Vereadores de Campinas rejeitam relatório da CPI Antifascista
Mariana-Conti

Vereadores de Campinas rejeitam relatório da CPI Antifascista

Segundo Mariana Conti, presidenta da comissão, reprovação foi articulada por parlamentares aliados a Bolsonaro

Tatiana Py Dutra 20 abr 2023, 14:43

Foto: Divulgação

A maioria dos vereadores de Campinas rejeitou o Relatório Final da CPI Antifascista que investigou a possibilidade de episódios de ódio e violência ocorridos em estabelecimentos de ensino e contra estudantes do município tenham sido insuflados por grupos extremistas subterrâneos.

A leitura do relatório ocorreu na tarde de quarta-feira (19) e as manifestações dos parlamentares se estenderam ao longo da tarde. Ao fim da sessão, a peça não foi aprovada pelo Plenário. A presidenta da CPI, vereadora Mariana Conti (PSOL), ficou decepcionada com o resultado, mas não surpresa.

Segundo ela, a rejeição foi promovida por  parlamentares que eram ou são apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Uma vez que a investigação da CPI indicou a existência de 16 grupos regidos por ideologias nazistas e fascistas na sua cidade, fomentados pelo discurso de ódio bolsonarista, os vereadores se esforçaram para negar a evidência.

“O que incomodou os vereadores foi a associação que o relatório aponta entre o bolsonarismo e o crescimento dos grupos nazifascistas. Muitos vereadores ali foram apoiadores de Bolsonaro e se incomodaram com o vínculo e, portanto, com a posição que eles expressaram em diferentes momentos, já que uns desembarcaram do bolsonarismo. Na verdade, [rejeitar o relatório] foi uma forma de blindar a corresponsabilidade política dos próprios vereadores”, afirma a parlamentar. 

A relação entre a expansão de grupos radicais de direita e a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), que incentivou discursos de ódio e intolerância, é corroborado por um estudo da antropóloga Adriana Dias. O documento elaborado pela professora de Antropologia da Unicamp apontou crescimento de 270% de grupos de extrema direita nos últimos quatro anos. Todos têm o “mito” entre suas referências.

O relatório

A abertura da comissão parlamentar de inquérito se deu após três episódios, ocorridos entre maio e abril de 2022, sinalizarem ameaça nazifascista aos cidadãos campineiros: pichações de símbolos nazistas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e no Colégio Etecap; um ataque armado em um bar do bairro Barão Geraldo, quando homens exibindo suásticas ameaçaram imigrantes africanos e alunos residentes na moradia estudantil; além de uma ameaça de massacre também no Etecap.

A CPI identificou que as ideologias nazista e fascista exercem forte impressão entre os jovens, especialmente os brancos de classe média – apontados como autores da maioria dos atos violentos. O trabalho da comissão intencionava orientar as instituições de ensino sobre como agir em casos de crimes de ódio e na prevenção do aliciamento das mentes de jovens e adolescentes – tema cada vez mais em voga após recentes ataques a escolas de São Paulo e Santa Catarina.

O relatório final, se aprovado, seria encaminhado ao Ministério Público, Polícia Civil e organizações de direitos humanos. Mas mesmo recusado, será empregado politicamente com  a mesma finalidade. Afinal, a quem interessa essa omissão frente a realidade?

“A gente precisa enfrentar o monstro do jeito que ele é, ainda que haja resistência dos grupos conservadores. Vamos divulgar e fazer uso político do relatório, ainda que não aprovado na Câmara”, promete Mariana.


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