Greve no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre: trabalhadores da saúde em luta!
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Greve no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre: trabalhadores da saúde em luta!

Com salários atrasados, trabalhadores do Instituto de Cardiologia, hospital privado de Porto Alegre fizeram greve vitoriosa!

Júlio Câmara 17 jul 2023, 17:32

Uma onda de insatisfação varreu o Instituto de Cardiologia, um hospital privado localizado na capital gaúcha, levando os trabalhadores a tomarem medidas drásticas para reivindicar melhores condições de trabalho.

Em meio a uma série de problemas que vêm se acumulando ao longo do tempo, o atraso no pagamento dos salários foi o estopim que desencadeou a greve.

Movidos pela busca por justiça e dignidade, os trabalhadores protagonizaram uma paralisação massiva, enviando uma mensagem clara à administração do hospital.

A mobilização dos funcionários foi tão expressiva que o movimento ganhou força e acelerou o processo de negociação, resultando na disponibilização de 6 milhões de reais para sanar as demandas e convencer os grevistas a retomarem suas atividades.

O Estopim: Salários atrasados

A indignação que culminou na greve foi desencadeada pelo atraso no pagamento dos salários, que deveriam ter sido depositados no dia 6 de julho.

Esse atraso foi apenas a gota d’água para os trabalhadores, que vêm enfrentando outros problemas igualmente preocupantes.

Um desses problemas é a falta de depósito do FGTS, que se arrasta há um ano. Essa situação delicada coloca os funcionários em uma posição vulnerável, pois aqueles que são demitidos não recebem os direitos trabalhistas a que têm direito.

Além disso, as férias não estão sendo pagas antecipadamente, conforme determinado pela convenção coletiva, o que aumenta ainda mais a revolta entre os trabalhadores.

Como se não bastasse, o descaso por parte do hospital atingiu um nível alarmante, levando os funcionários a terem seus nomes negativados nos serviços de proteção ao crédito devido à falta de pagamento dos empréstimos consignados pelo próprio hospital.

Protestos e assembleia construíram a greve

No dia 6, uma quinta-feira marcada pelo atraso do pagamento de salários, os trabalhadores decidiram que era hora de tomar uma atitude. Lucia Mendonça e Arlindo Ritter, diretores do Sindisaúde-RS, rapidamente confeccionaram panfletos e os distribuíram entre os trabalhadores do hospital.

O chamado para o protesto, agendado para às 13h da sexta-feira seguinte, ecoou entre os funcionários, que enfrentaram corajosamente a chuva intensa para se unir em massa em frente ao hospital. O protesto ganhou destaque na imprensa, porém, mesmo com toda a repercussão, os salários permaneceram atrasados.

Manifestação realizada na sexta-feira, dia 7, reuniu dezenas de trabalhadores apesar da chuva

Em uma tentativa enganosa de apaziguar o movimento, a direção do hospital prometeu informalmente que 50% dos salários seriam pagos na sexta-feira.

Para a manhã de segunda-feira, o Sindisaúde-RS convocou uma assembleia com a possibilidade de greve na pauta.

Em votação unânime, funcionários decidiram pela greve

Durante o fim de semana, as promessas da direção do hospital foram mais uma vez descumpridas, e um número expressivo de trabalhadores votou a favor da greve, que seria iniciada na sexta-feira seguinte, dia 14, cumprindo o prazo legal de 72 horas de aviso ao empregador e à sociedade.

Mesmo com o problema escancarado há uma semana, o hospital ainda não havia regularizado o pagamento dos salários dos trabalhadores. Entre os profissionais revoltados estavam técnicos de enfermagem, higienizadores, funcionários administrativos, técnicos em segurança do trabalho e outros setores fundamentais para o funcionamento do hospital, representados pelo Sindisaúde-RS.

Nos dias que antecederam o início da greve, o comando de greve, eleito pelos próprios trabalhadores, trabalhou incansavelmente, demonstrando um engajamento muito maior do que o demonstrado pela própria direção do hospital para resolver a situação.

Na terça-feira, o comando de greve, a partir de articulação do vereador Roberto Robaina (PSOL) , se reuniu com o secretário municipal de saúde. Na quinta-feira, foi a vez de se encontrarem com o procurador Geraldo da Camino, do Ministério Público de Contas, buscando colaboração para uma auditoria nas contas do hospital, que recebe uma grande contribuição do SUS.

Queda de Braços

Uma verdadeira queda de braço se desenrolava entre os trabalhadores e os empregadores, delineando a construção de um “duplo poder”. A organização dos funcionários por meio dos setores do hospital garantiu o funcionamento necessário para evitar qualquer risco aos pacientes, mesmo diante das adversidades.

