As tragédias anunciadas do verão
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As tragédias anunciadas do verão

A grande quantidade de mortes e destruição durante as recentes chuvas é a consequência direta de espaços urbanos marcados pela desigualdade

Israel Dutra 20 jan 2024, 13:35


Foto: Flickr / Governo do RS

O ano novo entrou com velhas tragédias. A temporada de chuvas deixou um rastro de destruição em inúmeras cidades, repetindo o mesmo padrão de caos de todos os anos e deixando um rastro de mortos, feridos e desabrigados.

Só no Rio de Janeiro, as chuvas e enchentes deixaram 12 mortos e centenas de desabrigados, com epicentro na zona norte da capital e na Baixada Fluminense. Centenas de famílias perderam tudo, várias delas não pela primeira vez, e esse drama evidenciou a total falta de capacidade dos governos carioca e fuminense tanto na prevenção das enchentes e desabamentos como na assistência social aos atingidos.

Porto Alegre teve um temporal que deixou 1, 1 milhão de habitantes sem luz. Dois dias depois da enxurrada, 220 mil moradores da capital estavam sem água enquanto a empresa privatizada de energia e o prefeito Melo (um artífice da privatização quando era deputado estadual) montavam factóides para explicar essa situação inexplicável.

São Paulo viveu um drama similar. Mais de um milhão de pessoas ficaram sem luz na maior cidade do país no final de 2023 por conta da gestão da ENEL, outra empresa privatizada de energia elétrica. E outras diversas regiões do país estão sofrendo com alertas meteorológicos que indicam novas possíveis tragédias.

Tragédias repetidas

Mas estas situações que chamamos cotidianamente de “tragédia” não tem nada do sentido de imprevisibilidade que esta palavra carrega. Estas tragédias são parte de uma plano muito bem definido nos altos escalões do poder, as consequências totalmente previsíveis de um ordenamento urbano planejado para a circulação e acumulação do capital. As privatizações, a gentrificação, a ocupação de áreas de risco, a poluição e assoreamento dos rios, entre tantas outras causas que promovem as tais tragédias de verão, são instrumentais para promover o lucro de poucos ricaços em detrimento da grande maioria trabalhadora.

E quem mais sofre com isso são as populações racializadas que são obrigadas a ocupar as mais inseguras áreas da absurdamente injusta distribuição territorial das grandes cidades. É a população negra, indígena, ribeirinha, quem mais sofre as consequências do racismo ambiental tão debatido frente à destruição causada pelas chuvas e enchentes.

É possível evitar que as chuvas torrenciais não tenham o impacto devastador sobre a vida do povo? Com qual política enfrentar esses brutais eventos climáticos? Nossa tarefa é responder com solidariedade, organização e exigência dos governantes para enfrentar de forma coletiva o drama das chuvas, respondendo ao racismo ambiental promovido pela burguesia com um programa concreto que coloque a vida na frente do lucro e o povo trabalhador na frente da minoria privilegiada.

O descaso dos governantes

Há uma trágica combinação entre o colapso ambiental geral em curso e o descaso dos governantes, omissos e despreparados para enfrentar as chuvas, na maior parte dos casos. Como já dissemos, é fato que vivemos um colapso ambiental em escala planetária, o mesmo colapso levou às mais altas temperaturas no ano de 2023, com um salto no aquecimento global. Também estamos vendo uma seca sem precedentes no Canal do Panamá que afeta diretamente a logístca do comércio internacional, chuvas devastadoras em países tão distantes quanto Argentna e África do Sul, neve como nunca vista nos Estados Unidos, secas profundas em diversos países da Ásia e África, entre outros exemplos.

Por outro lado, a falta de preparo para enfrentar tais tragédias é injustificada. O governador do Rio, Claudio Castro, recebeu críticas sobre a situação do estado estando na Disney, e no Rio Grande do Sul, o péssimo serviço de energia elétrica oferecido pela empresa privatizada, a CEEE Equatorial, repete a trilha do que se viveu em São Paulo, com a ENEL. Em Porto Alegre, o prefeito Melo se depara com protestos nos bairros pobres da cidade enquanto a empresa não consegue responder ao colapso, tal como aconteceu recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

É possível fazer diferente

Para romper o círculo trágico da falta de respostas às chuvas e enchentes, é preciso atuar em diversas esferas. No mais imediato, os governos devem buscar um fundo emergencial para recuperar e subsidiar os atingidos pelas enchentes de forma drástica, garantindo não só a dignidade imediata das famílias afetadas como também a reparação econômica a toda a população atingida.

Além disso, é necessário reestatizar as empresas prestadoras de serviço responsáveis pela situação de péssimos serviços que está instalada em diversas cidades, demonstrando os enormes problemas da privatização de serviços essenciais.

No âmbito mais amplo, é necessário combater o modelo habitacional imposto pelo mercado imobiliário cuja lógica desenvolve cidades cada vez mais excludentes e perigosas. No mesmo sentido, o debate sobre uma transição energética justa e democrática formulada a parte dos interesses dos trabalhadores é essencial para apontar um futuro possível para a maioria do povo. Na eleição de 2024 o PSOL, terá uma responsabilidade programática central na armação de tal programa em cidades importantes pelo país.

O exemplo de Porto Alegre, onde o Partido tomou a frente da crítica à omissão do prefeito Melo, articulando com o conjunto das forças da oposição, diante da situação de colapso da cidade, que teve mais de 30 protestos nos bairros atingidos na última semana.

Devemos nos preparar para uma esta realidade com a construção de um programa sólido, algo que a COP 28 – fórum máximo das autoridades ambientais – foi incapaz de sinalizar, para o desenvolvimento oi de uma transição ecológica popular. Esta tarefa será cada vez mais necessária frente à nova realidade de crise que se impõe.


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