A tragédia do RS e seu impacto na política nacional
A crise no Rio Grande do Sul teve impacto nacional e colocou no centro do debate temas essenciais como a emergência climática e a questão da dívida
Foto: Caroline Ferraz/Sul 21
A pior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul completa um mês. Mais de meio milhão de pessoas tiveram suas vidas atingidas pela catástrofe, contabilizando 170 mortes, além de tantos desaparecidos. A responsabilidade dos governos e do modelo de desenvolvimento calcado no agronegócio é patente.
De outra parte, o movimento ao redor das demandas e reinvindicações vai se formando, com inúmeros protestos irrompendo em meio ao desastre. No sábado dia 25-05, aconteceu a primeira plenária do MAE (Movimento Atingidos pela Enchentes), conforme a reportagem do site “Catarse”.
Uma mudança na situação política nacional
A crise do Rio Grande do Sul teve impacto nacional. Enquanto a situação política caminhava para eleições em outubro, a catástrofe do RS dominou a situação. Uma situação de calamidade, urgência e decadência num dos estados mais importantes – politica e economicamente – foi acompanhada pela atenção do governo federal, da imprensa e do conjunto dos poderes.
Há três fatores com incidência nacional, de suma importância, a partir do RS:
- a excepcionalidade da situação levou a questionar pilares importantes como a dívida pública- suspensa por três anos, levando a uma contestação dos marcos mais gerais da austeridade como foi bem exposto em artigo de Maringoni e Deccache na Folha: “planos ousados de investimentos por parte do poder público são incompátiveis com medidas do arcabouço fiscal, tão ao gosto da Faria Lima”.
- um salto na consciência de massas acerca da urgência da crise climática. É urgente a implementação de medidas de prevenção que passam por um programa concreto- que chegue a milhões- com eixo no fim do desmatamento e preservação dos biomas, da reforma agrária ampla, agrosustentável e massiva, a defesa dos recursos naturais como a água nas mãos do controle público, uma transição energética justa e popular e o combate ao racismo ambiental. Isso confronta a própria linha do governo federal de insistir na exploração do petróleo, quando o mundo clama por uma mudança na matriz energética.
- Os desdobramentos no terreno das lutas no Rio Grande do Sul, onde as demandas vão impor a necessidade de lutas, solidariedade e organização; a bronca contra os governos ainda vai se desdobrar, por exemplo, diante do colpaso do prefeito Sebastião Melo, a postura de Leite colaboracionista com o agro e a depredação do meio ambiente. A polarização e a luta contra a extrema-direita vão escalar noutro patamar.
Luta política e programática
Estamos diante de uma novo cenário, onde a situação – e inclusive a decadência – do Rio Grande do Sul impõe uma agenda ao redor dos temas citados. A importância da solidariedade deve ser acompanhada da luta política e programática, pontos que são, positivamente, marcos comuns dentro do PSOL. E um impulso à auto-organização como estão se dando os primeiros passos ao redor da luta por moradia, por condições dignas e pela assistência básica diante da tragédia.
O tema ambiental vai perpassar o conjunto da situação política, ganhando centralidade no terreno eleitoral, sendo o novo capítulo de embate com a extrema direita e o bolsonarismo que busca se reagrupar, atuando sobre as debilidades do governo federal.
É fundamental, seguir construindo o movimento de solidariedade, em todas as frentes, apoiando o esforço da sociedade e do povo gaúcho. O exemplo do DCE da UFRGS, vanguarda na solidariedade ativa, deve ser acompanhado e seguido.