A reorganização da igreja evangélica no Brasil
Baby das Nações, o Apocalipse e a macetada no trabalhador
Foto: Reprodução/Internet
Em evidência no Carnaval 2024, Baby – ex-Brasil e atual das Nações – profetizou que em cinco ou 10 anos estaríamos vivendo o Apocalipse. Presente no livro bússola do cristianismo, o apocalipse se apresenta como um conjunto de visões proféticas do apóstolo João, que descreve inúmeros eventos catastróficos e o retorno de Jesus à Terra para o arrebatamento. Os eventos contariam com guerras, desastres naturais, fome, doenças, perseguições e batalhas.
Participante de uma coalizão apostólica global, a cantora Baby, retornou aos palcos com o intuito evangelizar os brasileiros, e é preciso discutir esse cenário quanto à ação estratégica do capital, principalmente a relevância desse cenário.
Na perspectiva da totalidade, a Igreja se apresenta como um espaço de formulação de contentamentos, atuante de forma secular na manutenção da sociedade de classes, sua função tem sido de naturalizar as condições objetivas de vida da classe trabalhadora.
A relação da Igreja com a política é histórica, pornograficamente entrelaçada a diversos momentos da humanidade, como no regime fascista de Mussolini, que garantiu legitimidade ao Estado da Igreja (Vaticano) e estabeleceu o catolicismo como religião oficial da Itália, evitando assim choques e críticas da igreja.
Dentro das perspectivas ofertadas pela ótica da cultura hegemônica, isto é, dentro do que pode ser compartilhado e aceito no capitalismo, a coalizão cristã (internacional) tem apresentado a narrativa (ideológica) de que as crises climáticas são oriundas dos avisos divinos de final dos tempos e não da promoção da destruição de todos os recursos naturais.
Durante o Carnaval, notícias como a prisão de Valdemar Costa, apreensão do passaporte do ex-presidente Bolsonaro, da saída do Brasil da Michelle e diversas pautas levantadas pelas escolas de samba foram ofuscadas pela Baby das Nações, que contou com a contribuição de “Veveta isentona” para levar o Apocalipse para o topo de assuntos mais comentados.
Destacamos que o número de cristãos vem aumentando no país, e parte dessa ascensão se dá pelo (neo)pentecostalismo, grupo que cresceu, atuou e atua na política bolsonarista, organizado em frentes parlamentares e importantes campos de discussão social, como nos conselhos e grupos de trabalho da Educação Básica e políticas públicas sociais.
Surgida nos EUA, essa vertente religiosa converge com as necessidades da extrema direita de lá e daqui, que figura numa ideia de “herói”, de “bem acima do mal”, uma verdadeira ideologia populista e reacionária que prioriza a estigmatização de líderes e de símbolos de qualquer pensamento progressista, quiçá socialistas e comunistas.
É importante destacar que seus pilares de doutrinação são a Teologia da Prosperidade, que descreve que o sucesso financeiro é a ação de Deus na vida; e a Teologia da Dominação, que prega como condição que atravessa a nossa existência a permanente luta do bem contra o mal. Apontando um permanente movimento de expansão, inclusive avançando sobre o Carnaval, que era uma festa exclusiva dos (ditos) profanadores.
Destacamos que na Teologia da Dominação, o trabalhador é orientado sobre problemas com sua hereditariedade, ancestralidade e comunidade, isto é, caso o trabalhador viva/conviva com núcleos que são ou que foram católicos ou de religiões de matrizes africanas é apontado como benéfico para a sua vida o rompimento afetivo com esse grupo ou essa pessoa, principalmente se esta divergir da sua compreensão de conversão e de arrependimento.
Diante do exposto, apontamos que os autoproclamados escolhidos e/ou profetas estarão (cada vez em maior número) buscando crescente visibilidade das suas crenças, ampliando a capilaridade da igreja, da alienação da classe trabalhadora e a paz dos espoliadores da terra.
Os “videntes” pentecostais não são nossos aliados e é preciso ter clareza que formação ideológica da classe trabalhadora em todas as esferas precisa ser a nossa pauta mais urgente.