Mulheres estupradas não conseguem apoio legal em SP
Criança não é mãe

Mulheres estupradas não conseguem apoio legal em SP

Em fim de semana marcado por protestos, TV denuncia que viítimas precisam peregrinar por hospitais para ter direito assegurado

Tatiana Py Dutra 17 jun 2024, 09:56

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Os tentáculos fundamentalistas da extrema direita tentam legalizar a retirada do direito ao aborto legal das mulheres por meio do Projeto de Lei 1904/24 – conhecido como PL da Gravidez Infantil ou PL do Estupro -, que torna a interrupção de gestação acima de 22 semanas equivalente ao crime de homicídio (com penas mais pesadas que o próprio crime de estupro). Se a criminalização ainda não é legalizada, na prática o direito ao abortamento já não é respeitado em parte dos hospitais públicos no país.

Segundo a ONG Vivas, hoje, no Brasil, só três cidades fazem aborto legal após 22 semanas sem ordem judicial: Uberlândia, Recife e Salvador. Se considerado o aborto legal  sem restrição de semanas, só 108 cidades do país, ou 1,94% dos municípios, fazem o serviço. Na maior Capital do país, São Paulo, o procedimento é negado sob pretexto de aumentar a capacidade das unidades de saúde de fazer outras cirurgias. 

É o que acontece no Hospital Vila Nova Cachoeirinha, até então referência na cidade. Conforme reportagem da Globonews, desde dezembro do ano passado, os procedimentos foram suspensos na unidade. A Justiça determinou que o serviço fosse retomado três vezes, mas a Prefeitura recorreu. A administração municipal diz que o aborto legal é feito em outros quatro hospitais, mas ao menos duas mulheres vítimas de estupro tiveram o aborto legal negado nessas unidades – obrigando-as a peregrinar em busca de seus direitos.

A Secretaria de Saúde da prefeitura de São Paulo diz que atende às demandas de procedimentos com determinação legal em observância à legislação.

“A SMS reforça seu compromisso com o acolhimento da população sem discriminação e com responsabilidade humanitária”, diz a nota. “A SMS pontua ainda que o Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha segue em pleno funcionamento, realizando outros serviços voltados à saúde da mulher. Atualmente, em São Paulo, o programa segue disponível em quatro hospitais municipais da capital. São eles: Hospital Municipal Dr. Cármino Caricchio (Tatuapé); Hospital Municipal Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha (Campo Limpo); Hospital Municipal Tide Setúbal e Hospital Municipal e Maternidade Prof. Mário Degni (Jardim Sarah)”.

O Ministério das Mulheres afirmou “que tem acompanhado com preocupação as notícias veiculadas na imprensa sobre o fechamento do serviço de aborto legal do Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, assim como a exigência de ‘ouvir os batimentos cardíacos do feto’ – um procedimento inconstitucional e desumano que revitimiza a mulher vítima de estupro, portanto, uma violência institucional. 

Mulheres na rua

Nos últimos dias, pelo menos nove capitais brasileiras registraram protestos contra a aprovação do PL da Gravidez Infantil, em tramitação na Câmara. Ativistas e artistas também se manifestaram contra a proposta, o que enfraquece a causa fundamentalista no Congresso e aumenta a pressão para que Arthur Lira arquive o projeto. 

“Então, quer dizer, os estupradores, pelo Congresso, têm mais direitos do que as mulheres e crianças que são estupradas”, disse a cantora Daniela Mercury em rede social.

“As vítimas precisam de atendimento médico urgente, para ter acesso a medicamentos que evitem gravidez e doenças. Precisam também de apoio, se precisar interromper a gravidez decorrente do estupro”, afirmou o ator Lázaro Ramos no Instagram.

No sábado (15), a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) lançou um abaixo assinado solicitando o arquivamento do PL que equipara o aborto ao crime de homicídio. Até as 10h desta segunda, o manifesto contava com mais de 135 mil assinaturas.


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