Desafiando o movimento e demonstrando desdém, a direção do hospital optou por não abrir um canal de diálogo com os funcionários, limitando-se apenas a tentativas internas de intimidação.

Consolidação da greve

Ao chegar às 6h30, encontrei a primeira dupla, Etevaldo Teixeira, assessor sindical do mandato da deputada Luciana Genro (PSOL), e Arlindo Ritter, diretor do Sindisaúde-RS e presidente da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição, enfrentando o frio de 9°C na frente do hospital.

Pouco depois, o sindicato montava a estrutura do piquete, destacando dois banners imponentes de 3 metros com a mensagem: “Greve não é uma opção, é uma necessidade”.

Antes mesmo do sol surgir no horizonte, as primeiras dez funcionárias em greve já marcavam presença, prontas para lutar pelos seus direitos e cobrir os setores caso a adesão à greve colocasse em risco a saúde dos pacientes.

Às 7h10, quando o sol chegou, a greve já estava consolidada, e as imagens de dezenas de grevistas foram transmitidas pelos telejornais, desmentindo a suposta normalidade e baixa adesão. Ao longo da manhã, o grupo de WhatsApp responsável pela organização da greve viu seu tamanho quadruplicar. Dessa vez, a coragem superou o medo e se espalhou como um contágio.

Durante todo o dia, o piquete recebeu a visita de jornalistas e apoiadores. Após o almoço, aproveitando a troca de turno, que permitiu a participação de mais trabalhadores, foi organizada uma marcante passeata ao redor do hospital, revelando à sociedade o teor da faixa erguida pelo sindicato: “Este hospital desvaloriza seus trabalhadores”.

Após a passeata, a preocupação era assegurar a continuidade do piquete durante a noite fria, que chega mais cedo em Porto Alegre durante o inverno. No entanto, antes das 17h, os salários começaram a ser depositados nas contas dos funcionários, e a direção do hospital buscou o Sindisaúde-RS para uma reunião.

A comissão, composta por duas representações do sindicato, o presidente Julio Jesien, a diretora de formação sindical Lúcia Mendonça e duas representações do comando de greve, saíram da reunião com informações e uma proposta em mãos, a ser apresentada e submetida à decisão da assembleia.

 Acordo assinado, greve suspensa  e desafios futuros

Após negociações, um acordo foi finalmente assinado, resultando na suspensão da greve. A direção informou que uma ação conjunta entre o governo municipal e estadual direcionou cerca de 6 milhões de reais para quitar os salários em atraso e as dívidas rescisórias dos trabalhadores. Desse montante, 2,5 milhões serão destinados à aquisição de insumos essenciais para garantir o pleno funcionamento do hospital e preservar os postos de trabalho no futuro próximo.

No âmbito do acordo, medidas importantes foram estabelecidas. A regularização das férias atrasadas está prevista para ser concluída até setembro, proporcionando aos funcionários o descanso devido. Além disso, serão adotadas soluções para resolver os problemas relacionados aos empréstimos consignados, que têm gerado a negativação do nome dos colaboradores junto aos órgãos de crédito.

Para fortalecer ainda mais a estabilidade dos grevistas, ficou acordado que não haverá demissões ou retaliações, como transferências de setor, pelo período de 8 meses. Os trabalhadores que assinaram o ponto paralelo, uma lista de presença disponível no piquete da greve, terão suas garantias respeitadas.

Greve vitoriosa

Os trabalhadores do Instituto de Cardiologia protagonizaram uma greve de menos de 12 horas e conseguiram conquistar um acordo de extrema relevância. No entanto, ninguém esquece o histórico da patronal, marcado por falsidades e artimanhas que prejudicam constantemente os trabalhadores. Assim, fazer valer o acordo alcançado e garantir uma valorização profissional genuína representa a continuação dessa batalha.

A greve no Instituto de Cardiologia pode servir como um exemplo inspirador para a luta dos profissionais da saúde. Esses profissionais, que foram aplaudidos durante a pandemia enquanto enfrentavam corajosamente o novo coronavírus, estão enfrentando a ingratidão por parte dos empregadores, que buscam constantemente retirar seus direitos e sobrecarregá-los ainda mais.

É importante ressaltar que esses profissionais estão lidando com a falta de aumento salarial desde o início da pandemia, resultando em uma média salarial de R$2.418 para técnicos de enfermagem, R$1.907 para higienizadores e R$1.695 para o pessoal administrativo que atua no renomado Instituto de Cardiologia de Porto Alegre.


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