O alerta da extrema direita e o combate da esquerda socialista
Milei

O alerta da extrema direita e o combate da esquerda socialista

A questão urgente para milhões de ativistas é: como enfrentar a extrema direita?

Israel Dutra 18 dez 2023, 06:33

O respiro que o povo brasileiro teve com a derrota eleitoral de Bolsonaro parece ficar para trás quando notamos os últimos acontecimentos na situação internacional. A extrema-direita, viva e articulada, inclusive no Brasil, logra êxito e conquista postos importantes.

Basta olhar para a ofensiva contra Gaza, encabeçada pela ala direita do sionismo, e enxergar a barbárie, como aquela que Primo Levi e Hannah Arendt consideraram as maiores atrocidades na história humana, ao “banalizar o mal”. Na Argentina, Javier Milei tomou posse e já aplica seu “plano motosserra” contra o povo. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, todas as pesquisas eleitorais indicam Trump na dianteira para retornar à presidência em 2024.

A questão urgente para milhões de ativistas é: como enfrentar a extrema direita? Por um lado, as forças mais radicais e independentes da esquerda militante ainda são modestas; por outro, a centro-esquerda, os movimentos sociais amplos e mesmo os setores da burguesia liberal que se opõe às distintas agendas da extrema direita não conseguem dar respostas programáticas às maiorias sociais.

Negacionismo e barbárie

Uma das batalhas centrais contra a extrema direita é a que opõe a defesa do clima contra o negacionismo predatório. Ela se dá no terreno da disputa da terra, da violência contra os povos originários e no Brasil vivemos capítulos dramáticos dessa luta: ataques contra os direitos dos indígenas à terra com a derrubada do veto ao “marco temporal”, a violência contra quilombolas, e a consolidação do país como “supermercado do mundo”.

O controle de duas ferramentas chaves também está em disputa: a narrativa, a chamada opinião pública, onde as “big techs” jogam um papel e os dilemas da Inteligência Artificial. A barbárie também se expressa em um salto de qualidade na violência do Estado, destruindo ou diminuindo as mediações conquistadas no âmbito dos regimes democráticos; além da questão do neocolonialismo, da defesa de genocídios étnicos e do cerco aos imigrantes

Luta antifascista, dialética entre unidade e independência: um debate político

Queremos ressaltar a importância da luta antifascista a quente, combinando experiências de unidade para conter a extrema direita, inclusive no terreno eleitoral, com a necessidade de uma alternativa independente dos regimes e estruturas do capitalismo. Como isso se expressa no Brasil?

Queremos materializar uma agenda que combine a necessidade de forjar uma força social para enfrentar a extrema direita, sem perder de vista a defesa dos interesses do povo. Temos feito isso em São Paulo, onde a luta contra o governo Tarcísio e as privatizações alcançou um embate geral na sociedade. A aprovação da venda da SABESP teve um alto custo político, com prisão e violência contra manifestantes como os camaradas da UP e a perseguição à deputada Monica Seixas, do mandato das Pretas.

Contudo, a orientação fiscalista do governo federal, através do ajuste encabeçado por Haddad e pelas articulações com Lira no Congresso, provoca ataques aos trabalhadores e ao povo organizado, gerando frustração e confusão, caldo para a oposição de direita atuar e confundir.

Nossa linha é combinar a defesa da unidade de ação contra a burguesia, como expressamos na CPI do MST, com Sâmia e nossas figuras defendendo os movimentos de luta pela terra, com uma decidida crítica ao ajuste, como fizemos em temas como o arcabouço fiscal, a reforma tributária e o Novo Ensino Médio.

É necessário concretizar essa orientação em nossas táticas e oferecer nitidez programática para enfrentar os desafios do presente. O ano de 2024 trará o desafio de organizar as lutas sociais, a reflexão programática e a luta eleitoral nas cidades brasileiras. Defenderemos que o PSOL se apresente como alternativa, barrando o bolsonarismo mas mantendo o perfil de independência política. 

Tarefas e programa

Nossa luta tem de compreender, de forma ampla, diversos níveis: 

No âmbito internacional, a luta para defender Gaza, a causa palestina e isolar a política belicista do regime de Netanyahu;  unidade total para sermos solidários à oposição de esquerda à MIlei; isso se materializa na necessidade de uma ampla conferência ou encontro dos antifascistas do mundo, para marcar terreno.

No âmbito das lutas, preparar os embates de 2024, contra os governos que atacam direitos, pela prisão de Bolsonaro e seu clã, pela defesa de uma transição energética justa e solidária, reduzindo o peso do agro e ampliando a defesa da terra para quem nela vive e trabalha, a exemplo dos povos quilombolas e ribeirinhos que são perseguidos; a defesa dos direitos dos servidores públicos, do investimento em saúde e educação, em apoio aos sindicatos nacionais que representam esses setores.

E no âmbito eleitoral, sendo esse o momento para avaliar as melhores táticas para fazer avançar a luta. Há diferentes táticas em debate no interior da esquerda. De nossa parte, apresentar nitidez de nossos objetivos e de quem são nossos aliados deve ser prioridade da esquerda.

É preciso levantar, nas principais cidades, um programa efetivo de transformação, enfrentando as candidaturas da extrema direita e afirmando uma saída popular para os desafios da crise urbana, da falta de moradia, da precariedade dos transportes, da saúde e da educação pública, além do crescente empobrecimento da população. São centenas de milhares de pessoas que vagam, sem moradia e sem trabalho, pelos centros das cidades brasileiras, expostos à doença, à dependência química, à violência do crime e da repressão policial. A violência urbana será explorada demagogicamente pela extrema direita, com seus apelos falsos à “ordem” e a mais repressão, em plena cumplicidade com os verdadeiros criminosos das máfias privadas que parasitam os serviços públicos, com as milícias e com o crime organizado.

O PSOL deve começar o debate eleitoral para 2024, buscando seus objetivos táticos e programáticos, com uma premissa: afirmar uma esquerda que não teme em dizer seu nome e não se contenta em ser uma coadjuvante das forças da ordem. 


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Pedro Micussi