos meios de subsistência das pessoas e de possíveis crises financeiras futuras.

Precisamos Combater e Estatizar os Bancos

A catástrofe econômica que se aproxima é certa. Professores de finanças da Columbia University, Kellogg Institute e Stanford University, publicaram um estudo revelando que outros 190 bancos americanos podem ir à falência. Esta não é uma crise isolada, é um sintoma da crise do capitalismo como um todo. Como a guerra imperialista na Ucrânia, os ataques à previdência na França e a ascensão de políticos autoritários como Bolsonaro, Trump, Dina Boluarte e Netanyahu. Não há saída para a crise dentro do sistema capitalista. Mas o povo resiste e luta nas manifestações do Peru, fazendo greve na França, Inglaterra, Grécia, Palestina, Israel e outros.

Bancos comerciais no valor de centenas de bilhões de dólares têm um poder antidemocrático e não deveriam existir. A fome e os bilionários não deveriam existir. Precisamos combater os bancos e avançar para a estatização do sistema financeiro. Juntos vamos construir um mundo que coloque as pessoas acima do lucro e lutar pela Auditoria da Dívida Pública, Estatização do Sistema Financeiro e Taxação dos Ricos!

“O que é o crime de roubar um banco comparado ao crime de fundar um banco?”

– Bertolt Brecht


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