Misoginia e violência ampliam irrelevância da CPI do MST
Sâmia não se cala

Misoginia e violência ampliam irrelevância da CPI do MST

Em dia de depoimento do José Rainha, Zucco se entala com ‘hambúrguer’ e mulheres saem por cima, mais uma vez

Tatiana Py Dutra 4 ago 2023, 10:26

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A CPI do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi constituída em um poço de irrelevância, sem objeto concreto e seu andamento até aqui, não serviu para nada. Mas se por um lado os bolsonaristas que comandam o colegiado se mostram incompetentes em sua intenção de criminalizar o movimento social, têm demonstrado grande talento ao expor sua própria misoginia em casos explícitos de violência política de gênero.

Esse espetáculo – extremamente penoso de assistir – ganhou novo episódio nesta quinta-feira, quando o presidente da CPI, Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), fez uma fala machista e gordofóbica à deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

A fala ocorreu durante o depoimento de José Rainha, líder da Frente Nacional de Lutas Campo e Cidades (FNL), depois de o relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), apresentar um vídeo de Rainha pedindo votos a Sâmia Bomfim.

Após pronunciamento de Sâmia, Zucco, em tom irônico, questionou se a parlamentar queria “um hambúrguer” ou “um remédio” para se acalmar.

“A senhora respeite. A senhora está nervosa, deputada? Quer um remédio ou quer um hambúrguer?”, disse o parlamentar.

A pergunta ofensiva surpreendeu inclusive parlamentares da oposição, mas a deputada Taliria Petrone (PSOL-RJ) saiu a frente na indignação, e disse que Zucco desrespeitou o regimento da Câmara. 

“O senhor é presidente de uma CPI, o senhor não tem vergonha de envergonhar o parlamento brasileiro e atacar mulheres eleitas?”, declarou, rebatendo tentativas de interrupção de outros integrantes da CPI e da mesa. “O senhor cale a sua boca porque estou no meu tempo, não me interrompa”, disse Taliria.

E pronto. A sessão que intencionava levantar algum “podre” de Rainha, da FNL, do MST, da ligação com a esquerda com os movimentos sociais, voltou a ser sobre machismo, violência e inépcia. Não deve haver na história da Câmara uma CPI tão desmoralizada. 

“Essa é a conduta do presidente e do relator desde o início dos trabalhos da CPI, tanto no espaço do Parlamento como nas redes. Isso só corrobora com a desmoralização dessa comissão que, em vez de criminalizar o movimento como eles pretendiam, só tem acumulado episódios de abuso de autoridade e violência política de gênero. Por esse crime, aliás, ambos já respondem a inquérito na PGR e esse fato novo será somado aos autos”, informou Sâmia, em nota.

Conselho de Ética

A deputada pedirá o aditamento das representações já levadas à Procuradoria-Geral da República e ao Conselho de Ética da Câmara por violência política de gênero. O PSOL também entrará com um processo contra Zucco no Conselho de Ética da Câmara. 

“As notícias que estampam os jornais de hoje sobre essa CPI são sobre o show de misoginia que aconteceu desde o início, não é sobre outra coisa. E não poderia ser diferente porque o povo brasileiro não concorda com isso, sobretudo as mulheres brasileiras”, disse Sâmia na sessão, após a fala de Zucco. “Nunca calem a boca, nunca se intimidem, nunca abaixem a cabeça para machista nenhum.”

À imprensa, Zucco se faz de vítima e alega ser alvo de ataques e “ofensas de baixo nível”. Segundo ele, parlamentares como Taliria, Sâmia e Fernanda Melchionna (PSOL-RS) atuam para “interromper trabalhos, fazer provocações baixas e desrespeitosas com seus colegas para, no final, posarem de vítimas apenas pelo fato de serem mulheres”. Zucco destaca que pediu a retirada de sua fala das notas taquigráficas da sessão. Tem erros que borracha nenhuma apaga, deputado. 

Como diz Sâmia, o “tiro da CPI do MST saiu pela culatra”:

“Restou aos bolsonaristas apenas a baixeza dos ataques misóginos. Tenho orgulho do nosso trabalho nessa CPI e vamos seguir combatendo o agrogolpismo com ainda mais força. As mulheres não abaixarão a cabeça, a nossa coragem é o medo deles!”


TV Movimento

A história das Internacionais Socialistas e o ingresso do MES na IV Internacional

Confira o debate realizado pelo Movimento Esquerda Socialista (MES/PSOL) em Porto Alegre no dia 12 de abril de 2025, com a presença de Luciana Genro, Fernanda Melchionna e Roberto Robaina

Calor e Petróleo – Debate com Monica Seixas, Luiz Marques + convidadas

Debate sobre a emergência climática com a deputada estadual Monica Seixas ao lado do professor Luiz Marques e convidadas como Sâmia Bonfim, Luana Alves, Vivi Reis, Professor Josemar, Mariana Conti e Camila Valadão

Encruzilhadas da Esquerda: Lançamento da nova Revista Movimento em SP

Ao vivo do lançamento da nova Revista Movimento "Encruzilhadas da Esquerda: desafios e perspectivas" com Douglas Barros, professor e psicanalista, Pedro Serrano, sociólogo e da Executiva Nacional do MES-PSOL, e Camila Souza, socióloga e Editora da Revista Movimento
Editorial
Israel Dutra | 06 jun 2025

06 de Junho de 2004, vinte e um anos depois

Após mais de duas décadas de existência, o PSOL se encontra em um impasse programático
06 de Junho de 2004, vinte e um anos depois
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Sem internacionalismo, não há revolução!
Conheça a nova edição da Revista Movimento! Assine a Revista!
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Conheça a nova edição da Revista Movimento! Assine a Revista!

Autores

Camila Souza